DALTON TREVISAN NÃO CABE EM APENAS UM SÉCULO

Morte do maior contista da língua portuguesa antecipa o mergulho coletivo do Brasil literário em sua obra

Por Sandro Moser

Dalton Trevisan faleceu aos 99 anos em Curitiba.

Maior contista da língua portuguesa, Dalton Trevisan morreu ontem (9) aos 99 anos em Curitiba. Esteve lúcido e ativo até seus últimos dias.

Nos últimos anos, morou no centro da cidade, perto da Biblioteca Pública do Paraná.

Vinha preparando com Fabiana Faversani, a grande companheira de todas as horas de Dalton nos últimos anos, os lançamentos que serviriam para comemorar o seu centenário para o qual faltavam 185 dias.

Sua literatura seguirá eternamente “inconfundível, intransferível, incontornável e irresistível”, como definiu o escritor Luís Henrique Pellanda.

Ao contrário do que muita gente vai falar, Dalton não era um misantropo.

Tinha justificada aversão a convescotes, puxa-sacos e chatos. Só saiu de Curitiba uma vez e acabou, sabe-se lá como, na Suíça, e da viagem sobraram ótimas piadas que ele gostava de contar.

Mas em nosso tempo, não ser narcisista patológico é considerado um desvio. Dalton era mais elegante do que qualquer coisa.

Gostava de conversar com seus amigos. Mas só alguns rostos queridos. De sentar-se para tomar chá. Gostava, sobretudo, de trabalhar. E o fez até quando conseguiu.

Sua despedida vai antecipar o mergulho coletivo que o Brasil literário se preparava para dar em sua obra no ano que vem. Espero que de hoje até lá, e para sempre, a gente faça o que ele sempre fez: vamos ler, reler e reler uma vez mais todos os seus textos.

Como observou o poeta Jaques Brand, a presença de Dalton, em Curitiba e no Brasil, tinha muito mais a força de um sol do que essa figura vampiresca que lhe foi associada. Dalton nunca sugou ninguém. Nós é que nos alimentamos dele para seguir em frente.

Vai se falar de Dalton como nunca nos próximos meses. No próximo Festival de Curitiba, o Teatro de Comédia do Paraná vem com Daqui Ninguém Sai, com direção de Nena Inoue, peça que foi batizada por Dalton que trocou muito com Nena no processo de criação da peça.

Imagino que vão se acender as discussões sobre o destino da sua casa histórica no bairro do Alto da XV.

Devem aparecer novas histórias sobre ele que amigos (ou nem tanto) terão coragem de vocalizar. Alguém vai se encorajar a escrever uma biografia?

Provavelmente surjam fotografias nunca vistas ou até vídeos… Será? Quem sabe surjam textos inéditos. Tomara. Tenho certeza que alguma surpresa ele tenha nos preparado.

Dalton é inesgotável. Não cabe em apenas um século.

GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

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