ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO É ENCONTRADO MORTO APÓS FAZER SÉRIE DE DENÚNCIAS

“O fato é que a minha vida está em risco. Se eu aparecer morto, foram eles”. O jovem Clayton Tomaz de Souza era uma das vozes mais ativas do movimento estudantil da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Clayton Tomaz de Souza, mais conhecido como ‘Alph’

O estudante Clayton Tomaz de Souza, mais conhecido como ‘Alph’, foi encontrado morto com uma perfuração na nuca em Gramame, João Pessoa (PB). O corpo foi identificado pelo pai do estudante nesta segunda-feira (17). Ele estava desaparecido desde o dia 6 de fevereiro.

Clayton estudava Filosofia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e, há mais de um ano, publicava vídeos e denúncias contra a segurança da instituição federal, que é feita por uma empresa terceirizada.

No dia 29 de janeiro de 2019, o estudante declarou: “O fato é que a minha vida está em risco, galera. Qualquer hora dessas esses caras dão cabo de mim. Se eu aparecer morto, foram eles”.

O jovem era uma das vozes mais ativas do movimento estudantil da universidade e costumava se rebelar contra o preconceito vivenciado por estudantes de origem pobre.

As denúncias

“Se eu chegasse aqui na universidade de carro, vocês acham que eu seria perseguido por eles?”, questiona Clayton em um dos vídeos.

“Fui ameaçado pela guarda armada, temo pela minha segurança, pelo meu bem estar, mas jamais me calarei, mesmo eles querendo me fazer o mal…”, escreveu o estudante em uma outra postagem.

Em outra denúncia, o jovem escreveu: “guardinha terceirizado achando que é polícia, jurando que serve a um Estado. Ameaça minha pessoa, e a UFPB finge não ver. Meu sangue vai aspirar mãos de vocês, quando eles fizerem o que tanto dizem que farão, a mim e a outros e outras”.

Clayton fala ainda sobre a falta de um plano de segurança na UFPB, fato que resultaria no excesso durante as abordagens por parte dos seguranças do campus de João Pessoa. Ele cita o chefe do setor de segurança da instituição como conivente nos casos de abuso.

O estudante afirma em outra publicação que protocolou na ouvidoria da UFPB uma denúncia sobre as ameaças que sofria dos guardas dentro do campus

A última postagem de Clayton nas redes sociais foi registrada no dia 5 de fevereiro de 2020, um dia antes do seu desaparecimento. Na ocasião, ele publicou: “Tudo tem que acabar”.

Investigação

O delegado responsável pelo caso, Carlos Othon, afirmou que a investigação não descarta nenhuma hipótese e a possível participação da guarda da universidade no crime será investigada. “Vamos ouvir os seguranças da UFPB, todos vão ser convocados a prestar esclarecimentos”, comentou.

Segundo Saint Clair Avelar, professor e superintendente de segurança da UFPB, não cabe à instituição se pronunciar neste momento. “Essa história de dizer que ‘estava sendo ameaçado pelos seguranças’, e não existe um boletim de ocorrência feito por esse estudante ou qualquer outro relatando esse tipo de ameaça. A segurança da UFPB é feita pra proteger o patrimônio da instituição”, declarou.

Nesta terça-feira (18), na UFPB, amigos prestaram uma homenagem em um ato intitulado ‘pela memória de Alph #JustiçaporALph’.
Nota do DCE da UFPB

“O DCE UFPB lamenta a morte do estudante de Filosofia Alph Tomaz, ex-coordenador geral de nossa entidade na gestão “Pra Frente” nos anos de 2016/2017. Sendo também presidente do Centro Acadêmico de Filosofia por três anos. Alph foi conselheiro estudantil do CONSUNI (Conselho Superior Universitário) por dois anos, e membro estudantil na comissão da revisão estatutxária da UFPB (ESTATUINTE) pelo CCHLA. As diferenças políticas nesse momento são insignificantes, pelo tamanho da perda do Movimento Estudantil da UFPB no dia de hoje, desejamos conforto aos familiares e amigos/as. Quando um/a estudante morre todos/as nós sofremos, pois é a interrupção de sonhos e metas comuns a todos/as nós estudantes que fazemos parte da UFPB”.

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