UNIVERSITÁRIAS QUE HUMILHARAM COLEGA DE 44 ANOS DIZEM QUE TUDO ''FOI APENAS UMA BRINCADEIRA''


Três estudantes viralizaram com vídeo repugnante em que debocham e humilham colega de classe por ela ter 44 anos. Após serem criticadas e terem suas identidades expostas, as jovens tentam se justificar. Caso acendeu discussão sobre etarismo e vítima recebeu solidariedade de outros colegas: "Exemplo para nós"

As 3 estudantes que gravaram vídeo preconceituoso

Três estudantes universitárias viralizaram nas redes sociais na última sexta-feira (10) por protagonizarem um vídeo repugnante em que debocham de uma colega de classe por ela ter 44 anos. Elas cursam biomedicina na faculdade privada Unisagrado, em Bauru (SP).

No vídeo, elas dizem que a colega deveria estar aposentada e que ‘não sabe o que é o Google’. “Gente, quiz do dia: como desmatricular uma colega de sala?”, pergunta uma delas no início do vídeo.

Na sequência, outra menina responde: “Ela tem 40 anos. Já era para estar aposentada”. “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”, afirma uma das universitárias. “Ela acha que Google é a professora”, complementa outra.

O vídeo ganhou destaque após uma usuária do Twitter compartilhar as imagens. “Minha mãe com 50 anos vai entrar na faculdade esse ano”, relatou, acrescentando: “É uma coisa que poderia ter acontecido com ela”.

A sobrinha da universitária hostilizada fez um depoimento emocionante. “Minha tia, de 40 anos, sempre batalhou trabalhando sem parar desde pequena com as irmãs, para ajudar a minha avó e a cuidar dela. Ela sempre teve o sonho de estudar e nunca teve oportunidade. Hoje, ela conseguiu entrar em um curso que ela sempre quis e estava muito feliz e animada para começar as aulas, e daí surgem três meninas que só vivem na própria bolha, gravando vídeo zombando pela minha tia ser a mais velha da turma”.

Ela também pediu uma posição da universidade: “Que tipo de tratativa vocês vão dar para essas alunas de vocês? Que tipo de profissional essas meninas vão ser? Fico indignada”.

Após a repercussão do caso, uma das alunas tentou se justificar. “Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, disse.

Solidariedade

Os colegas de curso de Patrícia Linares, aluna de 44 anos hostilizada por frequentar a universidade, encontraram a estudante e se mostraram revoltados com a demonstração de preconceito contra ela. O grupo prestou solidariedade e entregou cartas, flores e chocolates.

Patrícia, que é caloura, recebeu apoio de alunos do 4º ano do curso que se indignaram com a falta de empatia e com o preconceito. Eles revelaram que veem na nova estudante um exemplo de que “nunca é tarde de ir atrás dos seus sonhos”. Patrícia ficou emocionada com a ação e confessou ter ficado mal ao ver o vídeo em que é ridicularizada.

Etarismo

As três universitárias foram acusadas de etarismo, nome dado ao preconceito e discriminação com pessoas mais velhas. “No caso do etarismo, nós mulheres de 40 e 50 temos encontrado umas nas outras uma rede de apoio nunca vista. E, embora a mídia – e nós mesmas – venha falando cada vez mais sobre o assunto (sempre sem recorte de raça ou classe, que isso seja dito), pessoas mais velhas são vistas como incapazes, inadequadas, ultrapassadas. É como se, estar nos lugares, fosse um grande ato de subversão ou até um favor. Enquanto, para nós, é só a vida como ela é, seguindo seu rumo”, diz a jornalista Claudia Lima.

“O etarismo é a próxima bolha a ser rompida na sociedade. Mas quando as pessoas estarão preparadas para essa conversa? Estaremos em todos os lugares, queiram ou não. Chegar aos 40, 50, 60 ou mais atuando nas escolas ou nos postos de trabalho é uma realidade que irá crescer ainda mais. Nós é que estamos fazendo um favor e abrindo as portas para que um dia os jovens de hoje possam estar nestes lugares com toda a liberdade do mundo num futuro (que sim, chegará para eles também)”, acrescenta.

Responder na Justiça

As três estudantes, que são maiores de idade, podem responder na Justiça pelo episódio. “Elas estão sujeitas aos crimes de injúria e difamação, que dependem de representação, que são crimes contra a honra tanto subjetiva quanto objetiva, e também o crime de violência psicológica, que se encaixa perfeitamente nas atitudes”, diz Raquel Gallinati, diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil.

“Quando as três dizem que a colega com mais de 40 anos não consegue ou não é capaz de aprender novas atividades no âmbito acadêmico, incorrem em violência psicológica ao fazerem com que se sinta diminuída”, acrescenta.

Elas também podem ser enquadradas no crime de injúria por ter mencionado palavras, expressões e adjetivos negativos que afetam a imagem da vítima. “Sendo elas maiores de idade, por mais que apaguem o conteúdo que publicaram na internet, o crime já foi praticado. É um crime instantâneo”.

O que diz a universidade

A Unisagrado divulgou uma publicação nas redes sem citar o caso diretamente, mas afirmando não compactuar com “qualquer tipo de discriminação” e que “aprendemos a vida toda”.


“As oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais muitas vezes abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”, diz a postagem.

VÍDEO:


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