QUEM GANHOU COM A MASSACRE NO RIO?


O que te chocou mais nos últimos dias: as imagens das dezenas de corpos enfileirados na periferia do Rio ou a quantidade de comentários celebrando as mortes nessa “operação de sucesso”?

Confesso que as duas coisas tiraram o nosso sono aqui no Intercept. Porque são frutos do mesmo projeto: o uso da violência como trampolim político, sem qualquer intenção de acabar com o crime organizado.

Se você chegou a olhar as seções de comentários, sabe do que estamos falando: a irracionalidade impera, o discurso “bandido bom é bandido morto” segue ganhando — e quem perde é você.

Percebi, mais uma vez, que o trabalho que temos pela frente como veículo de mídia progressista é árduo.

Na última terça-feira, o governo do Rio patrocinou a maior chacina da história do país — mais de 130 pessoas mortas, com inocentes pegos no fogo cruzado. Nenhum chefe do Comando Vermelho foi preso. Policiais foram mortos. Nenhum dado sobre o número de mandados cumpridos foi apresentado. Ficamos sem nenhuma prestação de contas.

E mesmo assim, manchetes da grande mídia aplaudem e dão mais palanque ao governador Cláudio Castro, do PL. É como se promover o extermínio e terror nas favelas fosse estratégia de segurança pública. Quem ganha com isso?

A verdade é que cada morte é combustível para a máquina eleitoral — e a grande mídia, ao amplificar o discurso oficial sem trazer nenhum contraponto, ajuda a manter essa engrenagem girando.

Enquanto isso, a favela segue tratada como território inimigo. O policial segue exposto na linha de frente como peão de um jogo muito maior. E a população, refém do terror.

O problema é mais complexo do que isso e não será solucionado peneirando a casa de trabalhadores cujo único “crime” é morar na favela — e se a mídia corporativa se recusa a fazer as perguntas certas, nós fazemos:

Como os fuzis chegam às mãos das facções, e qual o papel das forças armadas?

Quem lucra com a “guerra às drogas”?



As soluções reais para o combate ao crime organizado existem e, como mostramos nessa reportagem, são muitas. Mas elas estão sendo ignoradas pelos governos estaduais e federal, e sem pressão da população, continuarão assim.

O primeiro passo é desmontar a crença de que violência de Estado é sinônimo de segurança e construir uma nova lógica, baseada em respeito aos direitos e inteligência, não em execuções.

É um trabalho árduo, de resistência, de formiguinha — mas alguém precisa fazer — e esse alguém pode ser você.

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