PASTOR QUE PROMETEU "QUEBRAR A MANDÍBULA DE LULA" É DENUNCIADO POR DESVIO DE R$ 500 MIL

Empresário da fé, pastor Anderson Silva é denunciado por roubar pelo menos R$ 500 mil de fiéis. Fundador da 'machonaria', grupo que prega o "resgate da masculinidade bíblica", o religioso já ameaçou agredir o presidente Lula fisicamente

Pastor é amigo de Nikolas Ferreira


Por Ana Oliveira e Felipe Borges

O pastor Anderson Silva, autodeclarado líder do movimento “Machonaria” e conhecido por discursos inflamados contra lideranças políticas, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfrenta agora acusações graves dentro de seu próprio círculo religioso. Segundo denúncias feitas por 18 ex-integrantes de sua organização, o pastor é suspeito de ter desviado ao menos R$ 500 mil de fiéis e de projetos sociais ligados à entidade.

Os denunciantes anunciaram uma renúncia coletiva em maio deste ano, abandonando cargos de liderança na Machonaria, um projeto sediado em Samambaia Sul (DF) que promete o “resgate da masculinidade bíblica”. A decisão ocorreu após sucessivas tentativas frustradas de convocar o pastor para reuniões internas destinadas a esclarecer a gestão financeira do grupo.

Segundo relatos obtidos pelos ex-pastores, Anderson Silva centralizava todas as decisões administrativas e financeiras, inclusive mantendo controle exclusivo das contas bancárias. Mesmo com uma arrecadação registrada de mais de R$ 626 mil apenas em 2023, havia atraso no pagamento de salários, férias e até mesmo das contas básicas de manutenção do projeto. Parte das atividades sociais voltadas para a comunidade também foi suspensa sem explicações.

“Ele se recusou a prestar contas. Tentamos diálogo, tentamos reuniões, mas o que vimos foi a total ausência de transparência”, disse um dos pastores que preferiu não se identificar por medo de retaliações.

Não é a primeira vez que o nome de Anderson Silva aparece envolvido em conflitos de gestão e poder. Antes mesmo da Machonaria, o pastor já havia sido afastado da liderança de uma igreja que ajudou a fundar, também em meio a questionamentos sobre seu comportamento e conduta administrativa.

A Machonaria é apresentada por Silva como uma “confraria nacional de homens”, voltada à defesa da “hombridade segundo os ensinamentos de Jesus Cristo”. O site oficial do grupo utiliza frases como “Lágrimas, Honra, Adoração e Testosterona!” para atrair seguidores, numa mistura de religiosidade conservadora com apelos à virilidade.

O pastor ganhou projeção nacional em 2023 ao usar seu canal no YouTube para declarar que os evangélicos deveriam fazer orações para que Deus “quebrasse a mandíbula do Lula”. A fala foi feita durante uma gravação ao lado do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), figura recorrente nos espaços da extrema direita religiosa. “Senhor, arrebenta a mandíbula do Lula. Prostra enfermos os ministros do STF, para que eles te conheçam no leito da enfermidade”, disse Anderson Silva no episódio, em tom exaltado.

À época, o então ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que acionaria a Polícia Federal para investigar a conduta do pastor, diante do teor violento da pregação.

Desde então, Silva manteve um perfil ativo nas redes sociais, com discursos centrados na suposta “crise de masculinidade” entre os fiéis e na ideia de que o cristianismo deve recuperar posturas mais “firmes” contra os inimigos políticos e culturais.

A reportagem tentou contato com Anderson Silva, mas até o fechamento deste texto ele não havia se manifestado sobre as acusações.

Ana Oliveira e Felipe Borges são repórteres do Pragmatismo Político

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