OS LIVROS MAIS VENDIDOS DA HISTÓRIA E COMO ELES TRANSFORMARAM SOCIEDADES

Falar sobre os livros mais vendidos de todos os tempos é, inevitavelmente, falar sobre religião, revolução, sistemas de crença e, com uma frequência quase cômica, fábulas espirituais travestidas de autoajuda. O que mais vendeu, vendeu por um motivo: porque chegou às mãos certas na hora exata. Porque disse a uma sociedade, com todas as letras, o que essa sociedade queria ouvir — ou precisava acreditar.

Esta não é uma lista dos melhores livros da história. É uma lista dos mais lidos, mais comprados, mais distribuídos, mais empurrados e mais desejados — em alguns casos, tudo ao mesmo tempo. Ela reúne deuses, feiticeiras, pastores andaluzes, mistérios e heróis improváveis que, de uma maneira ou de outra, capturaram o espírito de sua época (ou manipularam magistralmente o mercado editorial). São quinze títulos que ajudaram a construir civilizações — ou a vendê-las muito bem.

1. A Bíblia

Com mais de 5 bilhões de cópias vendidas e distribuídas, a Bíblia é o livro mais lido, traduzido e impresso da história. Composta por dezenas de textos escritos ao longo de séculos, em diferentes idiomas e por múltiplos autores, é considerada sagrada por cristãos, judeus e, em parte, por muçulmanos. Mais do que um texto religioso, a Bíblia moldou literaturas nacionais, códigos legais e imaginários coletivos ao redor do mundo. Estima-se que exista pelo menos uma tradução parcial dela em mais de 3.500 idiomas e dialetos, tornando-a a obra com maior alcance linguístico da história.

2. O Pequeno Livro Vermelho – Mao Tsé-Tung

Também conhecido como Citações do Presidente Mao, o Pequeno Livro Vermelho reúne falas e ensinamentos do líder chinês Mao Tsé-Tung, e foi publicado em massa durante a Revolução Cultural na China. Entre as décadas de 1960 e 1970, tornou-se leitura obrigatória para milhões de chineses. Com mais de 1 bilhão de cópias distribuídas, a obra teve impacto tanto político quanto simbólico: era tanto um instrumento ideológico quanto um objeto de culto. Hoje, permanece como um símbolo do poder da propaganda e do papel do livro como ferramenta de massa.

3. O Alcorão

Texto sagrado do Islã, o Alcorão (ou Qur’an) é considerado pelos muçulmanos a revelação final de Deus ao profeta Maomé. Escrita em árabe clássico, a obra é recitada, memorizada e estudada por milhões de fiéis ao redor do mundo. Embora traduções sejam amplamente consultadas, muitos muçulmanos só consideram o texto sagrado em sua versão original em árabe. Estima-se que já tenham sido produzidas mais de 800 milhões de cópias, com uma circulação que rivaliza com a Bíblia em certos contextos culturais e geográficos.

4. Dom Quixote – Miguel de Cervantes

Publicado pela primeira vez em 1605, Dom Quixote é muitas vezes chamado de primeiro romance moderno. A obra-prima de Cervantes já vendeu cerca de 500 milhões de cópias e é uma das mais influentes da história da literatura. A história do fidalgo que enlouquece de tanto ler romances de cavalaria e decide viver suas próprias aventuras satiriza os próprios excessos da ficção e, paradoxalmente, se transforma em uma das maiores narrativas ficcionais já escritas.

5. Um Conto de Duas Cidades – Charles Dickens

Ambientado na Londres e Paris do século XVIII, durante a Revolução Francesa, Um Conto de Duas Cidades é o romance histórico mais vendido da história: estima-se que já tenha ultrapassado 200 milhões de cópias desde sua publicação, em 1859. Com sua célebre frase de abertura — “Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos…” —, o livro explora temas como redenção, sacrifício e os extremos da natureza humana em tempos de crise social.

6. O Senhor dos Anéis – J.R.R. Tolkien

A trilogia escrita por Tolkien redefiniu a literatura fantástica do século XX, efetivamente criou o gênero “Fantasia” na literatura, e é responsável por um dos universos ficcionais mais detalhados e cultuados da história. Desde sua publicação, O Senhor dos Anéis já vendeu mais de 150 milhões de exemplares. Publicada originalmente entre 1954 e 1955, a obra narra a luta do bem contra o mal em um mundo fictício ricamente elaborado. Sua influência é visível não apenas na literatura, mas também no cinema, nos jogos e na cultura pop.

