EUA BOMBARDEIAM INSTALAÇÕES DO IRÃ E TEERÃ ALERTA ' CONSEQUÊNCIAS DURADOURAS'



Crédito,EPA

Os Estados Unidos atacaram três grandes instalações nucleares no Irã nas primeiras horas deste domingo (22/6).

Isso coloca o país diretamente no conflito entre Israel e Irã.

O presidente dos EUA Donald Trump afirmou que os ataques "obliteraram totalmente" as instalações de enriquecimento nuclear do Irã.

Ele também pediu que o governo iraniano "faça a paz" ou enfrente ataques "muito maiores" no futuro.

O presidente de Israel disse à BBC que o programa nuclear iraniano foi atingido "substancialmente", mas os detalhes completos da ação militar ainda não foram divulgados.

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Em resposta, o ministro das Relações Exteriores do Irã alertou para "consequências duradouras" dos ataques, que ele classificou "ultrajantes".

O órgão de vigilância nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) assegurou que nenhum aumento nos níveis de radiação foi detectado nas últimas horas.

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Ainda na noite de sábado (21/6), no horário de Brasília, Trump fez o anúncio oficial de que os EUA realizaram ataques a três instalações nucleares no Irã.

Os locais atingidos foram Fordow, Natanz e Isfahan (veja a localização das instalações no mapa abaixo).

Poucas horas depois, o Irã confirmou que as três instalações nucleares foram de fato atacadas.

Na sequência, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, emitou um comunicado afirmando que "o presidente Trump e os Estados Unidos agiram com muita força".

Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou a ação dos EUA de uma "escalada perigosa".

Por volta das 23h, no horário de Brasília, Trump fez um pronunciamento à nação, em que alertou que o Irã "deve agora fazer a paz" ou enfrentará ataques "muito maiores".

Nas primeiras horas do domingo (22/6) Israel afirmou que o Irã lançou uma nova onda de ataques contra o seu território.

Informações preliminares divulgadas pela Agência Internacional de Energia Atômica asseguraram que não há "aumento" nos níveis de radiação em instalações nucleares iranianas após os ataques.

Por volta das 2h40 da madrugada (no horário de Brasília), o exército israelense iniciou uma nova operação contra "alvos militares" no oeste do Irã.


Campanha de Israel coloca o Irã em modo de sobrevivência

Hugo Bachega, correspondente da BBC News no Oriente Médio, lembra a trajetória do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Desde seu livro lançado em 1995, Combatendo o Terrorismo, até seu famoso discurso no Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2012, quando exibiu a ilustração de uma bomba para explicar o quão perto, em sua opinião, o Irã estava de obter uma arma nuclear, Netanyahu há muito tempo diz ao mundo que o Irã precisa ser detido.

Mas será que Israel vai parar de atacar o Irã agora?

Bachega destaca que oficiais militares israelenses têm alertado repetidamente que esta pode ser uma campanha militar prolongada — e comemorado o que consideram uma operação extremamente bem-sucedida até o momento.

E eles podem ver poucos motivos para parar agora, antes de infligir ainda mais danos ao governo iraniano.

Cada vez mais autoridades israelenses, incluindo Netanyahu, têm insinuado uma mudança de regime no Irã, lembra o correspondente da BBC News.

A esperança parece ser que a campanha de bombardeios leve a um movimento contra o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que derrube a República Islâmica, no poder desde a revolução de 1979.

Isso coloca o Irã em modo de sobrevivência, avalia Bachega. O país rejeitou repetidamente qualquer acordo que o obrigasse a abrir mão do enriquecimento de urânio em seu território, uma exigência fundamental dos EUA.

Em sua posição mais frágil em quase cinco décadas, os líderes iranianos estarão sob pressão internacional para aceitar um acordo que, inevitavelmente, tentará impedir qualquer retomada das atividades nucleares.

A alternativa é mais conflito, o que poderia levar ao fim do governo de Khamenei e a um futuro incerto para o paísl escreve o correspondente da BBC News.


Crédito,ReutersLegenda da foto,Pessoas veem o anúncio de Trump sobre ataques do Irã num bar em Washington DC, nos EUA

'Consequências duradouras'


O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que tanto Israel quanto os EUA decidiram "explodir" a diplomacia.

