FALA DE DONALD TRUMP SOBRE GROELÂNDIA E CANAL DO PANAMÁ POSSUI CONEXÃO COM EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Presidente eleito dos Estados tem dito nos últimos dias que quer adquirir a ilha pertencente à Dinamarca e retomar o controle da hidrovia panamenha

Por Renata Turbiani, para o Um Só Planeta



Vila coberta por neve na Groelândia Unsplash


Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, tem alardeado nos últimos dias que deseja adquirir a Groenlândia e controlar o Canal do Panamá. Em seus discursos, ele diz que essas regiões são prioritárias para a segurança do seu país. Mas a motivação também indica ter ligação com a mudanças climáticas, afirmam especialistas.

Conquistar a Groenlândia, território semiautônomo da Dinamarca é um desejo antigo de Trump – segundo ele, a ilha é essencial para os esforços militares de rastreamento de navios chineses e russos. Em sua primeira administração federal, conforme destaca o The New York Times, o político instou seus assessores a explorar maneiras de comprar o local. E agora, prestes a assumir a Casa Branca novamente, decidiu retomar a – polêmica – discussão.

O ponto é que as vastas camadas de gelo e as geleiras da Groenlândia estão recuando rapidamente à medida que a temperatura da Terra aumenta em decorrência do agravamento do aquecimento global

Nas últimas três décadas, estima-se que 28.490 quilômetros quadrados de gelo derreteram por lá. E esse derretimento, além de remodelar as linhas costeiras em todo o mundo e potencialmente mudar os padrões climáticos de maneira dramática, pode disponibilizar novas áreas para perfuração de petróleo e gás natural e locais para mineração de minerais críticos, o que desperta o interesse e a cobiça de muitos.

Importante acrescentar que o degelo no Ártico também está abrindo um novo ativo estratégico na geopolítica: rotas de navegação mais curtas e eficientes. Navegar pelo Mar Ártico da Europa Ocidental para o Leste Asiático, por exemplo, é um trajeto cerca de 40% mais curto em comparação com a navegação pelo Canal de Suez.

Apesar de Trump classificar as mudanças climáticas como farsa, Robert C. O'Brien, seu ex-assessor de segurança nacional, sugeriu à Fox News no último final de semana que elas são um fator no interesse do presidente eleito dos EUA em adquirir a Groenlândia.

“A Groenlândia é uma rodovia do Ártico até a América do Norte, até os Estados Unidos. É estrategicamente muito importante para o Ártico, que será o campo de batalha crítico do futuro porque, à medida que o clima esquenta, o Ártico será um caminho que talvez reduza o uso do Canal do Panamá", disse.

Canal do Panamá — Foto: Divulgação/ACP

Canal do Panamá

Sobre o Canal do Panamá, Trump disse que ele “é vital” para o seu país, e alegou que atualmente “está sendo operado pela China”.

Essa hidrovia, que conecta o Atlântico e o Pacífico, foi construída no início dos anos 1900 e controlada pelos Estados Unidos até 1977, quando o Panamá assumiu a função.

Em 2023, uma longa seca causou uma interrupção generalizada no local. Os níveis de água no Lago Gatún, a sua principal reserva hidrológica, caíram para níveis historicamente baixos e as autoridades reduziram o transporte para conservar a água doce do lago.

Os cientistas afirmam que a causa imediata do problema foi o El Niño, fenômeno climático natural que aquece as águas do Pacífico, mas as mudanças climáticas também tiveram – e seguem tento – o seu papel.

Para Chris Field, diretor do Woods Institute for the Environment da Universidade de Stanford, o interesse de Trump tanto no Canal do Panamá quanto na Groenlândia é “uma espécie de reconhecimento indireto” de que o aquecimento global é real e cria novos desafios globais.

“É interessante que a narrativa de Trump seja que, se controlarmos esses lugares, seria melhor de alguma forma. Mas o desafio é que o componente das mudanças climáticas não desaparece”, observou ele ao NYT.

Apesar dos desejos do presidente eleito dos Estados Unidos, José Raúl Mulino, presidente do Panamá, descartou discutir o controle do canal. E Mute Egede, primeiro-ministro da Groenlândia, afirmou que a ilha “não está à venda e nunca estará”.

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