Ipea diz que pesquisa sobre estupro está
errada. Levantamento causou polêmica ao apontar que 65,1% dos
brasileiros apoiam ataque a mulheres que usam roupa curta
Um levantamento que chocou o País
ao mostrar que 65,1% dos brasileiros apoiavam que mulheres que usam
roupa curta sejam violentadas foi corrigido hoje pelo Ipea. Em nota, o
instituto esclareceu que o apoio vem, na verdade, de 26% dos
brasileiros, enquanto 70% discordam total ou parcialmente e 3,4% se
dizem neutros.
Por causa da pesquisa, a jornalista Nana Queiroz criou a campanha “Eu
não mereço ser estuprada”, que teve grande repercussão nas redes
sociais. Até a presidente Dilma Rousseff comentou o levantamento:
“pesquisa do Ipea mostrou que a sociedade brasileira ainda tem muito o
que avançar no combate à violência contra a mulher”.
Leia abaixo a nota do Ipea:
Errata da pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”
Vimos a público pedir desculpas e corrigir dois erros nos resultados
de nossa pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres,
divulgada em 27/03/2014. O erro relevante foi causado pela troca dos
gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que é
agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam
roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Entre os 3.810
entrevistados, os percentuais corretos destas duas questões são os
seguintes:
Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar (Em %)
Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas
(Em %)
Corrigida a troca, constata-se que a concordância parcial ou total
foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a segunda
(26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos
equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a
concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor
inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou
amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias.
O outro par de questões cujos resultados foram invertidos refere-se a
frases de sentido mais próximo, com percentuais de concordância mais
semelhantes e que não geraram tanta surpresa, nem tiveram a mesma
repercussão.
Desfeita a troca, os resultados corretos são os que seguem.
Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa
aos outros, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9%
discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem
discordou), 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordaram
totalmente.
Diante da sentença Em briga de marido e mulher, não se mete a
colher, 11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente,
1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram
totalmente.
A correção da inversão dos números entre duas das 41 questões da
pesquisa enfatizadas acima reduz a dimensão do problema anteriormente
diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião pública.
Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5%
dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se
comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da pesquisa
continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da
sociedade sobre seus preconceitos.
Pedimos desculpas novamente pelos
transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se
sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da
liberdade e da segurança das mulheres.
Rafael Guerreiro Osorio* e Natália Fontoura
Pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e autores do estudo
* O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea pediu sua exoneração assim que o erro foi detectado.
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