8 CRIMES DE BOLSONARO QUE AJUDARAM A JOGAR O PAÍS NO CAOS POLÍTICO ECONÔMICO E SANITÁRIO

Política

que ajudaram a jogar o país no caos político, econômico e sanitário




Por Najla Passos 

26/04/2020 15:42


Créditos da foto: (Adriano Machado/Reuters)

Os crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nestes 16 meses de governo são tantos que, se listados, são suficientes para compor uma tese. Ou duas. Até mesmo várias. Escolher os principais é sempre uma tarefa árdua e facilmente sujeita a muitas críticas. Mas a Carta Maior topou o desafio de apontar alguns dos mais relevantes para jogar o país neste caos político, econômico e sanitário.

Confira a lista e fique à vontade para ajudar a engrossá-la!

1 – Quebrar o sigilo de investigação em curso com o apoio do então parceiro Sérgio Moro

(Bolsonaro faz “arminha” e aponta para a cabeça de Moro, enquanto Guedes dá gargalhadas. Foto: Gariela Biló/ Reprodução)

No dia 29 de julho de 2019, em coletiva à imprensa, na cidade de Osaka, no Japão, o presidente Jair Bolsonaro disse que recebeu do ministro Sérgio Moro o relatório da Polícia Federal (PF) referente às investigações em curso sobre as candidaturas laranjas do PSL, partido ao qual o presidente era filiado à época. As investigações foram requeridas pela Justiça Eleitoral de Minas Gerais, onde o processo referente ao caso tramitava em sigilo. Em nota ao jornal Folha de S. Paulo, o Ministério da Justiça confirmou o repasse do documento.

O curioso é que o conteúdo do processo que tramitava em sigilo no Judiciário não poderia ter sido acessado pelas duas autoridades do Executivo. Uma hipótese é que Moro tenha conseguido o relatório com o diretor-geral da PF, o tal Maurício Valeixo, demitido nesta sexta (24) e considerado o pivô da briga entre os antigos parceiros. Nem Moro e nem Bolsonaro jamais explicaram como e porque tiveram acesso às investigações sob segredo de justiça, em “concurso e formação de quadrilha”, como se diz no jargão jurídico.

2 - Tentar instrumentalizar ainda mais a PF para interferir nas investigações em curso

(Imagem 1: Internautas ridicularizam pronunciamento de Bolsonaro, fazendo alusão ao Power Point que a Lava Jato usou para tentar incriminar Lula. Fonte: Redes sociais)

Ao pedir demissão do cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública, na última sexta !24), o ex-juiz Sérgio Moro não fez um pronunciamento, mas sim uma “delação premiada”. Acusou o até então parceiro Bolsonaro de uma série de crimes. Entre eles, o de tentar interferir em investigações em andamento na Polícia Federal (PF), o órgão que conduz, por exemplo, as investigações sobre o filho 03 do presidente, acusado de usar o Palácio do Planalto como bunker para espalhar fake news contra representantes dos demais poderes da República e jornalistas.

O pedido de investigação contra Bolsonaro, inclusive, já foi encaminhado ao STF pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. Em pronunciamento à nação, o presidente se enrolou na sua tentativa de defesa e acabou admitindo que pediu à PF que conduzisse oitivas e colhesse depoimentos do seu interesse, como no caso em que foi acusado de participar como mandante do atentado que custou a vida da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), em março de 2018. E, cheio de mágoas, ainda reclamou do descaso da instituição e de do ex-ministro com ele: “A PF de Sergio Moro se preocupou mais com quem matou Marielle do que com quem tentou matar seu chefe supremo”.

3 - Tratar a Covid-19 como uma “gripezinha”, um “resfriadinho”


(Em meme que viralizou nas redes sociais, internautas ressignificaram a obra “Operários”, de Tarsila do Amaral, para ridicularizar a pouca habilidade do presidente do “histórico de atleta” com o uso de máscaras. Fonte: Redes sociais)

Até este domingo (26), pelo menos 203 mil pessoas morreram em todo o mundo, comprovadamente em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Porém, para o presidente Jair Bolsonaro, a Covid-19 não passa de uma “gripezinha”, um “resfriadinho”, que em nada afetaria pessoas como ele, com seu “histórico de atleta”, como afirmou em pronunciamento oficial, no dia 24/3.

O negacionismo do presidente e seus séquitos em relações às comprovações científicas e aos fatos objetivos não é novo. A diferença é que antes, eles questionavam questões como o formato da terra ou a eficácia da vacina contra o sarampo, o que não tinha consequências tão imediatas. Com a Covid-19, a coisa ficou um pouquinho mais complicada. Tanto que até um político dos mais politiqueiros do seu staff, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), não quis avalizar o delírio do presidente. O desgaste entre os dois consumiu matérias de jornais e preocupou a comunidade científica durante dias. E acabou resultando na demissão de Mandetta, no último dia 16.

4 – Promover a disseminação do coronavírus, quebrando as normas definidas pelo Ministério da Saúde e pela OMS.

Frente a um vírus novo como é a Covid-19, são poucas as certezas. A mais importante delas, atestada por cientistas do mundo todo, é a necessidade de se cumprir as medidas de higiene e isolamento social para contenção da pandemia. Em reiterados passeios pelas ruas de Brasília, todos eles desprovidos de qualquer utilidade pública, Bolsonaro ignorou completamente as recomendações que constavam em decreto do seu próprio governo.

O comportamento, tido por muitos como homicida, já foi alvo de pelo menos seis notícias-crimes encaminhadas ao STF. Cinco delas foram arquivadas após a Procuradoria Geral da República (PGR) emitir parecer contrário. Mas o ministro Marco Aurélio de Mello se negou a arquivar uma delas, apresentada pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG). E pediu novas explicações à PGR.

