SEM RESISTÊNCIA, TRATADO DO ALTO-MAR APROVADO EM COMISSÃO DO SENADO

Por: Oceana

O TEMA: Proteger habitats

    

Assinado pelo Brasil desde 2023, o Tratado ainda precisa ser aprovado no plenário do Senado e sancionado pelo presidente Lula. Sem ratificação, país ficou de fora de reunião dos países parte desse acordo durante Assembleia da ONU

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado aprovou, hoje (25/9), o Tratado do Alto-Mar, que busca proteger e garantir o uso sustentável da biodiversidade marinha nas áreas fora da jurisdição nacional dos países.

Desde a última sexta-feira (19/9) ocorre a contagem de 120 dias para o início da vigência do acordo, que possui até o momento 71 países membros. O Brasil, no entanto, apesar de ter assinado esse Tratado em 2023, ainda precisa ratificá-lo. Para isso acontecer, após a aprovação na CRE hoje, esse acordo internacional, de caráter vinculante, precisa ser aprovado no plenário do Senado e, na sequência, ser sancionado pelo presidente Lula.

Durante a votação na CRE, foi feito um pedido de urgência para a análise do Tratado em plenário, também aprovado na Comissão.

Devido à demora na ratificação do acordo, o Brasil perdeu a oportunidade de participar da reunião dos países que já validaram o Tratado em seus territórios nacionais, que ocorreu em paralelo à Assembleia Geral das Organizações Unidas (ONU), em Nova Iorque, nesta terça-feira (23/9).

No início do mês (10/9), a Embaixada da França chegou a enviar uma carta ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), pedindo o avanço da tramitação no parlamento.

Para o diretor-geral da Oceana, Ademilson Zamboni, “como liderança internacional que atuou ativamente durante as negociações e país com uma das maiores costas oceânicas do mundo, o Brasil precisa ratificar logo o Tratado do Alto-Mar. Esperamos que o Senado priorize sua aprovação e que após isso, imediatamente, o presidente Lula sancione o acordo, cumprindo o compromisso firmado em junho na França, durante a UNOC 3 [3a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Oceano]”.

O Tratado

O alto-mar é um bem comum global – pertence a todos e a ninguém ao mesmo tempo – e cobre quase metade da superfície da terra. É usufruto de todos, mas carece de governança e enfrenta problemas como sobrepesca, poluição sonora e de plásticos, além de sofrer os impactos diretos das mudanças climáticas.

Também conhecido como Acordo sobre Biodiversidade Marinha Além da Jurisdição Nacional (BBNJ, na sigla em inglês), o Tratado visa preencher lacunas deixadas por outros instrumentos internacionais, como a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) e Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), ambos já ratificados pelo Brasil.

Essas lacunas englobam a gestão dos recursos genéticos marinhos e partilha justa e equitativa dos seus benefícios, de avaliações de impacto ambiental, capacitação e transferência de tecnologia marinha e criação de áreas marinhas protegidas. Sua ratificação contribui ainda para o alcance da meta 30×30 da CDB de proteger pelo menos 30% dos oceanos até 2030.

Segundo avaliação da cientista-chefe da Oceana, Katie Matthews, a validação do acordo dará segurança jurídica para a proteção da biodiversidade marinha das águas internacionais. Mas, para isso, “é preciso que os países passem rapidamente da ratificação à implementação na prática. Se os líderes mundiais realmente levam a sério a proteção de 30% do oceano até 2030, isso exige ações ambiciosas em alto-mar”, afirmou.

Áreas de Proteção Marinha

Países que ratificaram o acordo, como Bélgica e Chile, já apresentaram propostas para sediar o secretariado do BBNJ. O Chile incluiu em sua candidatura uma proposta concreta para estabelecer a primeira Área Marinha Protegida no alto-mar sob a égide do Tratado: as cadeias de montanhas subaquáticas de Salas y Gómez e de Nazca. Essas áreas têm sido foco de diversas pesquisas que, em recentes expedições, descobriram 170 novas espécies marinhas, sendo, portanto, consideradas uma prioridade de conservação. A Oceana e outras organizações apoiam a criação dessa primeira área protegida do alto-mar.


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