A LUTA CONTRA O FASCISMO CONTINUA

O próprio governo, em plena luta para não ser apeado antes do tempo pelas forças do fascismo, contribui com bilhões de reais em publicidade nas publicações identificadas como quartéis da ultradireita golpista

Nesse embate entre grande parcela da esquerda brasileira e o domínio da mídia conservadora, que ora caça o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uso de sítio e visita a apartamento, é preciso deixar claro que a ultradireita faz esse estrago todo não porque seus argumentos sejam os mais justos, os mais dedicados à maioria dos brasileiros. Mas pelo simples fato que tem mais dinheiro e, com esse dinheiro, compra e mantém um exército de colaboradores. O dinheiro tem um efeito hipnotizador, a ponto de alguns deles se venderem por quase nada, ninharia para os donos do poder.
A luta contra o fascismo, no Brasil, demanda um ajuste no curso dos acontecimentos

Não é que falte coragem aos valorosos jornalistas que, com o peso de seus nomes e do trabalho que exercem, saem em defesa do Estado democrático e de Direito, na luta pela extinção do sistema capitalista e se unem aos esforços internacionais por um mundo socialmente justo e economicamente igualitário. Falta apoio. Falta organização. Sobra, sim, heroísmo nos jornais, revistas e algumas poucas emissoras de rádio, na internet ou não, que circulam – diariamente, no caso do Correio do Brasil – sob condições de pressão absoluta, sem jamais abandonar os leitores, os ouvintes, ávidos pelas notícias da resistência.

O apoio publicitário é escasso, como determina o cartel da mídia alimentada pelas verbas oficiais e as empresas, públicas e privadas, que sustentam os pilares de Wall Street e da City, na sociedade brasileira. A busca pela informação é dificultada, ao máximo, para os meios de comunicação independentes. Prova é que parcela do Judiciário vaza quilos de processos aos veículos orientados para o apoio ao golpe de Estado em curso. A própria presidenta da República não resistiu à tentação de ver o nominho impresso em artigo publicado justo naquele jornal conservador paulistano que a prefere fatiada, salgada e exposta pelas ruas da corte.

Fascismo dominante

Além da contribuição editorial, o governo Dilma, em plena luta para não ser apeado antes da hora, contribui com bilhões de reais em publicidade nas publicações identificadas como quartéis da ultradireita golpista. Este fato é meramente ilustrativo do volume implacável de obstáculos impostos, cotidianamente, no dia a dia dos brasileiros que resistem – alguns há décadas – contra a máquina fascista que trabalha, sem descanso, para enterrar qualquer tentativa de democratização da mídia nacional.

Mas é naquele momento, quando falta bala na agulha, o suporte aéreo não aparece e a cavalaria acaba de avisar que teve um problema e não está mais a caminho, justo quando a batalha segue feroz, que é preciso ter pé quente. E cabeça fria. Em recente entrevista a blogueiros, o próprio Lula reparou no fato de que, enquanto as maiores empresas do país sustentam o Instituto Millenium – uma espécie de matéria escura que une os interesses político-econômicos dos donos da mídia conservadora – os produtores, os comandantes da mídia independente sequer conseguem conversar, durante 30 minutos, sem quase sair no tapa.

As iniciativas de brasileiros, de jornalistas, destes dirigentes que ainda mantém viva a luta de heróis como Carlos Marighella, Leonel Brizola, entre tantos outros, segundo Nietsche, submetem-se à lei da selva e, aqueles que sobreviverem, sairão mais fortes, no futuro. Se houver um futuro.

É terrível.

Mas tem sido assim desde a invasão portuguesa. Portanto, não se trata aqui de nenhuma novidade. Apenas pensávamos – erroneamente, como sabemos hoje – que a eleição de um governo de centro, como foram Lula e, agora, Dilma Rousseff, traria algum alento na batalha que travamos, a céu aberto, contra o domínio do ódio, da intolerância, do fascismo.

Diante dos fatos, avaliados os erros no curso dos acontecimentos, a determinação é de ajustar o sextante e seguir em frente, rumo a 2018.

Em resumo: a luta continua.

Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do diário Correio do Brasil.

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