OLHOS QUE NÃO LÊEM, DEPUTADOS QUE NÃO PENSAM (PORTUGAL)


Aquilo que se passou no dia 28 de Fevereiro no nosso Parlamento foi, a meu ver, deplorável.

Que Portugal tem uma democracia que não se recomenda já todos sabíamos. Entre políticos que mentem descaradamente e cidadãos que vão para a praia em vez de ir votar, a democracia portuguesa é-o mais no papel que de facto. E porque haveria de ser de outra forma se nunca somos chamados a pronunciar-nos sobre assuntos de relevância nacional? E nós, portugueses, já nos habituámos a isso.

Quando, a 14 de Fevereiro de 2012, fui recebido no Parlamento pela 8.ª Comissão a propósito da petição que enviei pedindo um referendo nacional ao Acordo Ortográfico de 1990, já sabia a resposta que iria ter e já sabia que não haveria referendo nenhum. Os deputados não suportam ser desautorizados pelo seu próprio povo.

Ainda assim, temos um Parlamento. E, enfim, dava-nos um certo jeito que, nem que fosse de vez em quando, ele escutasse o povo que, em teoria, representa.

Aquilo que se passou no dia 28 de Fevereiro no nosso Parlamento foi, a meu ver, deplorável. E só não digo que foi uma antecipação do Carnaval porque não deu vontade nenhuma de rir.

Aquilo a que assistimos na passada sexta-feira, aquando da “discussão” da Petição pela desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico, foi um triste espectáculo de admissão de ignorância por parte, principalmente, das bancadas do PS(D). E escrevo PS(D) porque aquele “D” ora é pronunciado ora emudece rotativamente no Governo de Portugal, sem que existam diferenças visíveis na governação. Lá está.

 É uma daquelas consoantes pseudomudas e facultativas de que o Acordo Ortográfico tanto gosta.

A petição em causa não foi uma simples petição apresentada por um grupo de cidadãos onde, orgulhosamente, me incluí. Foi uma petição que levou consigo um estudo cabal, levado a cabo pelo Professor Rui Duarte, onde se provou que os instrumentos da suposta “aplicação” do acordo o violam grosseiramente. 

Mais, a petição foi precedida pela existência de um grupo de trabalho parlamentar onde foram apresentadas provas documentais do caos ortográfico instalado. E, mais ainda, foi precedida da visita de dois professores brasileiros que vieram, em nome do Senado Federal, dinamitar de viva voz o Acordo Ortográfico de 1990. 

 Qualquer cidadão que duvide do que escrevo só precisa de ir ao website do Parlamento ou ao YouTube. Está tudo lá. Se querem ver provas do caos, visitem a Biblioteca do Desacordo Ortográfico, de João Roque Dias. Uma pesquisa rápida no Google levar-vos-á até lá.

Mas os deputados não podiam perder tempo com isso. Estudar o tema dá trabalho. E afinal que importa? É “só” a Língua Portuguesa. Pode-se vender sem mais nem menos. É mercadoria. A Guiné Equatorial que o diga.

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