CIÊNCIA CIDADÃ: COMO A POPULAÇÃO TEM AJUDADO CIENTISTAS A MAPEAR ENCHENTES NO SUL DO BRASIL

Iniciativa já mapeou 630 pontos no Rio Grande do Sul: 495 pontos de inundação e 135 de deslizamentos


Após as devastadoras enchentes no sul do Brasil no mês de maio, pesquisadores de diversas instituições estão convocando moradores do estado do Rio Grande do Sul a usarem as câmeras de seus smartphones e o compartilhamento da localização dos danos e áreas afetadas para documentar os níveis da água, os pontos em que ocorreram deslizamentos de terra e os locais que apresentaram problemas de saneamento. É a ciência cidadã em ação.

Como funciona?

A ciência cidadã é uma forma de engajar pessoas não iniciadas em ciência em diferentes etapas do processo científico. No caso do Mapa Cidadão, como a iniciativa está sendo chamada, cientistas cidadãos, com seus celulares conectados à Internet e a capacidade de estarem espalhados por muitos diferentes lugares - o que seria difícil para as equipes de pesquisadores - se deslocam até os lugares afetados e compartilham a sua localização pelo WhatsApp com a equipe gestora do projeto. Fotos e informações complementares são bem-vindas também. Uma vez que esses dados são recebidos pela equipe responsável, eles são tabelados e as coordenadas mapeadas são transferidas para o Google Maps.


Extensão do evento

No Rio Grande do Sul, mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelo evento climático que iniciou no último dia de abril e se estendeu por todo o mês de maio, atingindo em torno de 90% dos 497 municípios do Estado. Em alguns pontos do RS, o total de chuva acumulada no período chegou a 1.000 milímetros, o que causou amplas inundações e deslizamentos de terra, além de problemas relacionados, como falta de água, luz e internet.

Cerca de 80 mil pessoas foram resgatadas. Em torno de 540 mil pessoas ficaram desalojadas e mais de 75 mil pessoas precisaram ficar em abrigos. São 176 mortos até o momento e 39 desaparecidos. Especialistas atribuem a gravidade das inundações neste episódio às mudanças climáticas, com estudos indicando que a queima de combustíveis fósseis aumentou a frequência de chuvas intensas na região neste período de El Niño.



Pontos mapeados



Os primeiros pontos mapeados já estão disponíveis para consulta pública em um mapa de visualização simplificada no Google Maps, atualizado com frequência pela equipe responsável conforme novos dados são enviados pela população. Até o momento (15 de junho de 2024), mais de 630 pontos foram mapeados - 495 pontos de inundação e 135 de deslizamentos. Os dados coletados têm o potencial de, ao embasar estudos científicos e técnicos no futuro, melhorar o planejamento urbano e a alocação de recursos, criando estratégias de prevenção mais eficazes para mitigar eventos futuros.

O grupo utiliza uma interface de visualização simplificada por meio do Google Maps para tornar os pontos visíveis à população, e planeja futuras parcerias, como a com a equipe do Humanitarian OpenStreetMap para aprimorar a visualização e agregar mais camadas de informação ao levantamento.

Em Lajeado, que fica no Vale do Taquari e que foi uma das áreas mais afetadas, voluntários já estão colaborando enviando dados geolocalizados via WhatsApp, assim como em outros pontos do Estado, já que o mapa tem o objetivo de cobrir todos os locais possíveis para a criação de um cenário completo. Também já foram mapeados pontos nos regiões do Vale do Caí, no Vale dos Sinos e na região metropolitana de Porto Alegre. Grandes partes do Estado, como as regiões mais ao Centro, ao Sul e ao Norte, que também foram afetadas, ainda podem ser mapeadas, por isso os pesquisadores reforçam que a participação das pessoas nestes locais é importante. A coleta dos pontos não tem prazo para encerrar.

