Os ajustamentos rápidos e profundos são um mito?

Camilo Lourenço
Primeiro foi a Grécia a falhar as metas orçamentais (com muitas culpas no cartório). Portugal pode seguir-lhe o caminho: o deslize orçamental de 2011 obrigou à 4ª mistificação do défice em dez anos e não é seguro que os 4,5% de 2012 sejam cumpridos.

Primeiro foi a Grécia a falhar as metas orçamentais (com muitas culpas no cartório). Portugal pode seguir-lhe o caminho: o deslize orçamental de 2011 obrigou à 4ª mistificação do défice em dez anos e não é seguro que os 4,5% de 2012 sejam cumpridos.

E se de repente a este grupo se juntarem Itália e Espanha? Vejamos: a Itália, embora com um superavit primário (défice sem juros da dívida pública), tem uma dívida insustentável para as actuais taxas de juro. Em Espanha o défice já não vai ser de 6%, mas 8% (acima do nosso, excluindo o fundo de pensões).

O que é que isto sugere? Que não se fazem ajustamentos de quatro (ou mais) pontos percentuais em dois anos quando os países têm problemas estruturais no Estado e na produtividade (o FMI sabe isso, mas a Comissão e o BCE são teimosos). Porque os problemas no Estado impedem reduções consideráveis de despesa de um ano para outro e porque os problemas de produtividade conduzem à estagnação, ou a recessões, reduzindo a receita fiscal.

Por outras palavras, começa a ganhar forma um cenário de pesadelo: o de que nenhum país do sul da Europa consiga reequilibrar as contas públicas, e a conta corrente, no espaço de tempo "recomendado" por Bruxelas e/ou pela Troika (e ainda falta a Irlanda ). A menos que reduzam consideravelmente o nível de vida para reequilibrar a BTC (menos consumo = menos importações). Isso é exequível? Em quatro anos, sim; em dois, é duvidoso

A Comissão e o BCE precisam de falar mais com os técnicos do FMI ligados aos programas de ajustamento. Aprendiam umas coisas com quem anda no terreno e poupavam-se erros que podem ter consequências imprevisíveis.


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