7. O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry

Com mais de 140 milhões de cópias vendidas, O Pequeno Príncipe é o livro não religioso e não político mais traduzido do mundo, com versões em mais de 500 idiomas e dialetos. Publicado em 1943, o conto filosófico de Saint-Exupéry mistura poesia, reflexão existencial e crítica ao mundo adulto sob a forma de uma fábula. É um livro curto, mas inesgotável — lido tanto por crianças quanto por adultos, em todas as idades da alma.

8. Harry Potter e a Pedra Filosofal – J.K. Rowling

O primeiro volume da saga Harry Potter já vendeu mais de 120 milhões de cópias desde sua publicação em 1997, lançando uma das maiores franquias literárias e cinematográficas de todos os tempos. A história do garoto órfão que descobre ser um bruxo conquistou leitores de todas as idades e ajudou a revigorar o hábito de leitura entre jovens no mundo inteiro. Hoje, o universo mágico criado por J.K. Rowling se tornou uma das marcas culturais mais reconhecidas globalmente.

9. E Não Sobrou Nenhum – Agatha Christie

Considerado o romance policial mais vendido de todos os tempos, E Não Sobrou Nenhum (originalmente publicado como Ten Little Niggers, depois Ten Little Indians, ambos títulos hoje rejeitados por suas conotações imensamente racistas) já ultrapassou 100 milhões de cópias. A trama, que reúne dez estranhos em uma ilha isolada, onde começam a morrer um a um, é um exemplo máximo da arquitetura narrativa de Agatha Christie, com suspense, ritmo impecável e um final chocante. É considerado o maior livro de mistério da História.

10. O Hobbit – J.R.R. Tolkien

Publicado em 1937, O Hobbit já vendeu mais de 100 milhões de cópias e pode ser considerado o prelúdio da saga O Senhor dos Anéis. A história de Bilbo Bolseiro é, ao mesmo tempo, uma aventura clássica e uma iniciação ao universo mitológico da Terra Média. Com linguagem mais acessível e tom mais leve, o livro é frequentemente a porta de entrada para o mundo de Tolkien — mas, por si só, já representa uma das maiores contribuições à literatura infantojuvenil do século XX.

11. O Sonho da Câmara Vermelha – Cao Xueqin

Uma das obras-primas da literatura chinesa e um dos grandes clássicos mundiais, O Sonho da Câmara Vermelha foi escrito no século XVIII e explora em profundidade a decadência de uma família aristocrática. Estima-se que o romance já tenha vendido mais de 100 milhões de cópias, com traduções para dezenas de idiomas. É frequentemente comparado a Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, por sua riqueza de observações psicológicas e socioculturais.

12. Ela, a Feiticeira – H. Rider Haggard

Publicado em 1887, Ela é um dos romances de aventura mais populares da era vitoriana. A história de uma mulher imortal, poderosa e misteriosa cativou leitores em todo o mundo, atingindo mais de 100 milhões de exemplares vendidos. Combina misticismo, exotismo colonial e elementos góticos — e influenciou tanto a literatura fantástica quanto o imaginário de poder feminino na ficção.

13. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa – C.S. Lewis

Mais famoso livro da série As Crônicas de Nárnia, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa já vendeu cerca de 85 milhões de cópias. Publicado em 1950, tornou-se um clássico infantojuvenil por excelência. A história mistura fantasia, alegoria cristã e encantamento literário em uma narrativa sobre coragem, sacrifício e redenção — conduzida por crianças que atravessam um guarda-roupa e entram num mundo onde animais falam e o bem e o mal se enfrentam em campo aberto.

14. O Código Da Vinci – Dan Brown

Publicado em 2003, O Código Da Vinci é um dos maiores best-sellers contemporâneos, com mais de 80 milhões de cópias vendidas. Misturando história da arte, conspirações religiosas e enigmas simbólicos, o romance protagonizado por Robert Langdon tornou-se um fenômeno cultural. Apesar das polêmicas e críticas, o livro gerou debates internacionais, inspirou adaptações cinematográficas e consolidou Dan Brown como um dos autores mais populares do século XXI.

15. O Alquimista – Paulo Coelho

Publicado originalmente em 1988, O Alquimista é o livro brasileiro mais vendido de todos os tempos, com estimativas que ultrapassam os 65 milhões de cópias em mais de 80 idiomas. A fábula do pastor Santiago em busca de seu “tesouro pessoal” se tornou um fenômeno global, especialmente popular na América Latina, Europa e Oriente Médio. Com linguagem acessível e mensagem espiritual, o livro transformou Paulo Coelho em um dos escritores mais lidos do planeta.

Clarissa Desterro

Graduanda de História na Universidade Federal do Amazonas, criadora da página @Behindherglasses_ no Instagram e colaboradora do Jornal Jota, jornal digital de literatura, artes e cultura.

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