A participação comunitária é imprescindível para fornecer informações detalhadas sobre as áreas afetadas, como a localização de deslizamentos e a extensão das cheias. Os pontos mapeados também ajudam na atualização e melhoria das modelagens científicas, proporcionando uma compreensão mais precisa da extensão dos desastres naturais ao fornecer dados que, posteriormente, serão cruzados com modelagens e instrumentos científicos como uma forma de calibrar modelagens sobre o evento.

Os pesquisadores pontuam que a ciência cidadã, assim, se torna um recurso potente para a prevenção de desastres, produzindo benefícios tanto para os cientistas quanto para a população, uma que, ao participar de um projeto dessa magnitude, as pessoas também desenvolvem consciência crítica sobre áreas de perigo e vulnerabilidade.


Experiência anterior exitosa

O projeto atual é uma expansão de uma iniciativa bem-sucedida em 2023, quando a população ajudou a mapear locais atingidos pelas cheias do rio Taquari, um dos rios que cruza o Rio Grande do Sul e que foi responsável por inundações históricas que atingiram cidades como Roca Sales, Muçum e Lajeado, também como efeito do El Niño.


Naquela oportunidade, cerca de 150 pessoas mapearam 620 pontos na região, incluindo as cidades de Santa Tereza, Lajeado, Arroio do Meio e Estrela. No total, foram mapeados pontos em 14 cidades e 44 diferentes bairros. A ação contou com a participação de estudantes de universidades, entre elas os da Univates. Esse tipo de participação amplia a capacidade de pesquisa, promove a educação e o engajamento público, aumentando a compreensão e o interesse pela ciência.


Instituições participantes

A iniciativa é liderada pela estudante de doutorado Sofia Royer Moraes, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (em Porto Alegre, capital do estado), e também professora da Universidade do Vale do Taquari - Univates (em Lajeado). O projeto, além dessas duas universidades, conta com a participação de voluntários da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Universidade Feevale, Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade de Caxias do Sul (UCS), Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul) e Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro).


Confira como participar

Existem dois instrumentos de coleta de dados. Veja abaixo como contribuir com cada um
Comunidade pode contribuir com o Mapa Cidadão: inundações e deslizamentos
1 – Caminhe com o celular até o local onde ocorreu o deslizamento ou onde você sabe que foi o limite da inundação - Desde que seja seguro!
2 – Clique no link wa.me/555133087976 ou adicione o contato do IPH/UFRGS no seu Whatsapp (+55 51 3308 7976).
3 – Na conversa, clique no ícone de clipe e escolha "Localização", e em seguida “Localização Atual”.
4 – Compartilhe a foto do local, clicando no clipe e escolhendo a opção “Câmera”, e em seguida tirando uma foto do local atingido.
5 – Fique à vontade para mandar mais informações como data e hora da ocorrência ou qualquer outro detalhe adicional.
6 – Pronto! Você contribuiu para o Mapa Cidadão!

O mapeamento cidadão em desenvolvimento no Rio Grande do Sul, está recebendo, também, informações sobre locais que sofreram com algum tipo de problema de saneamento.

Veja como contribuir com o Mapa Cidadão: saneamento

A participação leva em torno de 3 minutos

1 – Clique no link wa.me/555133086660 ou adicione o contato do Mapa Cidadão: Saneamento no seu Whatsapp (555133086660).

2 – Dê um “Oi” ou inicie uma conversa com o número.

3 – Clique no link que o chatbot informará.

4 – Preencha as informações solicitadas.

5 – Clique em “Enviar no WhatsApp” ao fim da página para registrar suas informações (a depender do local onde estiver acessando, se smartphone ou desktop, você precisará dar um “OK” na tela que abrir com o resumo das suas respostas).

6 – Clique em enviar na tela seguinte.

7 – Pronto! Você contribuiu para o Mapa Cidadão!


Você também pode colaborar enviando fotos e vídeos (com descrição da localização) ou áudios com relatos sobre como as cheias afetaram sua região (por exemplo, alterações na qualidade da água da rede, presença de maus odores, sedimentos, resíduos no entorno da sua residência, entre outros) na conversa pelo WhatsApp.

GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

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