MOTTA ATIVA 'MODO EDUARDO CUNHA' E CENTRÃO FRITA LULA


O Congresso sequestrou o governo com apoio de um Centrão que já tem lado para a eleição presidencial: o da extrema direita.

O governo federal sofreu sua maior derrota política nesta semana. Não conseguiu aprovar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras , o IOF — leia-se imposto dos mais ricos — e se viu mais uma vez nas cordas da luta política depois de ser apunhalado pelas costas.

Após costurar com as lideranças do Congresso um acordo pela aprovação do aumento do IOF, o governo Lula foi atropelado em uma votação surpresa , vencedora na calada da noite pelo presidente da Câmara , Hugo Motta , dos Republicanos da Paraíba. Por 383 votos a 98, o decreto que aumentaria o IOF foi revogado pelos deputados.

No Senado, a votação foi simbólica, mas o presidente Davi Alcolumbre, da União Brasil do Amapá, disse em privado que, se votou, 60 dos 81 senadores aprovaram a revogação. O próprio Alcolumbre prometeu a decisão e fez questão de deixar claro que se tratava de uma “derrota para o governo” que foi “construída a várias mãos” .

Poucos menos de 20 dias antes, em uma noite de domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros ministros do governo se reuniram com os presidentes das casas legislativas e líderes partidários. O encontro ocorreu na casa oficial do presidente da Câmara e terminou pouco antes da meia-noite.

Ao sair da reunião, Motta exaltou o acordo e disse se tratar de uma “noite histórica” . Em entrevista coletiva ao lado de Haddad e Alcolumbre, o presidente da Câmara festejou a forma como o acordo foi costurado: “Tivemos pela primeira vez uma reunião conjunta, com líderes da Câmara e do Senado e ministros”.

Toda essa empolgação com o acordo que aumentaria o imposto dos ricos não durou muito . Dias depois, Motta passou a dar declarações descendentes que a boa relação com o governo em torno do tema havia azedado. Dos 383 votos que derrubaram o decreto, 242 vieram de partidos que têm ministérios no governo Lula.

Não é novidade que os critérios de governabilidade já não são mais os mesmos. Depois que o orçamento foi sequestrado pelo Congresso, não há mais garantia de que a concessão de cargas ministeriais resultará em votos no legislativo.

A gestão Lula vem acumulando derrotas acachapantes graças ao apoio dos partidos com os quais está dividindo fatias do governo . Há que se reverem os fundamentos do governo de coalizão. Trata-se de uma tarefa complicada. Não há soluções prontas no horizonte.

É importante lembrar que este não é um governo de esquerda . É um governo formado por uma frente ampla com partidos de centro , direita e esquerda . Este era o único caminho viável para impedir a permanência da extrema direita fascista e golpista no poder e possibilitar alguma governabilidade depois da eleição. A segunda parte não está acontecendo.

O acordo feito na casa de Motta parecia ser um respiro para o governo, mas foi uma breve ilusão . A maneira sórdida e traíra como a votação foi feita soou como uma declaração de guerra ao governo. O fato é que Lula está encalacrado : se conceder ministérios para setores da direita não está rendendo frutos ao governo, os retirará-los poderá ser ainda pior.

O Congresso brasileiro, comandado majoritariamente pela direita e extrema direita, sequestrou o governo . Resta saber como Lula governará nesse último ano e meio que resta para o pleito presidencial. O cenário é feio para os governantes. O movimento de Motta e Alcolumbre está claramente condicionado às próximas eleições.

Ficaram evidentes na apunhalada ao governo as digitais do senador Ciro Nogueira (leia-se bolsonarismo), do PP do Piauí. Apenas dois minutos depois de Motta anunciar nas redes sociais que colocaria a votação que derrubou o decreto do IOF em pauta, Ciro Nogueira apresentou a publicação . O entrosamento é claro.

A guinada dos presidentes das casas legislativas contornou com a intervenção bolsonarista, passando pelas eleições de 2026. Não restam dúvidas de que a corrida eleitoral é o pano de fundo dessa movimentação . Sem poder aumentar impostos dos ricos, o governo será obrigado a buscar novas fontes de receita.

Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, a derrubada do decreto impacta em R$ 10 bilhões a arrecadação federal. A direita e a extrema direita buscaram empurrar o governo para um beco sem saída. Para fechar as contas, o governo teria que fazer mais novos cortes no orçamento, o que prejudicaria os programas sociais.

Lula e Haddad foram indicados nessa sinuca de bico faltando pouco mais de um ano para a eleição. Motta deu sinais claros de que uma conversa com o governo passará a ser outra.

Ele está disposto a interditar todas as ações do governo e fazê-lo sangrar até o fim do mandato. O objetivo é evidente: defender Lula nas eleições e tentar inviabilizar sua candidatura.

O avanço da extrema direita conta com um poderoso aliado: a mídia corporativa.

É assim que convencem os mais pobres a votarem contra os seus próprios interesses — enquanto enchem os bolsos dos super-ricos.

Em 2026, o Centrão e o bolsonarismo querem ainda mais cadeiras no Congresso. E, se ficarmos de braços cruzados, vamos conseguir.

Apoie o jornalismo independente, antes que seja tarde demais! Com uma doação ao Intercept, você fortalece quem fiscaliza o poder e defende o interesse público!

FAÇA PARTE DO INTERCEPT →

As comparações de Motta com Eduardo Cunha são inevitáveis . Até o dia da votação do impeachment, o governo de Dilma Rousseff foi inviabilizado ao ser minado pelas pautas bombas de Cunha no Congresso. Não é à toa que Motta já foi chamado de Eduardo Cunha 2.0 . O espírito golpista segue vivíssimo!

Enquanto corre para proteger o dinheiro dos ricos, a direita brasileira articula-se para empurrar a conta para os mais pobres e jogar esse ônus eleitoral no colo de Lula.

Isso fica ainda mais nítido através da postura do deputado Arthur Lira, do PP de Alagoas, que resolveu adiar a entrega do parecer sobre o projeto que é a cobrança de Imposto de Renda dos brasileiros que ganham até R$ 5 mil .

Para que se apresse no momento em que o governo está sangrando na praça pública, não é mesmo? A popularidade do governo está em queda e é boa para aqueles que continuam assim. Lula está sendo fritado pelo Centrão, conhecido também como direita brasileira, com o apoio, claro, do bolsonarismo.

Além de fritar Lula, o todo poderoso Centrão pressionou o bolsonarismo para apresentar Tarcísio como candidato . Eles já sinalizaram que não aceitaram o jogo de cena que Jair Bolsonaro pretende fazer se colocar como candidato até o último minuto do segundo tempo.

Apesar de fazer os dois lados comerem em sua mão, o Centrão terá um lado na eleição presidencial: o da extrema direita . Os rumores de que a política brasileira está tomando cada vez mais preocupação para progressistas e democratas em geral.

O Centrão é quem dá as cartas e todas elas estão indo para o campo bolsonarista.


O retorno do bolsonarismo golpista e fascista ao poder pode representar o fim da democracia como os conhecidos . O governo tem muito o que trabalhar politicamente para chegar vivo nas vésperas da eleição.

Daqui até lá o Congresso atuará sob o modo de sabotagem, com Hugo Motta incorporando Eduardo Cunha.




GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

Postar um comentário

0 Comentários