MAGNISTSKY: BANCOS DERRETEM E IMPACTO JÁ ATINGE DÓLAR E JUROS, DIZ MACIEL DA AZ QUEST. INVESTIDORES VEEM RISCO CRESCENTE E DÓLAR E JUROS FUTUROS DIANTE DA INCERTEZA INTITUCIONAL

Osni Alves
Advisor


O mercado financeiro brasileiro reage com tensão às decisões do Ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre a aplicação da lei Magnitsky, refletindo uma combinação de instabilidade política e pressões internacionais.

Para Walter Maciel, CEO da AZ Quest, os efeitos já são visíveis, especialmente no setor financeiro, representado pelos bancos, e nos ativos em dólar. “Estamos vendo o mercado derretendo, principalmente o setor financeiro, mas o impacto já se espalha para o dólar e os juros futuros”, afirmou ao Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo.

Maciel destaca que a insegurança institucional deixa marcas duradouras. “Amanhã (no futuro), você pode estar cicatrizado, mas a cicatriz fica. O medo persiste, e o mercado fica mais desconfortável, justamente quando o dólar se desvaloriza frente a outras moedas.”

Ele lembrou ainda que o governo teria recomendado que ministros abram contas em cooperativas de crédito, enquanto os bancos resistem, correndo risco de sanções.

Até recentemente, segundo o executivo, o Brasil se beneficiava da “irrelevância internacional”. “Não somos ameaça geopolítica para ninguém e isso ajudava a Bolsa a se valorizar e o real a se recuperar”, disse.

O equilíbrio entre política fiscal e monetária, embora presente, ainda não se reflete nos preços de ativos:

“O Brasil era para estar muito melhor. Temos um pé no acelerador fiscal e outro no freio da política monetária, mas os ativos não estão precificados de acordo.”Leia mais: Bolsa brasileira pode disparar até 70% com fim do “lulismo”, avalia gestor da Apex
E também: Kinitro: Guerra tarifária volta ao radar e acende alerta; “inflação na veia”
Brasil é estratégico em recursos escassos

Além do cenário interno, Maciel analisou o impacto da geopolítica global, destacando o papel estratégico do Brasil em alimentos e energia.

“Não temos capacidade de moldar a geopolítica global, mas somos estratégicos em recursos escassos — água, energia limpa, agricultura — e precisamos nos posicionar como amigos de todos os países.”

Ele também criticou movimentos recentes de criação de moedas alternativas aos BRICS e reforçou a necessidade de cautela em acordos internacionais.

O CEO ainda comentou sobre negociações com os Estados Unidos, ressaltando que decisões estratégicas, mesmo com falhas de comunicação, podem prevenir impactos negativos futuros.

“Ouvir e dialogar com opiniões diferentes é onde se prova se você é verdadeiramente libertário”, disse, lembrando que atrasos em decisões internacionais podem afetar diretamente o mercado brasileiro.

O Brasil não aguenta mais carga tributária

Maciel também chamou atenção para a pressão crescente sobre as contas públicas.


Segundo ele, a Constituição já compromete praticamente todo o orçamento com despesas obrigatórias. “Você vai pagar funcionalismo, aposentadoria, saúde, educação, acabou o dinheiro”, afirmou.

O executivo lembrou que a carga tributária brasileira já se aproxima de 39% do PIB, patamar que considera insustentável.

“Não vai ter nem mais emenda, não vai ter mais verba. A carga tributária, que já chega a 39%, não tem mais por onde ir.”

Para Maciel, o modelo atual é anti-econômico e retarda o crescimento, já que o peso dos tributos sobre pessoas e empresas sufoca a atividade produtiva.

Ele citou comparações internacionais, lembrando que o Brasil já tributa mais per capita do que países como Estados Unidos e Japão, mas sem entregar a mesma qualidade de vida e infraestrutura.

Ajuste fiscal

O CEO da AZ Quest reforçou que a experiência de governos anteriores mostra que ajustes fiscais são decisivos para recuperar a confiança do mercado.

Ele destacou o caso do governo Temer, que reduziu um déficit de 3,5% do PIB para 1,8% em dois anos.

“O problema não é difícil de resolver. Com vontade política e diálogo com o Congresso, já se pode levantar R$ 250 bilhões por ano. O nosso problema hoje é de R$ 350 bilhões. Então, já resolveu. O que precisa? Credibilidade.”

Maciel explicou que um choque de confiança teria impacto direto em câmbio, inflação e juros.

“Se você dá esse choque de credibilidade, o real, ao invés de estar 5,40, podia estar 4,5 ou 4,4. Aí você começa a contratar a inflação futura menor. Isso pode dar espaço para juros de um dígito. E aí as coisas começam a entrar no eixo.”

Postar um comentário

0 Comentários