MEU BRASIL ... SAMBA QUE DÁ!


Negrinho do Pastoreio, óleo sobre tela de Nelson Macedo
As imagens das ultimas manifestações mais parecem produzidas por eficiente orquestra vídeo-musical. Aos milhões, unem-se nas ruas os brasileiros a protestar num peculiar bamboleio e  com uma ginga de admirar. 

Um brasileiro diferente,  que surgiu no palco, estrepitoso e hostil diante do  roteiro político oficia,l que privilegia o escárnio e aprofunda as diferenças sociais. Estamos devolvendo as bugigangas, espetáculos bizarros como o futebol e desperdícios colossais como maracanãs e outras construções faraônicas. O que se quer agora é transporte coletivo de qualidade, moradia, saúde e educação de verdade. É bom lembrar que essas demandas exigirão revoluções pessoais de comportamento.

Este movimento nos traz a esperança de rompermos com o velho estigma que nos identifica como negrinhos do pastoreio , “povo  trabalhador e ordeiro”,  mulatos cordiais, gente que não se rebela, encaixada na frase que maltrata:

"Brasileiro aceita tudo…".

O que houve com o Zé Carioca? Por onde anda agora o Juca Mulato? Estão a tremer nesse instante uma fileira de túmulos que vai de Monteiro Lobato a Menotti Del Picchia.

A camada mais jovem da população iniciou a revolta contra os estancieiros maus que lhe deitaram varadas por séculos a fio.  Deixaram a virgem Maria de lado e reagiram aos milhares, ocupando ruas e avenidas, enfrentando balas e declarações voluptuosas e hostis de nossos governantes que prometiam inicialmente surras mais fortes “àqueles que agem fora da ordem” exibindo seus violentos exércitos armados, pelas TVs, até finalmente recolherem-se piedosos em seus palácios convidando os baderneiros “para uma conversa”.

Estamos diante de um movimento absolutamente imprevisto que surpreendeu a todos pela sua demonstração de catarse coletiva. É certo que  algumas ações revelam sentimentos de ódio, frustração, decepção que o brasileiro guardou por muito tempo. Também a clareza diante de um 

Estado extensamente corrupto que legitima desigualdades profundas e despreza a população. O desperdício criminoso dos recursos direcionados a showbusines de estádios, circos e campos de idiotização saltaram a vista, constituindo esse exagero em  tiro que se sai pela culatra.

Afinal o velho paraíso da insensatez, curral perfeito para as empresas mundiais associadas aos feitores verde amarelo não encontrarão aqui os espectadores atentos aos espetáculos lucrativos  de suas exibições alienantes.

Ainda que por alguns dias de protesto, sob os efeitos deles e aliviados pelo trauma exposto, o brasileiro sonha com novos dias e ao fechar do pano o que temos é uma interminável fila de interrogações ou a esperança que isso vai dar Samba!

Sergio Nogueira Lopes é sociólogo e escritor, autor de Opinião Giratória, entre outros.

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