ROBERTO JUSTUS DIZ QUE VAI PROCESSAR PROFESSOR E PSICÓLOGA QUE SUGERIRAM MORTE DA SUA FILHA:" DE ONDE VEM TANTO ÓDIO?"


Um professor atacou a filha de Justus e sua indignação é compreensível. Mas no seu discurso Justus repetiu várias vezes que gostaria de entender a “origem de tanto ódio”, ignorando que esse mesmo ódio foi naturalizado e incentivado por figuras públicas que ele apoiou. Milhares de pessoas celebraram a morte de Maria Letícia, esposa de Lula, inclusive médicos do próprio hospital onde ela foi internada. O falecimento do neto do ex-presidente também foi alvo de comemorações nas redes. O empresário esquece que Jair Bolsonaro, a quem declarou apoio, disse em campanha que queria “fuzilar a petralhada” e foi um dos principais disseminadores de discurso de ódio e desinformação no país. A perplexidade de Justus, nesse contexto, soa seletiva


Por Ana Oliveira e Felipe Borges | Pragmatismo Político

O empresário Roberto Justus e sua esposa, Ana Paula Siebert, se pronunciaram neste domingo (6) após ataques direcionados à filha do casal, de cinco anos de idade, ganharem repercussão nas redes sociais. As mensagens ofensivas surgiram após a publicação de uma foto em que a criança aparece segurando uma bolsa de grife, supostamente avaliada em R$ 14 mil.

A imagem, publicada na última sexta-feira (4), passou a circular no X (antigo Twitter) acompanhada de críticas ao estilo de vida ostentado. Em meio aos comentários, algumas postagens continham ameaças explícitas. Uma delas, atribuída a um homem que se identificava como professor, sugeria: “Só guilhotina…”. Outra usuária escreveu: “Tem que mtr [sic] mesmo!”, em provável referência à palavra “matar”.

Diante da repercussão, Justus gravou um vídeo em que se mostrou indignado. “Extrapolou o bom senso. É uma coisa tão maluca, tão louca… Falaram que tinha que matar a nossa filha com guilhotina. Assassinar a nossa família. De onde vem tanto ódio? Gente, o que é isso que está acontecendo no Brasil?!”, afirmou o empresário.

Ana Paula Siebert também se manifestou. “Instigar a morte, instigar o ódio, é uma coisa inaceitável. Por isso que a gente está se pronunciando. Se a gente começa a assinar embaixo de que internet é terra de ninguém e todo mundo pode falar o que quiser, não é assim”, declarou.
Professor da UFRJ

Uma das postagens mais comentadas foi feita por Marcos Dantas Loureiro, ex-docente da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em sua conta no X, ele se apresentou como professor e fez alusão ao uso de guilhotina, instrumento historicamente associado à execução de pessoas durante a Revolução Francesa.

Após a repercussão negativa, a UFRJ divulgou nota oficial esclarecendo que Marcos Dantas é aposentado desde 2022 e que suas manifestações não representam a instituição. “A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) repudiam qualquer tipo de expressão de pensamento que incite à violência ou agrida a terceiros”, diz o comunicado.

O currículo de Marcos Dantas registra passagens por cargos públicos durante o primeiro governo Lula. Ele foi secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação (2004-2005), secretário de Planejamento e Orçamento do Ministério das Comunicações (2003) e integrou o Conselho Consultivo da Anatel. Atualmente, se identifica como líder do ComMarx, grupo de pesquisa em informação, comunicação e cultura baseado na obra de Karl Marx.

Debate sobre discurso de ódio

Ao longo de seu pronunciamento, Justus questionou repetidamente a “origem de tanto ódio”, sem mencionar ou reconhecer episódios anteriores em que figuras públicas — inclusive apoiadas por ele — foram associadas à disseminação de discursos violentos ou ofensivos.

Nos últimos anos, a naturalização do discurso de ódio nas redes sociais tem sido tema recorrente em debates públicos. Casos como a morte de Maria Letícia Lula da Silva, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2017, foram acompanhados por manifestações comemorativas, inclusive atribuídas a profissionais da área médica do hospital onde ela estava internada. O falecimento do neto de Lula, em 2019, também foi alvo de celebrações em redes sociais, com registros amplamente divulgados.

Na esfera política, o então candidato Jair Bolsonaro, apoiado por Roberto Justus nas eleições de 2018, afirmou durante um comício que pretendia “fuzilar a petralhada”. A frase foi amplamente repercutida e é frequentemente citada como exemplo da retórica beligerante adotada por setores da política nacional. Durante seu mandato, Bolsonaro também foi acusado por entidades de checagem e pesquisadores de impulsionar desinformação e antagonismos com frequência.

As reações ao vídeo de Justus, portanto, também envolveram esse contexto. Parte dos comentários nas redes apontaram incoerência ou seletividade na indignação do empresário, argumentando que o ambiente digital hostil foi, em parte, construído e normalizado por atores que ele mesmo endossou.

Investigação e responsabilidade

Até o momento, não há informações sobre ações legais por parte do casal Justus contra os autores das mensagens ofensivas. A legislação brasileira prevê punições para ameaças, incitação à violência e crimes contra a honra na internet, embora a aplicação das sanções ainda encontre desafios na identificação de autores e na responsabilização penal efetiva, especialmente em casos de perfis anônimos.
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