DREX PERDE FORÇA: BANCO CENTRAL RECUA E PROJETO DE MOEDA DIGITAL VIRA INFRAESTRUTURA

Redação

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O projeto Drex, anunciado pelo Banco Central em 2023 como a moeda digital que revolucionaria o sistema financeiro brasileiro, perdeu seu brilho inicial e agora enfrenta incertezas sobre seu propósito e implementação. Inicialmente apresentado como uma Central Bank Digital Currency (CBDC) inovadora, baseada em blockchain permissionada e contratos inteligentes, o Drex prometia inclusão financeira, investimentos fracionados e modernização do acesso a serviços financeiros.

No entanto, mudanças de discurso, adiamentos e recuos tecnológicos transformaram o projeto em uma infraestrutura de bastidor, com previsão de entrega apenas em 2026. A mais recente guinada, confirmada pelo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, revelou que a primeira versão do Drex não utilizará blockchain, contrariando a essência inicial do projeto. A ausência de debates públicos e a falta de clareza regulatória para o setor de ativos virtuais amplificam as críticas, enquanto a proposta de uma PEC busca condicionar o Drex à aprovação do Congresso.

O anúncio do Drex, há dois anos, gerou expectativas de um sistema financeiro mais acessível e tecnológico. A promessa era de uma moeda digital que facilitaria transações, reduzisse custos e integrasse benefícios sociais. Mas o projeto, que deveria ser um marco global, enfrenta questionamentos sobre sua viabilidade e relevância.

Sede do Banco Central, em BrasíliaPrincipais promessas iniciais do Drex:Inclusão financeira para populações desbancarizadas.
Tokenização de ativos para investimentos acessíveis.
Pagamentos instantâneos e integração com o Pix.

Uso de blockchain para transparência e segurança.

O cenário mudou rapidamente, e as contradições no discurso do Banco Central começaram a surgir, levantando dúvidas sobre a execução do projeto.
Mudanças drásticas na essência do Drex

O Drex foi inicialmente vendido como uma CBDC de ponta, mas declarações recentes do Banco Central indicam um recuo significativo. Em palestra no evento Blockchain Rio, Gabriel Galípolo anunciou que a primeira versão do Drex não utilizará tecnologia blockchain, citando desafios técnicos e preocupações com privacidade. A decisão surpreendeu o mercado, já que o blockchain era o pilar tecnológico do projeto. Sem ele, o Drex perde sua identidade como moeda digital inovadora e se limita a funções administrativas, como reconciliação de gravames.

Essa mudança não é isolada. Em fevereiro de 2025, Galípolo já havia declarado que o Drex não seria uma moeda digital, mas uma infraestrutura de tokenização, contradizendo o próprio site do Banco Central, que ainda classifica o projeto como CBDC. A falta de consistência na comunicação alimenta incertezas. O código publicado no GitHub em 2023, por exemplo, revelou funcionalidades que permitem ao BC congelar contas e alterar saldos, gerando críticas sobre possível controle estatal excessivo.

O adiamento para 2026 reforça a percepção de que o Drex está longe de cumprir suas metas originais. O projeto, que deveria estar em fase piloto, agora é descrito como uma ferramenta burocrática, distante do uso cotidiano prometido inicialmente.

Ausência de debate público e resistência política

Um dos pontos mais criticados é a falta de envolvimento da sociedade na criação do Drex. Diferentemente de outros países que discutem CBDCs em fóruns públicos, o Brasil avançou o projeto sem consultas populares ou debates parlamentares robustos. A ausência de transparência motivou a deputada Júlia Zanatta a propor uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que exige aprovação do Congresso para a criação e circulação do Drex.

A PEC reflete preocupações com privacidade e liberdade econômica. Especialistas apontam que uma CBDC, se mal implementada, pode ampliar o controle estatal sobre transações financeiras. A proposta legislativa busca garantir que o projeto passe por escrutínio democrático, algo que o Banco Central não priorizou até agora.

Razões para a PEC do Drex:

Exigência de aprovação congressional para projetos de grande impacto.

Proteção contra riscos à privacidade dos cidadãos.

Necessidade de debate público sobre o uso de CBDCs.

A resistência política evidencia a percepção de que o Drex, em sua forma atual, carece de legitimidade e clareza de propósito.

Setor de ativos virtuais clama por regulação

Enquanto o Banco Central concentra esforços no Drex, o mercado de ativos virtuais no Brasil enfrenta desafios mais urgentes. As Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (VASPs), como corretoras e plataformas de criptomoedas, operam em um ambiente de incerteza regulatória. A Lei 14.478/22, que regula o setor, prevê o licenciamento dessas empresas pelo BC, mas o processo ainda não foi implementado.

Questões como a aplicação da “travel rule” – norma internacional que exige o compartilhamento de informações entre plataformas para combater lavagem de dinheiro – e a segregação patrimonial, que protege os ativos dos clientes, permanecem sem diretrizes claras. Essa lacuna regulatória prejudica a segurança jurídica e a competitividade do Brasil no mercado global de criptoativos.Principais entraves regulatórios no setor de ativos virtuais:Falta de licenciamento para VASPs.

Ausência de normas claras para segregação patrimonial.

Atraso na implementação da travel rule.

Incerteza jurídica que afasta investidores e empresas.

O foco no Drex, um projeto cada vez mais questionado, desvia recursos e atenção de problemas concretos que impactam o ecossistema financeiro atual.

Comparações internacionais e lições perdidas

Países como China e Bahamas já implementaram CBDCs, mas com abordagens distintas. A China utiliza sua moeda digital para ampliar o controle estatal, enquanto as Bahamas focam em inclusão financeira para populações isoladas. No Brasil, o Drex não parece seguir nenhum desses caminhos com clareza. A decisão de abandonar o blockchain, por exemplo, contrasta com a tendência global de usar tecnologias descentralizadas para garantir segurança e transparência.

Outras nações, como a Suécia, realizaram amplos debates públicos antes de avançar com suas CBDCs. No Brasil, a falta de diálogo aberto compromete a confiança no projeto. Além disso, jurisdições avançadas, como a União Europeia, priorizam a regulação de criptoativos antes de lançar moedas digitais estatais, uma lição que o Banco Central parece ignorar.

O que o Drex representa hoje

Hoje, o Drex é mais uma promessa não cumprida do que uma solução concreta. O projeto, que deveria modernizar o sistema financeiro, tornou-se um exercício de retórica tecnológica, com mudanças constantes de narrativa e adiamentos. A ausência de blockchain na primeira versão e a redefinição do Drex como infraestrutura, em vez de moeda digital, evidenciam um projeto sem direção clara.

Enquanto isso, o mercado de ativos virtuais clama por regras claras que garantam segurança e inovação. A insistência em um projeto que não resolve problemas reais, como a regulação de VASPs, sugere uma desconexão entre as prioridades do Banco Central e as necessidades do setor financeiro.Questões não respondidas sobre o Drex:Qual é o objetivo final do projeto?

Por que o blockchain foi abandonado?

Como o BC planeja garantir a privacidade dos usuários?

Quando o projeto terá um cronograma claro e confiável?

O Drex, em sua forma atual, parece mais uma vitrine vazia do que a revolução financeira prometida. A proposta da PEC de Júlia Zanatta pode ser um primeiro passo para trazer transparência e legitimidade ao projeto, mas o futuro do real digital segue incerto.

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