Em uma publicação no X (o antigo Twitter), ele questionou: "Para o Reino Unido e o Alto Representante da União Europeia, é o Irã que deve 'retornar' à mesa. Mas como o Irã pode retornar a algo que nunca deixou?"

Araghchi também classificou os ataques dos EUA de "ultrajantes" e afirmou que o Irã está analisando "todas as opções para defender sua soberania".

"Os eventos desta manhã são ultrajantes e terão consequências duradouras. Todos os membros da ONU devem estar alarmados com esse comportamento extremamente perigoso, ilegal e criminoso", escreveu ele no X.

Araghchi acrescentou que os EUA "cometeram uma grave violação" da Carta da ONU, como membro do Conselho de Segurança do órgão.

Numa entrevista à BBC, o embaixador iraniano no Reino Unido afirmou que os EUA estão "descartando" a Carta das Nações Unidas com os ataques ao Irã.

Seyed Ali Mousavi declarou que os ataques americanos são uma "violação do direito internacional", enquanto se esquivou de perguntas sobre os danos causados ​​às instalações nucleares do país.

Ele reforçou que os ataques são uma violação "da soberania e da integridade territorial" iranianas.

A BBC perguntou ao embaixador se o Irã renunciará às aspirações nucleares e encerrará o conflito com Israel, caso os EUA ataquem novamente.

Mousavi disse que o Irã e os EUA estão em negociações nucleares antes de acrescentar que "o regime israelense nos atacou".


Crédito,EPALegenda da foto,Araghchi falou em 'consequências duradouras' após ação dos EUA

'Os próximos dias podem ser delicados e desafiadores', diz presidente de Israel

O presidente de Israel divulgou um comunicado em que classifica o ataque de Donald Trump ao Irã como "histórico".

Isaac Herzog afirmou que as palavras de Trump demonstram a "profunda e corajosa aliança" entre os EUA e Israel.

Mas ele também alertou que "a campanha não acabou".

"Os próximos dias podem ser delicados, complexos e desafiadores", disse ele.

Numa entrevista à BBC, Herzog disse não saber os detalhes, "mas está claro que o programa nuclear iraniano foi substancialmente afetado".

Ele também foi questionado se Israel solicitou diretamente a Trump que atacasse o Irã.

Herzog respondeu que "decidimos deixar isso para os americanos", antes de acrescentar que não sabia se os EUA iriam atacar as instalações nucleares do Irã.

"Eu acordei quando aconteceu", detalhou ele.

Questionado se Israel vai parar de atacar o Irã, Herzog não deu uma resposta direta, apenas declarou que o Irã está disparando mísseis contra território israelense e que "temos que fazer o que for preciso para nos defendermos contra eles".

"A maneira de fazer isso é, obviamente, lidar com a situação em nível internacional e garantir que haja uma estratégia de saída", acrescenta.


Crédito,ReutersLegenda da foto,Israelenses dançam e cantam perto de um local residencial afetado, após um ataque de mísseis do Irã na cidade de Haifa

O que se sabe sobre instalações nucleares do Irã

Escondida na encosta de uma montanha ao sul de Teerã, a instalação nuclear de Fordow estaria em um subsolo mais profundo do que o Túnel do Canal da Mancha que conecta o Reino Unido e a França.

Fordow foi construída estrategicamente embaixo da montanha justamente para evitar ataques aéreos de adversários militares.

Acredita-se que a instalação subterrânea consista em dois túneis principais que abrigam centrífugas usadas para enriquecer urânio, bem como uma rede de túneis menores.

Algumas das instalações mais sensíveis de Fordow podem estar enterradas ainda mais profundamente, a até 800 metros de profundidade.

A profundidade é muito maior do que a de outro local subterrâneo de enriquecimento de urânio do Irã, em Natanz, que analistas acreditam estar a cerca de 20 metros abaixo da superfície.

No dia 15 de junho, Israel atingiu dezenas de alvos em todo o Irã, danificando a instalação. Especialistas acreditam que ela esteja agora "severamente danificada, se não completamente destruída".

Já a cidade de Isfahan, terceiro local atingido, segundo o presidente americano, é um importante centro da indústria militar iraniana.

