CABELEIREIRO QUE DISSE QUE NÃO CONTRATA ''PETISTA, PRETO E VIADO'' É CONDENADO POR INJURIA E DISCRIMINAÇÃO

Ministério Público classificou o comportamento do dono do salão de belezas como “criminoso e de graves efeitos sociais”. Em sua defesa, Diego alegou que os áudios foram retirados de contexto e que o conteúdo refletia “um momento político do país, com a esquerda dominando o cenário”

Diego Beserra Ernesto


Por Felipe Borges

A Justiça de São Paulo condenou o cabeleireiro Diego Beserra Ernesto, de 38 anos, por injúria e discriminação depois da divulgação de áudios em que ele afirmava não contratar pessoas “gordas, petistas, pretas e viadas”. As mensagens, gravadas em janeiro de 2023, foram enviadas a Jeferson Dornelas, um homem negro que sublocava uma parte do salão de Diego, localizado em Perdizes, zona oeste da capital paulista.

O caso veio à tona após Jeferson registrar boletim de ocorrência. Ele havia informado ao proprietário do salão que uma assistente desistira de assumir a vaga um dia depois de aceitar o emprego. A resposta de Diego, enviada por áudio, deixou clara sua postura discriminatória.

Em uma das gravações, o cabeleireiro afirma ter estabelecido “regras” para contratação. Em outra, reforça o preconceito com termos ofensivos e de desprezo. A repercussão do caso levou o Ministério Público de São Paulo (MPSP) a abrir investigação, que confirmou o caráter discriminatório da conduta.

Durante as apurações, a profissional Ana Carolina de Sousa, mencionada nas mensagens, relatou que chegou a comparecer a uma entrevista no salão, mas desistiu da vaga após perceber olhares hostis do proprietário. O MPSP também constatou que todos os funcionários do estabelecimento eram brancos, magros e heterossexuais, o que reforçou o padrão de exclusão.

A promotora Mariana Camila de Melo classificou a atitude do réu como “criminoso e de graves efeitos sociais”. Para ela, o comportamento de Diego ultrapassou o limite da liberdade de expressão e demonstrou repulsa deliberada a grupos historicamente marginalizados.

Na defesa, o cabeleireiro alegou que os áudios foram “tirados de contexto” e que refletiam apenas “o clima político polarizado” do período. Disse ainda conviver bem com pessoas negras, gordas e homossexuais, e negou qualquer tipo de discriminação em seu salão. Seu advogado, José Miguel da Silva Júnior, sustentou que as declarações foram distorcidas e que o acusado atende “todos os públicos” há anos.

Os argumentos, porém, não convenceram a Justiça. Em sua sentença, a juíza Manoela Assef da Silva considerou que “não há contexto possível que justifique a postura discriminatória do réu”. Segundo a magistrada, a tentativa de associar o discurso preconceituoso a um suposto contexto político apenas reforça “visões deturpadas e excludentes sobre a diversidade humana”.

Diego Beserra Ernesto foi condenado a dois anos, quatro meses e 24 dias de reclusão, pena que será cumprida em regime aberto, substituída por prestação de serviços comunitários e pagamento de um salário mínimo a uma instituição social. Ele também deverá indenizar Jeferson Dornelas em R$ 15.180, além de pagar o mesmo valor a um fundo público por danos morais coletivos.

A sentença ressalta que a punição tem valor simbólico e pedagógico: “O discurso de ódio não é opinião — é crime. A convivência democrática se constrói com respeito e inclusão, não com a exclusão do outro”, escreveu a juíza.

https://www.pragmatismopolitico.com.br/

GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

Postar um comentário

0 Comentários