SERVIDOR RELATA AO STF PRESSÃO PARA PRODUZIR RELATÓRIO QUE LIGASSE LULA A FACÇÃO

Ex-analista de inteligência do Ministério da Justiça revelou que foi orientado, na gestão Bolsonaro, a cruzar dados eleitorais em busca de vínculo entre o então candidato e o Comando Vermelho

Por Vanilson Oliveira

Segundo Clebson, o objetivo do levantamento era verificar se Lula teria obtido mais votos em regiões sob controle do Comando Vermelho
Ricardo7 Stuckert/PR

Em depoimento prestado nesta segunda-feira (14/7) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-analista de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira revelou ter sido pressionado, durante o segundo turno das eleições de 2022, a produzir um levantamento que vinculasse o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva a áreas supostamente dominadas por facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV).

O pedido, segundo ele, partiu diretamente da então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, durante a gestão do ministro Anderson Torres no governo de Jair Bolsonaro.Leia também: "Enquanto eu falo, o senhor fica quieto", diz Moraes ao repreender advogado de defesa

O servidor, que atuava na Coordenação-Geral de Inteligência, afirmou ter recebido a ordem para cruzar dados de votação do segundo turno com territórios associados a organizações criminosas. Em mensagem enviada à ex-esposa à época, mencionada na audiência, Clebson relatou o impacto emocional da solicitação: “Surgiu uma demanda daquelas, diretamente da diretora (Marília Alencar). Eu estou muito mal, mas tenho que acelerar”, escreveu no dia 21 de outubro de 2022.

Ao ser questionado pela procuradora Gabriela Starling sobre o motivo de seu abalo emocional, Clebson disse que sempre atuou de forma ética e receber aquele tipo de ordem, contrariava sua índole.

“A gente que trabalha na atividade de inteligência há alguns anos, a gente luta por conta da atividade de inteligência imparcial, ética e, quando vê pessoas, com o mínimo possível de autoridade, tentando destoar disso, a gente fica triste. A gente fica perdido”, desabafou.Leia também: Bolsonaro volta a se dizer perseguido: "Querem me destruir por completo"

Segundo Clebson, o objetivo do levantamento era verificar se Lula teria obtido mais votos em regiões sob controle do Comando Vermelho, enquanto dados referentes ao desempenho eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) foram ignorados.

O ex-analista revelou que os resultados do então presidente foram deixados de lado no cruzamento de informações. “Depois de um certo tempo, foi pedido só Lula. Estavam em folhas diferentes [o BI sobre os dados de Lula e Bolsonaro]”, declarou. A análise, segundo ele, foi desenvolvida no software Microsoft Power BI, ferramenta utilizada para visualização de dados estratégicos.

Testemunha de acusação

O STF ouviu Clebson na condição de testemunha de acusação, no âmbito da investigação contra os núcleos 2, 3 e 4 da suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito.

O chamado núcleo 2, em especial, é acusado de usar estruturas da máquina pública, como a Polícia Rodoviária Federal (PRF), para dificultar o acesso de eleitores às urnas, principalmente no Nordeste, onde Lula registrou sua maior vantagem contra Bolsonaro.

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