ÁGUA COM HOMÔNIO E ANTIDEPRESSIVOS?


ÁGUAS, EFLUENTES Vida aquática comprometida.


A contaminação ambiental por resíduos de medicamentos é tão invisível quanto perigosa. As drogas são utilizadas para estimular ou bloquear respostas fisiológicas dos organismos humanos e animais. O destino destes fármacos após sua utilização representa uma ameaça ambiental, onde as moléculas que curam seguem contaminando de maneira perigosa os leitos d’água e consequentemente a vida aquática e os seres humanos. O desenvolvimento de técnicas analíticas mais sensíveis tem permitido verificar a ocorrência de fármacos em águas e efluentes em baixas concentrações. O constante aporte destas substâncias no ambiente pode resultar em graves efeitos ao ambiente aquático e até mesmo à saúde humana.

O Brasil é um dos países que mais consome medicamentos para controle da ansiedade e depressão. Os medicamentos mais prescritos e, consequentemente, mais encontrados em ambientes aquáticos incluem diazepam, clonazepam, fluoxetina, buspirona e risperidona, entre outros. A excreção da maioria destas drogas e dos seus metabólitos ocorre pela urina. O uso em larga escala de fluoxetina levou a detecção da droga no ambiente aquático. Além da presença da fluoxetina em águas e efluentes tratados, Brooks, et al detectaram a fluoxetina em tecidos de peixes capturados no Texas, em 2005. As consequências desta contaminação no meio aquático ainda são desconhecidas.

Os estrogênios sintéticos também foram detectados e são classificados como desreguladores endócrinos e caracterizam-se por afetar adversamente o desenvolvimento e reprodução de organismos aquáticos. Também estão relacionados ao desenvolvimento de vários tipos de cânceres em humanos. Alguns dos efeitos adversos causados por fármacos incluem toxicidade aquática, desenvolvimento de resistência em bactérias patogênicas, genotoxicidade, e desregulação endócrina. Estudos com animais indicam que a exposição a hormônios ativos, aumenta a vulnerabilidade a tipos de câncer sensíveis aos hormônios, como os tumores na mama, próstata, ovários e útero.


A maior parte dos fármacos que chega às ETE é proveniente de excreção metabólica após prescrição na medicina humana ou veterinária. Os resíduos seguem com o esgoto bruto para as ETEs onde são, na maioria dos casos, submetidos a processos convencionais de tratamento. Contudo, os processos convencionais a que são submetidos os esgotos domésticos, baseados na degradação biológica dos contaminantes, não são eficientes para a completa remoção de fármacos residuais por possuírem ação biocida ou estruturas químicas complexas não passíveis de biodegradação. No entanto, também devem ser considerados os efluentes de indústrias farmacêuticas, efluentes rurais, a presença de fármacos no esterco animal utilizado para adubação de solos e a disposição inadequada de fármacos após expiração do prazo de validade. Portanto, o descarte de resíduos farmacêuticos nos efluentes de ETEs deve ser minimizado o máximo possível.


A contaminação ambiental por resíduos de medicamentos é um problema socioambiental global e o desenvolvimento de formas alternativas de tratamento de resíduos é necessário. Neste ponto, a tecnologia de ozônio pode ser muito útil.

Dentre as estratégias mais recentemente estudadas, destaque é dado aos chamados processos oxidativos avançados (POAs), um conjunto de técnicas que se caracterizam pela utilização de reações radicalares, especialmente pela geração de radicais OH em solução. Tais reações são inespecíficas e idealmente podem resultar na mineralização, ou seja, oxidação completa de moléculas orgânicas a CO2 e H2O.

O ozônio pode atuar na oxidação de contaminantes por mecanismo direto ou indireto. A degradação de amoxicilina, bezafibrato, diclofenaco, ibuprofeno, e paracetamol em concentrações entre 1,51 a 365 mg L-1 foi estudada empregando o processo de ozonização. A ozonização direta mostrou-se eficiente na oxidação dos fármacos (>90%), com exceção de ibuprofeno cuja degradação só foi possível pela combinação de O3 com H2O2, atingindo 90% de oxidação após 10 min de reação. Os POAs mais utilizados e estudados incluem a utilização de radiação UV, ozônio e fotocatálise heterogênea. Os estudos demonstram que existe efeito sinérgico da combinação dos processos de ozonização e fotocatálise heterogênea, demonstrando a potencialidade de uso do sistema combinado.

Referências:
-Aquatic ecotoxicology of fluoxetine.Brooks BW1, Foran CM, Richards SM, Weston J, Turner PK, Stanley JK, Solomon KR, Slattery M, La Point TW. Toxicol Lett. 2003 May 15;142(3):169-83
-Contaminação das águas por resíduos de medicamentos: ênfase ao cloridrato de fluoxetina Water contamination by drugs residues, with an emphasis in fluoxetine chloridrate. Sueli Ivone Borrely et al. O Mundo da Saúde, São Paulo – 2012;36(4):556-563.
-Degradação de fármacos residuais por processos oxidativos avançados. Silene Alessandra Santos Melo et al. Quím. Nova vol.32 no.1 São Paulo 2009.
-Andreozzi, R.; Canterino, M.; Marotta, R.; Paxéus, N.; J. Hazard. Mat. 2005, 122, 243.
-Dantas, R. F.; Canterino, M.; Marotta, R.; Sans, C.; Esplugas, S.; Andreozzi, R.; Water Res. 2007, 41, 2525.

Postar um comentário

0 Comentários