Terceira maior cidade do Irã, Isfahan é um centro de fabricação de drones e mísseis balísticos.

Ela foi alvo de ataques anteriores pelos quais Israel foi responsabilizado.

Em janeiro de 2023, o Irã culpou Israel por um ataque de drone a uma fábrica de munições no centro da cidade. O ataque teria sido realizado usando quadricópteros, que são pequenos drones com quatro hélices.


Crédito,ReutersLegenda da foto,Painel luminoso na cidade de Nova York noticia ataques dos EUA ao Irã

O programa nuclear do Irã

O Irã sempre afirmou que seu programa nuclear é totalmente pacífico e que nunca procurou desenvolver uma arma nuclear.

No entanto, uma investigação de uma década realizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de vigilância nuclear global, encontrou evidências de que o Irã conduziu "uma série de atividades relevantes para o desenvolvimento de um dispositivo explosivo nuclear" do final da década de 1980 até 2003, quando os projetos conhecidos como "Projeto Amad" foram interrompidos.

O Irã continuou com algumas atividades até 2009 — quando as potências ocidentais revelaram a construção da instalação subterrânea de enriquecimento de Fordow — mas depois disso não houve "nenhuma indicação confiável" de desenvolvimento de armas, concluiu a agência.

Em 2015, o Irã fechou um acordo com seis potências mundiais, segundo o qual aceitou restrições às suas atividades nucleares e permitiu o monitoramento rigoroso pelos inspetores da AIEA em troca de alívio das sanções paralisantes.

Os principais limites abrangiam sua produção de urânio enriquecido, que é usado para fabricar combustível para reatores e também armas nucleares.

Mas Trump abandonou o acordo durante seu primeiro mandato em 2018, dizendo que ele fazia muito pouco para impedir o caminho para uma bomba, e restabeleceu as sanções dos EUA.

O Irã retaliou violando cada vez mais as restrições, principalmente as relacionadas ao enriquecimento.

De acordo com o acordo nuclear, nenhum enriquecimento foi permitido em Fordow por 15 anos. No entanto, em 2021, o Irã voltou a enriquecer urânio com 20% de pureza.

O conselho de governadores da AIEA, formado por 35 países, declarou formalmente que o Irã violou suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em 20 anos.

O Irã disse que responderia à resolução estabelecendo uma nova instalação de enriquecimento de urânio em um "local seguro" e substituindo as centrífugas de primeira geração usadas para enriquecer urânio por máquinas mais avançadas, de sexta geração, na usina de enriquecimento de Fordow.


Crédito,ReutersLegenda da foto,Um outdoor com uma ilustração de iranianos demonstrando apoio ao país em uma rua de Teerã

Como israelenses e iranianos reagiram ao ataque

Num hotel localizado na cidade de Van, na Turquia, a 96 km da fronteira com o Irã, a maioria dos hóspedes é iraniana.

Nas últimas horas, as pessoas ficaram grudadas às telas para receber atualizações, enquanto conversam sobre os ataques dos EUA às instalações nucleares do Irã.

"Estamos muito irritadas", diz uma hóspede à reportagem da BBC News.

"Donald Trump acha que pode fazer o que quiser", diz ela, antes de perguntar "por que ninguém conseguiu deter Israel e os EUA".

Ela chegou de Teerã na manhã de domingo (22/6) para acompanhar a filha, que fará uma viagem ao Canadá.

"Acho que as pessoas estão realmente preocupadas e em pânico, porque não sabem o que vai acontecer no país", acrescenta a filha.

Já o britânico-israelense Simon King, que sobreviveu aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, disse acreditar que o presidente dos EUA fez "uma coisa muito boa pela humanidade".

"Estou feliz que ele tenha feito o que fez, mesmo que isso possa custar muito em recursos humanos", acrescentou ele.

Enquanto isso, um morador da cidade de Haifa, no norte de Israel, disse esperar que "este fosse o passo que levaria ao fim da guerra".

Uma pesquisa recente do Instituto Israelense de Democracia revelou que a grande maioria dos judeus israelenses apoia os ataques de Israel ao Irã, enquanto a maioria dos cidadãos árabes se opõe à ação militar.


GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

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