BRICS LANÇA SEU PRÓPRIO 'PIX' PARA DERRUBAR DEPENDÊNCIA

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                                                RICARDO STUCKERT/PR

O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul acelera a criação de uma plataforma própria de liquidação financeira, chamada BRICS Pay, que tem como objetivo diminuir o uso do dólar nas transações internacionais entre seus membros. A iniciativa é vista como um dos movimentos mais ambiciosos do grupo para reforçar sua posição no comércio global e reduzir vulnerabilidades a sanções impostas por potências ocidentais.

O que é o BRICS Pay

O BRICS Pay é concebido como um sistema de mensagens e liquidação financeira descentralizado. Ele funcionaria como um canal seguro que permite a realização de pagamentos internacionais diretamente nas moedas locais dos países membros — como real, yuan, rúpia, rublo e rand.


Inspirado em modelos já utilizados pela China e pela Rússia, o sistema busca interligar os bancos centrais e instituições financeiras do bloco, permitindo que empresas realizem exportações e importações sem a necessidade de conversão para o dólar ou o euro.

Diferentemente de uma moeda única, que ainda permanece como hipótese em discussões teóricas, a proposta concentra-se em facilitar o uso prático e integrado das moedas nacionais.

Motivações para reduzir o uso do dólar


Desde a Segunda Guerra Mundial, o dólar consolidou-se como a principal moeda de referência no comércio internacional, respondendo atualmente por cerca de 84% das transações globais. Esse domínio garante aos Estados Unidos vantagens estratégicas e a capacidade de aplicar sanções financeiras que podem excluir países de sistemas como o SWIFT.

Para o BRICS, a dependência dessa estrutura representa risco político e econômico. A conversão cambial para o dólar também eleva custos de operação e reduz a competitividade de exportações, especialmente em momentos de instabilidade.

Avanços recentes

Na cúpula realizada em julho de 2025, os líderes do bloco reafirmaram a intenção de acelerar o desenvolvimento do sistema. China e Rússia, que já possuem alternativas nacionais ao SWIFT, lideram a fase inicial de testes. O Brasil sinalizou adesão, especialmente visando expandir exportações de produtos agrícolas e energéticos.

Países recém-ingressos, como Egito e Emirados Árabes Unidos, também podem se beneficiar da integração, ampliando a rede de comércio sem depender do dólar.

Impactos para o Brasil


A adesão ao BRICS Pay pode trazer ganhos relevantes para o comércio exterior brasileiro:

Redução de custos cambiais: exportadores poderiam receber diretamente em moedas como yuan ou rúpia, convertendo para reais com menor perda.

Diversificação de mercados: a ferramenta pode facilitar negociações com parceiros como Irã e Emirados Árabes, que importam grandes volumes de alimentos e combustíveis.

Fortalecimento da autonomia econômica: ao reduzir a exposição ao dólar, o Brasil pode atenuar riscos associados a disputas comerciais ou sanções.

Desafios do projeto

Especialistas apontam obstáculos importantes para a implementação do sistema:

Necessidade de infraestrutura tecnológica robusta para garantir segurança e rapidez.

Risco de volatilidade cambial, já que moedas de países emergentes apresentam maior instabilidade.

Confiança e adesão do setor privado, que exigem tempo e resultados concretos.

Pressões geopolíticas externas, com possível reação dos EUA e da União Europeia.

Perspectivas e cenários futuros

Economistas avaliam que, caso seja consolidado, o BRICS Pay pode representar a maior mudança no comércio internacional desde a criação do euro. Projeções otimistas indicam que até 2030 o sistema poderia movimentar centenas de bilhões de dólares em transações anuais — sem usar a moeda americana.

Por outro lado, se enfrentar resistência interna ou falhas técnicas, a iniciativa pode se restringir a acordos bilaterais entre poucos países, perdendo relevância global.

Conclusão

O BRICS Pay surge como uma aposta estratégica do bloco para reduzir a hegemonia do dólar e criar maior resiliência financeira no Sul Global. Para o Brasil, a plataforma representa a possibilidade de ampliar mercados, reduzir custos e reforçar a soberania econômica. O êxito, porém, dependerá da cooperação entre os membros, da superação de barreiras técnicas e da capacidade de enfrentar resistências geopolíticas.

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