MINISTÉRIO PÚBLICO PEDE QUE VEREADOR DE CAXIAS DO SUL PAGUE INDENIZAÇÃO DE R$ 300 MIL POR OFENSAS A BAIANOS

Sandro Fantinel (sem partido) usou espaço na Câmara de Vereadores da cidade para falar para produtores não contratarem mais 'aquela gente lá de cima'. Mais de 200 trabalhadores foram resgatados em condições semelhantes à escravidão em Bento Gonçalves. Parlamentar foi expulso pelo Patriota.


Por Redação, g1


Vereador Sandro Fantinel (Patriota) sugeriu que trabalhadores da Bahia não sejam contratados por produtores do RS e chamou repercussão de caso de trabalho análogo à escravidão de 'exagerada e midiática' — Foto: TV Câmara Caxias/Reprodução

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) ajuizou nesta segunda-feira (6) uma ação civil pública em que pede que o vereador Sandro Fantinel (sem partido), de Caxias do Sul, na Serra do RS, pague uma indenização de R$ 300 mil pelas falas em referência aos baianos encontrados em situação de escravidão em Bento Gonçalves, na Serra. Mais de 200 trabalhadores foram resgatados.

O g1 tentou falar com o vereador, mas não obteve contato até a publicação desta reportagem.

Na última terça-feira (28), Fantinel usou a tribuna da Câmara de Vereadores para pedir que os produtores da região "não contratem mais aquela gente lá de cima", se referindo a trabalhadores vindos da Bahia. Além disso, disse que "a única cultura que os baianos têm é viver na praia tocando tambor".

O vereador se referia aos homens encontrados em situação semelhante à escravidão em um alojamento de Bento Gonçalves. A maioria deles, contratados para a colheita da uva, veio do estado nordestino.

"Na ocasião, Fantinel ofendeu a dignidade e o decoro dos brasileiros originários da região Nordeste do Brasil e, com mais contundência, do Estado da Bahia", explica a promotora de Justiça Adriana Karina Diesel Chesani, autora da ação.

Nesta terça (6), em entrevista à Rede Bahia, o governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), defendeu a punição ao parlamentar:

"Ele será responsabilizado pelas palavras que proferiu, mesmo que tenha feito um pedido de desculpas, que acho que tem que ser considerado. Mas a punição exemplar é importante, pra poder mostrar claramente, não apenas pra ele, mas pra todo mundo, que de alguma maneira tem algum tipo de pensamento nesse sentido. Que nós não toleraremos essa intolerância", disse o governador.

Caso o vereador seja condenado, o valor da indenização seria destinado ao Fundo para Reconstituição dos Bens Lesados (FRBL), vinculado ao MP-RS e gerido por um conselho formado por representantes do órgão, do Poder Executivo Estadual e de entidades sociais. O fundo é destinado a ressarcir a sociedade por danos causados à dignidade de grupos raciais, étnicos e religiosos, entre outros.

As receitas que compõem o fundo vêm de indenizações, acordos judiciais e multas, além de valores decorrentes de acordos extrajudiciais ou termos de ajustamento de conduta (TAC).

O caso

O caso de situação semelhante à escravidão veio à tona quando três trabalhadores procuraram a polícia após fugirem de um alojamento em que eram mantidos contra sua vontade. Uma operação realizada no mesmo dia resgatou mais de 200 pessoas que eram submetidas a trabalho análogo à escravidão durante a colheita da uva.

Os trabalhadores foram contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, que oferecia a mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região. Eles afirmam que eram extorquidos, ameaçados, agredidos e torturados com choques elétricos e spray de pimenta.

O administrador da empresa chegou a ser preso pela polícia, mas pagou fiança e foi solto. As vinícolas que faziam uso da mão de obra análoga à escravidão devem ser responsabilizadas, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A maioria dos trabalhadores resgatados chegou à Bahia nesta segunda-feira (27). Os demais optaram por permanecer no RS. As verbas rescisórias a que tinham direito já foram pagas, em um valor que, somado, ultrapassou R$ 1 milhão.

Na terça-feira (28), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) suspendeu a participação das vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton de suas atividades. A ApexBrasil é um serviço social autônomo vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que promove os produtos brasileiros no exterior.

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