5 - Participar e incentivar uma manifestação fascista pela intervenção militar no país, onde era exigido o fechamento do Congresso e do STF.


(O voto de Bolsonaro pelo impeachment de Dilma
 enojou o mundo democrático e escancarou a veia
 fascista do futuro presidente. Fonte: Redes sociais)

Imagina alguém pedir intervenção militar no país que ele próprio presidente? Parece roteiro de filme de comédia, né? Mas no Brasil aconteceu. No dia 19 de abril, o presidente Jair Bolsonaro foi às ruas, sem nenhuma proteção, de peito aberto para o Covid-19, participar de uma manifestação anticonstitucional e fanática, que pedia intervenção militar, edição de um novo AI-5 e outras medidas de fazer corar qualquer aprendiz de democrata.

Nunca foi segredo para ninguém de bom-senso que seu projeto para governar o Brasil é autoritário e fascista, como a Carta Maior vem denunciando desde que ele despontou como aspirante à presidência. Faz parte de uma nova – e assustadora -tendência mundial, que conta com Donald Trump (EUA) como seu principal porta-voz. Ou alguém conseguiu esquecer a imagem do então deputado Jair Bolsonaro dado vivas ao torturador Brilhante Ustra, na votação do impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT)?

6 – Privilégios ao setor financeiro aprofundando a desigualdade social no Brasil.

(Em meio a caos político instaurado, o ministro Paulo Guedes encontrou uma forma inusitada de se mostrar independente: compareceu ao pronunciamento de Bolsonaro da última sexta (24) de máscaras e sem sapatos: virou meme, claro! (Fonte: Redes sociais)

Quando anunciou o nome de Paulo Guedes para o Ministério da Economia, Bolsonaro passou um recibo claro: iria retomar as práticas de privilégios ao setor financeiro e aos mais ricos da velha política neoliberal, já desgastadas por experiências mal sucedidas mundo afora, como na Argentina de Macri. Os resultados foram imediatos: o país bateu recordes de desemprego e de trabalho informal, uma coisa na sequência da outra. E a tão decantada “mão invisível do mercado” já fez “sinal de arminha” para o povo brasileiro, antes mesmo do início da pandemia.

Foi o ex-presidente golpista Michel Temer (PMDB) quem encaminhou ao Congresso, no final de 2016, a famigerada PEC do Teto de Gastos, que limita investimentos públicos em saúde e educação por 20 anos. Uma medida abusiva jamais experimentada em nenhum país e que vai na contramão do que é recomendado até mesmo pelo FMI, o formulador oficial das políticas neoliberais. Mas a equipe econômica de Guedes a defendeu até as últimas consequências.

A alternativa para impedir que a Covid-19 matasse mais brasileiros do que já está matando e ainda vai matar foi a edição de uma nova medida legislativa, batizada de “PEC Orçamento de Guerra”, que permite a ampliação dos gastos públicos neste momento catastrófico. Mas que ainda deixa muito, mas muito mesmo, a desejar. São quantos mesmo os brasileiros que já conseguiram colocar as mãos no auxílio emergencial de míseros R$ 600 para enfrentar a quarentena?

7 - Manter um ministro negacionista no MEC, quando a ciência se torna ainda mais imprescindível


(Com um domínio da língua pátria bastante questionável e com uma compreensão de mundo mais questionável ainda, o ministro da Educação acusa os doutrinadores marxistas de conspirarem contra a Educação no país. Fonte: Charge do Amarildo, publicada na Gazeta do ES, em 6/12/2019)

Em tempos de pandemia, a ciência ganha um papel ainda mais urgente e relevante no cenário mundial. E a despeito de todo o esforço dos servidores públicos das universidades públicas e centros de pesquisa em continuar produzindo conhecimento de relevância social, a contrapartida do governo Bolsonaro é uma facada no bom-senso.

O número 1 do MEC, ministro Abraham Weintraub é uma negacionista de carteirinha, amante de teorias conspiratórias risíveis, que reduzem os maiores centros de produção de conhecimento do país a células de “doutrinação marxista”, territórios vastos de “plantio de maconha” e palcos de “orgias”. Os resultados são temerários: cortes nas verbas para pesquisa, retiradas de direitos dos servidores públicos e censura à produção de conhecimento e aos materiais didáticos, entre tantos outros desacertos.

8 - Agredir jornalistas e atacar sistematicamente a imprensa e a liberdade de expressão

(Além de dar bananas aos jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto, o presidente ainda levou uma equipe de humoristas para imitá-lo. Fonte: Redes sociais)

Desde o início da redemocratização do país, todos os presidentes eleitos sempre criticaram a imprensa e a forma com que cobria seus respectivos governos: Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma. Entretanto, todos eles também sempre ressaltaram o papel fundamental da liberdade de expressão para a consolidação das democracias. Isso mudou com a chegada de Bolsonaro ao poder, como atesta o jornalista Rubens Valente, ele própria uma das vítimas dos ataques virulentos e destemperados do presidente, em artigo publicado no UOL.

Na sua cruzada autoritária, o presidente vai muito além das críticas pontuais a episódios específicos ou condutas empresariais específicas. Ataca jornalistas com insultos machistas e homofóbicos. Grita, dá banana, insufla seu séquito de fanáticos a colocá-los em risco, enquanto tenta convencer o país a acabar com a imprensa, para que a “verdade” - que só ele detém, obviamente - possa triunfar por meio dos canais oficiais e diretos que ele mantém com seus eleitores, como sua conta no Twitter. Algo muito parecido com a estratégia midiática adotada por Hitler, Mussolini e os governos ditatórias da américa Latina.

Najla Passos é jornalista e mestra em Linguagens

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GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

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