MULÇUMANO E SOCIALISTA, NOVO PREFEITO DE NOVA YORK PROMETE TAXAR BILIONÁRIOS E OFERECER SERVIÇOS PÚBLICOS GRATUITOS

Donald Trump demonstrou irritação com a eleição de Zohran Mamdani, chamou o novo prefeito de Nova York de “comunista” e ameaçou cortar verbas federais destinadas à cidade. Bilionários de diversas correntes políticas se uniram para tentar impedir a eleição de Mamdani, mas os esforços não foram suficientes

Zohran Mamdani (Bloomberg)

Por Ana Oliveira e Felipe Borges

Nova York terá, pela primeira vez na história, um prefeito muçulmano. O socialista democrático Zohran Mamdani, de 33 anos, venceu nesta terça-feira (4) a disputa pela prefeitura da maior cidade dos Estados Unidos, derrotando o ex-governador Andrew Cuomo por mais de oito pontos percentuais. A vitória representa uma guinada política em uma metrópole marcada por desigualdades profundas e pelo peso da elite financeira global.

Com 91% das urnas apuradas, Mamdani somava 1.036.051 votos, contra cerca de 850 mil de Cuomo. Segundo registros oficiais, é o maior número de votos recebidos por um candidato à prefeitura nova-iorquina desde 1965. A Associated Press declarou o resultado apenas 34 minutos após o fechamento das urnas, quando a vantagem de Mamdani já se mostrava irreversível.

Em um discurso enérgico no Brooklyn, o prefeito eleito situou sua vitória como um gesto de resistência ao governo do republicano Donald Trump. “Se há alguma forma de aterrorizar um déspota, é desmantelando as condições que o tornaram poderoso”, afirmou Mamdani. “Não é apenas assim que paramos Trump, é assim que paramos o próximo.”

Dirigindo-se diretamente ao presidente, concluiu com provocação: “Donald Trump, já que sei que está assistindo, tenho quatro palavras para você: turn the volume up” — expressão equivalente a “fique esperto”.

Trump reage com irritação e ameaça cortar verbas

A vitória de Mamdani causou irritação imediata em Donald Trump, que o chamou de “comunista” e ameaçou cortar verbas federais destinadas à cidade de Nova York. Em postagens na plataforma Truth Social, o presidente declarou que o novo prefeito “representa o socialismo mais radical já visto em território americano”.

Durante a campanha, Trump havia expressado apoio informal a Andrew Cuomo — a quem se referiu, em tom sarcástico, como “um democrata ruim, mas melhor que um comunista”.

O bilionário Elon Musk também interveio nos dias finais da disputa, pedindo votos para Cuomo em sua rede social X (antigo Twitter). “Tenham em mente que um voto em Curtis é um voto em Mumdumi, ou seja lá qual for o nome dele. Votem em Cuomo!”, escreveu Musk, em referência a Curtis Sliwa, candidato republicano que acabou ofuscado pela polarização entre Cuomo e Mamdani.

Um programa ambicioso para redistribuir riqueza

Ao longo da campanha, Mamdani apresentou um programa ousado de redistribuição de renda, centrado na ideia de que Nova York só será uma cidade justa se seus recursos forem melhor repartidos. Entre suas principais promessas estão:

— Serviço de creche gratuito e universal;
— Gratuidade nos ônibus do transporte público;
— Congelamento dos aluguéis;
— Construção de moradias economicamente acessíveis;
— Criação de mercados municipais com produtos a preços reduzidos.

Para financiar as medidas, o prefeito eleito elaborou um plano de arrecadação de US$ 10 bilhões, que inclui aumento do imposto corporativo estadual (US$ 5 bilhões) e um novo tributo municipal sobre rendas superiores a US$ 1 milhão anuais (US$ 4 bilhões).

“Se queremos uma cidade que funcione para todos, os bilionários terão de contribuir mais. Eles têm prosperado às custas do nosso esforço coletivo”, declarou Mamdani em debate televisionado.

Bilionários contra Mamdani

A vitória de Mamdani contrariou uma poderosa coalizão de financiadores. Bilionários próximos de Trump e do setor financeiro injetaram cerca de US$ 40 milhões em super PACs que apoiavam Cuomo e tentavam minar a candidatura socialista.

Entre os principais doadores estavam o gestor de fundos Bill Ackman, o ex-prefeito Michael Bloomberg e o cofundador da Airbnb Joe Gebbia. Bloomberg, cuja fortuna é estimada em mais de US$ 100 bilhões, doou sozinho US$ 1,5 milhão ao comitê “Fix the City”, principal grupo de apoio a Cuomo.

Mamdani ironizou o conluio bilionário após o anúncio da vitória: “Parabéns, Andrew Cuomo. Sei o quanto você trabalhou duro para isso.”
Mobilização popular e recorde de participação

A eleição foi marcada por uma participação recorde. Mais de 2 milhões de nova-iorquinos compareceram às urnas — o maior número desde 1969. Durante o período de nove dias de votação antecipada, 735 mil eleitores já haviam registrado seus votos, quatro vezes mais que na eleição de 2021.

O envolvimento das comunidades imigrantes, trabalhadores sindicalizados e jovens progressistas foi decisivo. Mamdani, que é filho de imigrantes ugandenses de origem indiana, construiu sua base política em bairros como Queens e Brooklyn, onde liderou campanhas locais contra despejos e aumentos abusivos de aluguel.

Um novo rumo para Nova York

Em seu discurso de vitória, o prefeito eleito prometeu enfrentar o poder das grandes corporações e dos especuladores imobiliários.

“Vamos congelar os aluguéis, responsabilizar os proprietários e acabar com a cultura de corrupção que protege a elite bilionária. Quando os trabalhadores têm direitos férreos, os patrões que os exploram encolhem de tamanho.”

Zohran Mamdani tomará posse em 1º de janeiro de 2026, prometendo transformar Nova York em um laboratório de políticas públicas progressistas — uma cidade onde “a dignidade não dependa da renda”.

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