Após ofender funcionária negra com
xingamentos racistas, jardineiro esfaqueia homem que tentou defendê-la.
José Severino da Silva disse que se arrepende das ofensas raciais, mas
não da facada
“Ele disse que a empresa não ia para frente porque contratava
pretos”. Parece absurdo, porém, em pleno 2014, essa foi a ofensa que uma
operadora de caixa na região central de Bauru ouviu na noite desta
sexta-feira (4). Após ofender a funcionária, José Severino da Silva, 43
anos, ainda esfaqueou Dirceu Pereira Gonçalves, 35 anos, que foi tirar
satisfações após ouvir o ato racista.
O crime ocorreu dentro de um estabelecimento, localizado na rua Treze
de Maio. Descontente com a demora na fila, o jardineiro José Severino
começou a ofender a funcionária, de 22 anos, que teve a identidade
preservada.
José Severino da Silva (foto) hostilizou funcionária negra e esfaqueou homem que tentou defendê-la (Reprodução)
Diante dos xingamentos racistas, outros funcionários e também
clientes se indignaram e foram tirar satisfação com o homem. Ele conta
que deixou as compras e tentou ir embora do estabelecimento, contudo,
foi parado por seguranças do local.
Foi quando, de acordo com a Polícia Militar (PM), a discussão se
tornou ainda mais intensa com o cliente Dirceu Gonçalves. Em determinado
momento, o jardineiro tirou um punhal de poucos centímetros e atingiu o
homem no peito, próximo ao coração.
Por sorte, era próximo ao horário de fechamento e havia poucos
clientes no estabelecimento comercial. A vítima foi socorrida pela
Unidade Resgate (UR) do Corpo de Bombeiros e encaminhado ao
Pronto-Socorro Central (PSC).
O jardineiro José Severino da Silva foi preso ainda dentro do local,
pela Força Tática da PM. Ele foi conduzido à Central de Polícia
Judiciária (CPJ), onde, até o momento,o caso ainda não havia sido
registrado.
Vítima
Informações preliminares da PM davam conta de que a vítima estava em estado grave quando foi socorrido.
Contudo, pouco após ter sido levado ao PSC e ter recebido
atendimento, Dirceu Gonçalves deixou a unidade hospitalar. Ele não teria
recebido alta dos médicos.
Por volta das 22h, o policiamento foi até a residência da vítima,
porém, ela não foi localizado. Não se sabia mais qual era seu estado de
saúde.
‘Eu me arrependo de ter xingado, mas não da facada’
Sentado no chão da Polícia Civil, José Severino da Silva parecia sequer ter noção do que havia acabado de fazer ontem à noite.
Ele se dizia homem honesto e contou que havia ido comprar pão com
mortadela no lugar. O jardineiro, que veio de Alagoas, disse estar
arrependido somente do ato de racismo e alegou ter sido agredido
primeiro.
Leia a entrevista realizada pelo Jornal da Cidade
Jornal da Cidade – Você xingou ela mesmo?
José Severino – Xinguei de preta. ‘Tava’ demorando muito. Uma meia hora já. Eu disse que ‘tava’ demorando porque ela era morena.
JC – Mas você disse ‘morena’?
José – Na verdade, eu disse preta mesmo.
JC – E o que aconteceu logo depois?
José – Ela ficou ofendida, né? O cara que estava atrás de mim também.
Quando o povo ficou bravo, eu até falei que não ia comprar mais nada e
ia embora. Deixei minhas compras ali em cima e quis ir embora. Mas aí
não deixaram.
JC – E o que você estava comprando
José – Mortadela e três ‘pãozinho’
JC – E aí?
José – Aí que já tinha um segurança na minha frente. E chegou esse cara e
me deu um soco no olho. Aí eu tirei a faquinha que eu uso e acertei
ele.
JC – E pra que o senhor usa essa faquinha?
José – Uso pra cortar as plantinhas. Sou jardineiro. Sou trabalhador. Sou honesto. Num tenho passagem.
JC – O senhor bebeu algo?
José – Não. Nada, nada.
JC – E o senhor está arrependido?
José – Tô arrependido de ter xingado a moça.
JC – E da facada?
José – Não. Ele que veio pra cima, né? Eu arrependo de ter xingado, mas não da facada.
JC – E se ele morresse?
José – Mas e se ele tivesse me cegado com o soco?
JC – E se o senhor for preso?
José – Fazer o quê? Mas não xingo mais.
JCNet
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