DE BRASÍLIA A LONDRINA: A INDÚSTRIA DAS BIG TECHS TRANSFORMA CRIANÇAS EM LUCRO




A Meta se alia a extrema direita para lucrar com o enfraquecimento do projeto de lei PL que protege crianças nas plataformas digitais

A Meta se alia a extrema direita para lucrar com o enfraquecimento do projeto de lei PL que protege crianças nas plataformas digitais.

Youtuber recruta crianças na porta das escolas públicas para explorar suas imagens na internet, enquanto a extrema direita se alia à Meta para enfraquecer políticas de proteção à infância no ambiente digital.

O Intercept revelou que um executivo da Meta foi o verdadeiro autor de emendas apresentadas pelo deputado Fernando Máximo, do União Brasil de Rondônia, ao PL 2628, aprovado pelo Senado no final de 2024, com apoio de diversas entidades de proteção à infância, e enviado à Câmara dos Deputados.

As alterações buscavam livrar as plataformas da obrigação de divulgar relatórios de moderação e, mais grave, eliminar a possibilidade de multas e sanções criminais. Nada disso aparece com a assinatura da big tech — revelamos a autoria investigando os metadados dos arquivos disponíveis no site da Câmara.

Em vez de propor uma regulamentação eficaz contra o modelo de negócio baseado na coleta massiva de dados e no mercado de atenção das big techs, deputados da extrema direita ajudam no serviço ao encher o Congresso de propostas que enxugam gelo.

Afinal, contrariar big techs vai contra o projeto de poder deles: usar uma falsa narrativa de censura nas redes sociais para atacar instituições democráticas, conseguir apoio de suas bases, deixar os golpistas saírem impunes e articular novamente uma tentativa de golpe no Brasil.

Em português claro: eles estão tentando despolitizar a questão da exploração infantil e desvinculá-la da necessidade de regular as big techs.
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Enquanto isso, longe de Brasília e perto demais de alvos vulneráveis, o YouTube continua sendo palco para a exploração comercial de crianças.

Outra investigação do Intercept mostrou como João Caetano, youtuber e dono da produtora Dreams, transforma alunos de uma escola pública de Londrina em personagens de reality shows.

Professores relatam queda no rendimento, problemas de saúde mental e constrangimento público. “Eu só quero que lembrem que eu sou um aluno normal”, disse um adolescente, chorando, a uma funcionária que conversou com a nossa reportagem.

O glamour e o dinheiro fácil são parte da armadilha. Um dos meninos mostrou prints de transferências bancárias a colegas, enquanto gravava até às três da madrugada para o canal — sem entregar trabalhos nem fazer provas.

Após a denúncia do influenciador Felca sobre a “adultização” de menores ter ganho expressão nacional, 213 vídeos no canal de Caetano foram apagados às pressas. Mas o problema não se apaga com o botão. A monetização continua, com assinaturas que podem chegar a R$ 999 mensais, e as regras do YouTube são aplicadas de forma opaca, sem garantir proteção real aos menores.

E o Congresso correu para mostrar serviço, criando mais de 30 PL inspirados no conteúdo do Felca. Mas, como mostramos, foi só uma tentativa barata de surfar a onda. Enquanto critica a adultização em público, a extrema direita apresentou na surdina emendas em bloco para afrouxar o projeto mais avançado que pode proteger crianças na internet.

Há um elo perverso ligando o que acontece nos corredores do Congresso e nos portões das escolas. Quando lobistas de big techs afrouxam regras e parlamentares fazem coro, deixam o caminho livre para que criadores de conteúdo explorem crianças sem medo de punição. E quando a lei falha, a lógica do lucro fala mais alto.

O que está em jogo não é apenas o que nossas crianças veem nas redes, mas o que as big techs e seus agentes vêem nelas: uma fila inesgotável de iscas, audiência, engajamento e principalmente: de dinheiro.

A pergunta que fica é: quem, de fato, está disposto a protegê-las?.






GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

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