''EXALA UM CHEIRO TÍPICO': ESTUDANTE DA UFRGS É INVESTIGADO POR RACISMO

Aluno branco do doutorado em Filosofia da UFRGS enviou uma série de mensagens de cunho racista à namorada de jovem negro que estuda Políticas Públicas na mesma instituição

O casal Amanda e Sérgio (esq); Álvaro Hauschild (centro)

A Polícia Civil investiga um caso de racismo envolvendo dois estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Um aluno de doutorado em Filosofia, de 29 anos, teria dito que negros exalam um “cheiro típico”, segundo a queixa feita à polícia.

Álvaro Hauschild teria enviado mensagens para a namorada de Sérgio Renato da Silva Júnior, estudante de Políticas Públicas na universidade. Amanda Klimick recebeu as mensagens racistas pelas redes sociais, falando sobre Sérgio.

Nas mensagens, Álvaro afirma que a mulher “merece coisa melhor”, e faz afirmações como a de que os negros possuem características genéticas diferentes, e ‘exalam cheiro típico’.

“Pensa que assim como no gene o negro é dominante, ele também exala um cheiro típico, libera substâncias no ambiente e na troca com parceiros. Por isso, os europeus são protetores, ‘patriarcais’, porque se não fosse isso eles perderiam potencialmente a etnia”, escreveu Álvaro.

“As mulheres sempre foram muito protegidas contra influências de estranhos, sobretudo negros”, disse o doutorando em Filosofia. As mensagens foram enviadas no dia 29 de setembro.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Combate à Intolerância, em Porto Alegre. A delegada Andréa Mattos já ouviu Sérgio e Amanda. Nesta semana, Álvaro deve ser ouvido. A delegada revelou que o estudante tem antecedentes por injúria, perturbação da tranquilidade e perseguição.

O que diz Álvaro

Álvaro Hauschild alegou que está sendo vítima de “uma enxurrada de fake news” e disse que pretende buscar assessoramento jurídico. Ao ser questionado sobre a afirmação de que negros “exalam um cheiro típico”, Álvaro disse que “não há a menor carga de racismo ou injúria” nessa declaração e que “deve esse debate às autoridades”.

“Não sou um demônio, não sou racista e não cometi crime. É por isso que ao invés de simplesmente processar eles quiseram usar de meios mais cruéis para fazer de mim um demônio em sociedade. (…) Isso é criminoso, de má fé, algo muito pior que simplesmente chamar alguém de ‘homúnculo’, como o rapaz está dizendo que foi chamado”, disse.

O que dizem Amanda e Sérgio

De acordo com Sérgio, a primeira impressão do casal é que seria um flerte. Depois, acreditaram que poderia ser uma crítica política ao posicionamento ideológico dele, que se define como um progressista nas questões sociais mas ortodoxo na economia. Porém, ao citar alguns termos específicos, como “pura” e “inocente”, eles suspeitaram que o cunho era racista.

“Como trabalho a questão racial há algum tempo, fez com que tivesse uma associação instantânea a palavras de cunho nazista. Acho que tem uma questão racial”, afirma Sérgio.

“Preciso ter certeza que este é um cidadão racista. Não vou perder meu tempo para dizer que é injúria racial. Mas se afetou toda uma comunidade, é meu dever como negro seguir com isso até o final”, explica Sérgio.

“A minha intenção ao combater o racismo e ir com essa história até o final, além de servir de exemplo para muitos negros, estou procurando justiça. Mas eu tenho ciência de que eu não estou combatendo o racismo. O racismo será combatido quando nós negros tivermos a capacidade de tomar espaços dentro da esfera de poder brasileira, seja no setor público, seja no setor privado, seja na política”, assinala o estudante de políticas públicas.




https://www.pragmatismopolitico.com.br/

GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

Postar um comentário

0 Comentários