PESSOAS QUE VIVEM NAS RUAS DE SÃO PAULO NÃO CONSEGUEM ÁGUA E SOFREM COM CALOR EXTREMO

Recordes de temperatura previstos esta semana ameaçam a saúde de mais de 53 mil pessoas, que não têm moradia

Por Texto: Matheus Santino | Edição: Mariama Correia | Fotógrafo: José Cícero

A onda de calor excepcional no Brasil fará a cidade de São Paulo bater recordes de temperaturas com os termômetros passando dos 37ºC neste fim de semana, segundo alertas da MetSul Meteorologia. Entre os grupos mais vulneráveis aos efeitos do calor extremo estão 53 mil pessoas que vivem nas ruas da capital paulista, segundo dados do CadÚnico.

A Agência Pública foi às ruas do centro da cidade para conversar com as pessoas que vivem nas ruas e acompanhar a efetividade das ações da prefeitura para minimizar os impactos do calor, como a distribuição de água, alimentos e atendimento médico.

Ao meio-dia desta sexta-feira (22), os termômetros marcavam 35ºC. Na região da Praça da República, centro de São Paulo, sentado na sombra das árvores, estava Paulo Rogério. Em dias quentes como esse, ele diz que tem dificuldade conseguir beber água.

“Em lugares perto da avenida muita gente pede, você vai lá e fecham a cara para você”, conta.
                                                                                                   José Cícero/Agência Pública
Paulo relata a dificuldade de conseguir água em dias de calor intenso

Do outro lado da praça, havia uma tenda da operação da prefeitura, que distribuiu frutas, água e chá gelado para pessoas em situação de rua, em frente a uma das saídas do metrô. Lá, um grupo de pessoas tentava se refrescar aproveitando a ventilação da estação. Entre eles estavam Nicolas Miquéias, 24, e Robson Santos, 40. Nicolas diz que gosta do calor, mas está sofrendo com as altas temperaturas. Por fazer reciclagem, ele precisa andar grandes distâncias sob o sol forte. “Falaram que vai chegar a 40ºC. Se não tomar água é complicado”.
                                                                                             José Cícero/Agência Pública
Pessoas tentam se refrescar no acesso de ventilação da estação de metrô República, no centro de São Paulo

Já Robson contou que chegou cedo ao local, mas os funcionários da prefeitura não quiseram lhe dar água antes das 10 horas da manhã. “Mas eles estavam bebendo água. Eles podem, eles tem lar, aí a sede tem que esperar, quem está em situação de rua. Isso é o cúmulo”.

A falta de albergues abertos durante o dia, quando o calor está forte, além da dificuldade para acessar os quartos, também é um desafio. “Durante o dia me viro como posso, embaixo de árvore ou de uma marquise. No último que eu estava, o despertar era às 7 horas da manhã e o quarto só abria depois das 16 horas. Mesmo fixo, só pode acessar o quarto depois das 16 horas da tarde, faça chuva ou faça sol”, diz Robson.

Fabiano José tem 44 anos e é natural de Itapevi, cidade da grande São Paulo. Ele conta que esteve durante 10 anos no Piauí, mas atualmente vive nas ruas do centro paulistano, nas imediações da Praça Marechal Deodoro, próximo ao viaduto do Minhocão, onde as pessoas se aglomeram em barracas e camas improvisadas.

Para Fabiano, a maior dificuldade é conseguir água. “É difícil, tinha água aqui no posto e cortaram, não sei porque. Nos bares ninguém dá, só no albergue. Você chega na porta do bar pedindo água e mandam sair fora”, conta.“A gente fica agoniado, a cabeça dói, no frio é ruim, mas o calor tá demais. Da tontura, dor de barriga…é sofrimento, a verdade é essa”, diz.

Naquele dia, Fabiano tinha conseguido uma garrafa de água, frutas e um copo de chá gelado. O kit é distribuído pela prefeitura através da Operação Altas Temperaturas. A ação foi iniciada na última quarta-feira, dia 20, com tendas espalhadas em pontos estratégicos da cidade.

Para enfrentar os próximos dias, Fabiano pensa ir para Santos, no litoral paulista. “Lá pelo menos tem banho toda hora na praia, aqui a gente toma uma vez por noite no albergue. Banho é bom, sem banho o cara fica fraco”, diz.
                                                                                            José Cícero/Agência Pública
Termômetro registra recorde de temperatura
                                                                                                     José Cícero/Agência Pública
Kit distribuído pela prefeitura tinha fruta, água e chá gelado

Rosemeire Alves , 42 anos, vive nas ruas do centro há cinco anos. Ela diz que nunca passou por um período tão quente. “Fico agoniada, tenho pressão alta, faço acompanhamento na Sé. Para quem tem pressão alta [esse calor] é difícil”, conta. Entre os efeitos que um hipertenso pode ter em dias de alta temperatura estão tontura e fraqueza. Na tenda em que Rosemeire estava, funcionários disseram que atenderam um idoso com esses sintomas.

Segundo a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), a Operação Altas Temperaturas está sendo feita pela primeira vez na cidade e devem realizar ações até o dia 31 de março de 2024, sempre que a temperatura ou sensação térmica atingir 32ºC ou mais.

A secretaria diz que nos dois primeiros dias de atendimento, as dez tendas somadas fizeram 14.781 atendimentos e distribuíram 29.762 itens, sendo 13.481 garrafas de água de 500ml, 2.611 copos de chá gelado, 5.138 frutas e 8.476 bonés.

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