SOLDADO ISRAELENSE TIRA A PRÓPRIA VIDA APÓS VOLTAR DE GAZA: "SINTO CHEIRO DOS CORPOS O TEMPO TODO"

A morte de Edri ocorreu após meses de sofrimento psicológico intenso, agravado por memórias recorrentes de combates e da manipulação de corpos. “Ele me dizia: ‘Mãe, eu sinto o cheiro dos corpos e os vejo o tempo todo’”

Daniel Edri

por Felipe Borges
Pragmatismo Político

Daniel Edri, soldado israelense de 33 anos, morreu no último sábado após atear fogo em si mesmo dentro de um carro em uma floresta próxima a Safed, no norte de Israel. A morte foi confirmada no local. Segundo relatos da família, Edri sofria de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) causado pelas experiências traumáticas vividas durante missões militares na Faixa de Gaza e no sul do Líbano. 

As informações são do Haaretz, o maior jornal de Israel.

A morte de Edri ocorreu após meses de sofrimento psicológico intenso, agravado por memórias recorrentes de combates e da manipulação de corpos de soldados mortos. Segundo sua mãe, Sigal Edri, o filho relatava ver e sentir o cheiro dos corpos com frequência, além de acordar no meio da noite em crises violentas, acreditando estar em zona de guerra. “Ele me dizia: ‘Mãe, eu sinto o cheiro dos corpos e os vejo o tempo todo’”, contou em entrevista ao portal Ynet.

A morte ocorreu após meses de sofrimento psicológico intenso. “Ele me dizia: ‘Mãe, eu sinto o cheiro dos corpos e os vejo o tempo todo’”.

Daniel serviu por aproximadamente 18 meses como reservista. Durante esse período, atuou como motorista em missões de apoio logístico às tropas em Gaza e no Líbano, mas também esteve exposto diretamente às consequências do combate, transportando soldados feridos e mortos. De acordo com a mãe, ele destruiu objetos pessoais em seu apartamento em duas ocasiões durante licenças, incluindo instrumentos musicais, e socou paredes até sangrar.

Apesar dos sinais de deterioração psicológica, o processo de reconhecimento oficial do TEPT por parte do Ministério da Defesa israelense ainda não havia sido concluído no momento da morte. A mãe afirma que Daniel buscava tratamento e havia sido reconhecido informalmente como um paciente com transtornos mentais relacionados ao serviço militar, mas que a burocracia impediu a oficialização da condição. Ele chegou a tentar o suicídio anteriormente e tinha uma internação programada em um centro de reabilitação para o domingo seguinte à sua morte.

A última mensagem enviada por Daniel à sua mãe dizia apenas: “Me perdoe, sinto muito.” A seus irmãos, escreveu: “Lembrem de mim pelo que foi bom.” Um dos irmãos, ao ler a mensagem, tentou ligar e ouviu seus últimos suspiros pelo telefone.

Daniel também havia perdido dois amigos de infância no ataque ao festival de música Nova, em 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas invadiram o sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas. O trauma da guerra, somado às perdas pessoais, agravou seu estado mental.

Recusa de funeral militar

A família de Daniel solicita que ele seja reconhecido como soldado caído em combate, com direito a sepultamento militar. “Ele perdeu a alma em serviço e a vida por causa do serviço militar. Se não puderam salvar a vida dele, não devem violar seu corpo e alma uma segunda vez”, declarou Sigal.

A Força de Defesa de Israel (IDF) afirmou, em nota oficial, que a lei permite funerais militares apenas para soldados que morrem em serviço ativo — o que não era o caso de Daniel no momento do suicídio. Por isso, o pedido da família foi negado.

Segundo a imprensa local, ao menos 43 soldados israelenses cometeram suicídio desde o início da guerra em Gaza, iniciada em outubro de 2023.

O Ministério da Defesa afirmou que, em fevereiro deste ano, Daniel foi formalmente identificado como portador de transtornos mentais ligados ao serviço e que diversas opções de tratamento foram oferecidas, mas ele não compareceu às sessões. A família contesta essa versão, alegando que o processo de reconhecimento da condição foi lento e ineficiente.

Precedente reconhecido

Em junho de 2023, a IDF reconheceu o reservista Eliran Mizrahi como soldado caído após ele cometer suicídio enquanto sofria de TEPT. Inicialmente, o Exército também havia se recusado a conceder-lhe funeral militar, mas reverteu a decisão após investigação revelar que ele participava de preparativos para uma missão reservista no período anterior à morte.

A mãe de Daniel Edri alega que o mesmo critério deveria ser aplicado ao filho. “Ele já havia entregado a alma. Por que esperaram até ele entregar o corpo?”, lamentou.

Daniel Edri deixa a mãe, dois irmãos e uma irmã. O pai faleceu quando os filhos ainda eram crianças. A família segue pressionando as autoridades por reconhecimento oficial, enquanto o número de militares afetados psicologicamente pelos conflitos armados continua a crescer em Israel.

SE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI… Saiba que o Pragmatismo não tem investidores e não está entre os veículos que recebem publicidade estatal do governo. Fazer jornalismo custa caro. Com apenas R$ 1 REAL você nos ajuda a pagar nossos profissionais e a estrutura. Seu apoio é muito importante e fortalece a mídia independente. Doe através da chave-pix: pragmatismopolitico@gmail.com

GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

Postar um comentário

0 Comentários