DINHEIRO TE VALORIZA?

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Desde que comecei a trabalhar com a ideologia de que o dinheiro não é tudo na vida, recebo diversas críticas, dizendo que sou “filhinho de mamãe”. Cheguei até a receber de uma grande amiga a resposta de que não preciso do dinheiro.

Pois é, em um mundo capitalista, quem se preocupa com o próximo é destituído de seu posto por visões pejorativas e difamatórias, para que sigam todos a mesma lógica individualista e horrenda do neoliberalismo.

Quero iniciar afirmando, que sim, tenho uma posição confortável na sociedade brasileira, sem histórico de precisar lutar pelo meu sustento, nunca passei por uma dificuldade, estão todos corretos quando me dizem isso, mas aí que está, por que não olhar de outra forma?

Porquê não entender que estou aproveitando do meu privilégio branco, não pegando e doando milhões para uma instituição e não olhando na cara as pessoas que realmente precisam, pois isso sim é valorizado pelas pessoas de forma ignorante, até porque, sempre escuto: olha que lindo, o Neymar doa milhões para instituições de caridade. E o que ele fez para mudar a situação das pessoas carentes? Assistencialismo é muito bonito, até porquê mantém a lógica perversa do capital.

Mas olhar para mim como um professor que teve a oportunidade de ter um alto conhecimento cultural, uma formação acadêmica adequada, podendo passar essa oportunidade para todas as pessoas, claro, gostaria que fossem todas, mas sei que há pessoas que nem minhas aulas tem condições para realizar.

É muito fácil para um professor gabaritado, formado em Letras em uma federal ou universidade renomada cobrar uns cem reais por mês e nivelar seus alunos, sem pensar no próximo só dando aula para pessoas de alta renda, fazendo do ensino algo apenas para uma elite que pode pagar cem reais pela hora de um profissional. Ninguém vê, que este profissional nada mais faz do que nivelar seus alunos pela classe social, pensando no benefício próprio. Sim, benefício próprio.

Chamo de benefício próprio, pois um professor que cobra cem reais a hora de sua aula, não precisará de muitos alunos no mês para ter uma renda de um professor como eu, que cobro apenas trinta, ou seja, além deste professor estar fazendo do ensino algo para pessoas de até no máximo uma classe médica alta, ele também está pensando no seu luxo.

Fazendo uma conta básica, este professor para receber três mil reais no mês, precisará de no mínimo oito alunos, isso se cada aluno tiver apenas uma aula por semana, quatro vezes no mês. Já eu, com o valor de trinta reais a hora, preciso de vinte e cinco alunos para poder suprir os mesmos gastos.

A mas, professor, você estará se desgastando muito mais do que o outro. Sim, com certeza. Digo mais, estarei também muito mais desgastado do que esse professor, com certeza, mas para mim a ganância de sempre mais e mais, não faz sentido, me vale mais aproveitar para ajudar a sustentar o que tenho do que morrer em minhas ambições sem sentido.

Mas pense por outro lado. Estarei ensinando e podendo passar o conhecimento que tive o privilégio de ter para muito mais pessoas do que o outro professor.

Assim, com esse argumento retiro a visão pejorativa de que não preciso do dinheiro, pois na suposição, eu preciso para sobreviver o mesmo valor que o outro professor, o que muda, é a quantidade de alunos pelos quais poderei difundir as aulas e sobretudo, o que é mais importante, posso garantir, que com uma aula por semana, pagando cento e vinte reais e não quatrocentos, estarei dando aula para classes sociais muito mais baixas do que o professor que cobra cem a hora.

Vale deixar claro, que com esta escolha, tive que mudar o sonho de morar na capital paulista para morar no interior, pois minha renda não comportaria viver sozinho onde sempre estive acostumando.

Um professor dá aula para seu próprio luxo ou para tornar as pessoas cidadãos pensantes? Fica a dúvida, né?

*Danilo Espindola Catalano é escritor, pesquisador e professor de espanhol, dedicado a passar a cultura latino-americana aos seus alunos. Graduado em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola e Especializando em Educação e Cultura pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais Brasil.

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