GOLPE DOS RICAÇOS: DORIA REÚNE EMPRESÁRIOS, CENTRÃO E BOLSONARISTAS EM JANTAR PARA HOMENAGEAR MOTTA

"Hugo, você é o herói do Brasi", disse Doria em discurso a representantes da burguesia, do centrão e do governo Tarcísio ao entregar uma placa de acrílico, escancarando o embate entre a defesa de ricos e pobres no cenário político.
                                                                                                  Instagram / João Doria
João Doria no jantar em homenagem a Hugo Motta.
Por Plinio Teodoro

Após o governo acionar a Justiça contra a decisão inconstitucional do Congresso sobre o IOF ao entrar no debate de quem defende interesses de pobres e ricos, o ex-governador paulista João Doria Jr., que comanda o grupo de lobby empresarial Lide, reuniu representantes da burguesia paulista a figuras do Centrão e do bolsonarismo em sua casa, na noite desta segunda-feira (30), para prestar uma homenagem ao presidente da Câmara, Hugo Motta (PL-PB), escancarando o golpe dos ricaços em curso.

"Hugo tem se revelado uma grande liderança, dedicado às causas do Brasil. O empresariado aplaude sua postura, equilíbrio e firmeza. O País espera gestões públicas eficientes e comprometidas com o controle fiscal. Parabéns Hugo Motta", escreveu o ex-governador tucano de São Paulo em suas redes sociais em uma foto ao lado de Motta.

No discurso aos endinheirados, Doria disse que ao conduzir o levante para derrubar a mudança proposta pelo governo Lula no Imposto sobre Operações financeiras - que passaria de 1,1% para 3,5%, quando no governo Jair Bolsonaro (PL) era de 6,38% -, Motta se tornou "o herói do Brasil".

"Ao longo desta semana, houve um movimento crucial para a vida do país, liderado pelo Hugo Motta. Ele fez a defesa de um princípio que atende todo o Brasil. Ele se colocou e convenceu seus colegas da Câmara e do Senado de que a decisão tomada não era contra o presidente Lula, mas sim uma decisão a favor do Brasil. Eu mandei uma mensagem pra ele essa semana e agora reafirmo: Hugo, você é o herói do Brasi", disse Doria, escancarando que fez lobby para a ação de Motta, que deu início ao plano da Terceira Via e dos bolsonaristas para "sangrar" com vistas a 2026.

Ao receber uma plaquinha de acrílico das mãos de João Doria Neto, sucessor do pai na máquina lobista do grupo Lide, Motta selou o compromisso ao "reafirmar a certeza de que vamos seguir juntos trabalhando pelo país, focando em pautas importantes e saindo de discussões infrutíferas".

"A votação da última semana foi um retrato de um Parlamento muito aguerrido, pronto para fazer um enfrentamento a favor do país", disse o presidente da Câmara, que instalou uma série de pautas-bomba em favor dos endinheirados e contra as pautas sociais do governo Lula, que é pressionado a cortar investimentos na saúde, educação, em programas sociais como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, e no aumento real do salário mínimo e da aposentadoria.

O regabofe promovido por Doria reuniu figuras como o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Antonio Alban, o Secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo e ex-ministro da Fazenda de Lula, Henrique Meirelles, que atua como lobista do sistema financeiro, além de um grupo de empresários ligados ao Lide.

Na seara política, o governador paulista Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), desafeto de Doria, estava representado pelo vice, Felício Ramuth (PSD), e pelo assessor especial, Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o ex-governador Rodrigo Garcia também estavam presentes.

Embate com Lula e Haddad

Na tarde desta segunda-feira, o presidente Lula decidiu entrar de vez na disputa judicial contra a ofensiva do centrão e bolsonaristas na Câmara dos Deputados. A Advocacia-Geral da União (AGU) já finalizou a ação contra a derrubada das mudanças no IOF pelo Congresso e deve protocolar o pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (1º).

Na prática, ao anular o aumento do IOF, o Congresso impede que os mais ricos paguem mais impostos e empurra o governo a buscar alternativas para fechar as contas públicas e cumprir o arcabouço fiscal – o que pode significar cortes em áreas sociais.

Na semana passada, Lula já havia ordenado à AGU que elaborasse a ação com base em pareceres técnicos que apontam violação de prerrogativas constitucionais do Executivo. Pela Constituição, cabe ao presidente da República editar decretos para regular tributos como o IOF – e o governo entende que o Congresso extrapolou sua competência ao derrubar a medida sem comprovar qualquer ilegalidade.

Segundo ministros próximos, Lula ficou especialmente irritado com a postura de Hugo Motta, que anunciou a votação do decreto de última hora, ignorou apelos de lideranças governistas e não atendeu ligações da ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Paralelamente, o STF já analisa outra ação sobre o tema. O PSOL ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) para invalidar a derrubada do decreto, também sustentando que o Congresso avançou sobre competência exclusiva do Executivo. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, decidiu que o ministro Alexandre de Moraes será o relator tanto do processo do PSOL quanto de eventuais novos recursos que tratem do mesmo assunto.

Haddad manda recado

Durante o lançamento do Plano Safra para Agricultura Familiar 2025/26, nesta segunda, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aproveitou o evento ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para responder ao presidente da Câmara e ao centrão, que articularam a derrubada do decreto do IOF no Congresso.

"Bolsonaro agora fica com esse papo de aumento de imposto. Deixa eu falar para vocês qual é o aumento mais cruel de imposto que o presidente pode fazer: ele [Bolsonaro] ficou os quatro anos do mandato dele sem reajustar a tabela do Imposto de Renda. Sabe o que isso significa? Que quando um trabalhador, que teve um aumento apenas pela inflação, passa a faixa de isenção de imposto de renda, ele passa a pagar imposto de renda ganhando a mesma coisa, simplesmente por causa da crueldade de congelar a tabela de isenção como ele fez durante quatro longos e tristes anos do Brasil”, disse.

Em seguida, reforçou. "Agora o Congresso, atendendo um pedido seu, colocou a faixa de isenção em dois salários mínimos, ou seja, acima de R$ 3 mil, contra R$ 1.900 da época dele [Bolsonaro]. São 10 milhões de brasileiros que deixaram de pagar imposto de renda. E, se o seu projeto for aprovado este ano, serão mais 10 milhões de brasileiros que deixarão de pagar imposto e outros 5 milhões que ganham entre 5 e 7 mil por mês vão pagar menos do que pagam hoje".

Haddad concluiu com um recado direto. “Qual é a moral desse senhor [Bolsonaro] para falar de aumento de imposto? Por que nós estamos fechando brechas para o andar de cima pagar? Isso nós vamos continuar fazendo. Nós vamos fechar todas as brechas que são criadas por jabutis... No Brasil, o jabuti é órfão de pai e mãe, ninguém assume a paternidade do jabuti quando aparece numa lei, e geralmente é para favorecer um grande empresário... isso [fechar as brechas] não é aumento de imposto, é ter o mínimo de respeito pelo trabalhador que paga as suas contas com o Estado em dia".

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