UM LEGADO DE MERD*

Ao que tudo indica, Bolsonaro terminará seu mandato sem nenhuma contribuição relevante ao país. Mais que isso, sem nenhum legado (positivo) que lhe renda uma “lembrança nacional” futura. Terminará humilhado internacionalmente, renegado pelos seus três maiores parceiros comerciais


João Stacciarini

Segunda-feira, três de janeiro. Acesso ao noticiário e vejo que o presidente está internado. Dizem ser uma obstrução intestinal, a merda está presa! Grande parte do país tem dificuldade em acreditar na narrativa.

Seria mais uma estratégia midiática para livrar-se da enxurrada de críticas? Não aquela enxurrada da Bahia. Com essa ele não se preocupou – estava ocupado andando de jet ski, dançando funk e tomando caldo de cana. Outros dizem ser uma desculpa para não trabalhar, afinal, chegou o primeiro dia útil do ano.

Certo dia ouvi um senhor na feira proferindo que o presidente não gosta de trabalhar – “é preguiçoso!” Outro retrucou – “preguiçoso não, vagabundo!” O que faz um sujeito preguiçoso na política? – pensei. Ou melhor, o que faz um sujeito preguiçoso ocupar o emprego mais importante do país?

Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” o protagonista diz: “não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. O romance machadiano de 1881 tem lá suas semelhanças com o quadro político da atualidade. O apelido de “menino diabo” é costumeiramente atribuído a ambos os protagonistas. Contudo, o personagem da vida real parece mais afortunado que o da ficção. “Imbroxável”, já tem 5 filhos. Todos vivem longe da miséria e muito seguros, jurídico e institucionalmente. Possuem apoio de parcela importante do congresso e respaldo de meia dúzia de instituições contraditoriamente aparelhadas pelo pai – não ia acabar a mamata!?

Para além do enriquecimento familiar, parece não haver mais legado tangível. Nada de bom será lembrado do governo atual, a não ser o seu término ao final de 2022. Bolsonaro entra no último ano de mandato com índices históricos de reprovação. Caminha para ser o primeiro presidente brasileiro a perder uma reeleição pós-redemocratização. Fragmentou inúmeras categorias que sustentaram sua eleição, a exemplo dos militares, caminhoneiros, médicos e evangélicos.


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Setores da economia, como a indústria e o mercado financeiro, já não acreditam no “Posto Ipiranga” o qual, por sua vez, segue mais preocupado com demandas pessoais (sua fortuna em offshore) do que com a economia nacional. A população, pauperizada e exaurida com repetidos episódios de delinquência presidencial, já não tem mais “saco” para tamanha incompetência.

A situação é tão crítica que até aliados de primeira ordem – como o “guru ideológico” Olavo de Carvalho, o “blogueiro das Fake News” Allan dos Santos e os “bobos da corte” tais como Sara Winter – já deram no pé. Outros que ainda conseguem extrair vantagem da proximidade – como Janaina Paschoal e Luciano Hang – mantêm o discurso de “estarei aqui por mais um tempo, todavia é melhor me precaver”.

Não por acaso, foram hostilizados nas últimas semanas após elogiarem – timidamente – candidatos da dita “terceira via”.

Ao que tudo indica, Bolsonaro terminará seu mandato sem nenhuma contribuição relevante ao país. Mais que isso, sem nenhum legado (positivo) que lhe renda uma “lembrança nacional” futura. Terminará humilhado internacionalmente, renegado pelos seus três maiores parceiros comerciais – China, Estados Unidos e União Europeia – o quais já preferem receber e dialogar com o candidato que lidera a corrida eleitoral ao invés de lidar com o próprio presidente da república.

Ou seja, um verdadeiro legado de merd*!


*João Stacciarini é Professor de Geografia da Universidade Federal de Goiás (UFG/Cepae).

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