ITAMARATY CHAMA EMBAIXADOR DE ISRAEL EM BRASÍLIA PARA ESCLARECER MORTE DE BRASILEIRO EM PRISÃO

Outra preocupação do Ministério das Relações Exteriores é com a situação de outros onze brasileiros detidos no país

Por Eliane Oliveira — Brasília

O Palácio do Itamaraty, em Brasília Brenno Carvalho/O Globo

O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, foi chamado pelo Itamaraty, na última segunda-feira, para dar esclarecimentos sobre a morte do brasileiro Walid Khaled Abdallah, de 17 anos, na prisão israelense de Megido. Em reunião com o secretário de África e Oriente Médio, Carlos Duarte, Zonshine afirmou não ter informações sobre o que ocorreu com o jovem, que vivia na Cisjordânia.

Segundo integrante do governo brasileiro, até o momento não houve uma resposta clara das autoridades israelenses. Um dia depois do encontro entre Duarte e o embaixador de Israel, o Itamaraty divulgou uma nota em que pedia que as investigações fossem realizadas de forma célere e transparente, às luz das normas internacionais de defesa dos direitos humanos.

Residente da Cisjordânia, Abdallah foi detido em 30 de setembro de 2024 na região ocupada, e levado por forças israelenses à prisão de Megido, em território israelense. As circunstâncias e a data exata do óbito ainda não foram esclarecidas.

Além da morte de Abdallah, outra preocupação do Ministério das Relações Exteriores é com a situação de outros onze brasileiros, também residentes em território palestino, que estão em presídios de Israel. Uma das conclusões é que a maioria dessas pessoas não foi acusada formalmente ou julgadas, o que viola o Direito Internacional Humanitário.

Um interlocutor com conhecimento do assunto ressaltou que essas pessoas têm dupla nacionalidade, incluindo a brasileira. Porém, o governo israelense trata esses cidadãos como palestinos.
Daniel Zohar Zonshine​, embaixador de Israel no Brasil — Foto: Reprodução

Demora para novo embaixador

Com as relações abaladas desde o início deste ano, devido a fatores relacionados aos ataques israelenses a civis na Faixa de Gaza, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva segura uma autorização para que o diplomata Gali Dagan assuma a embaixada em Brasília. O pedido de "agrement" foi feito ao Brasil há cerca de dois meses.

Auxiliares de Lula acreditam que a vinda do novo chefe da representação de Israel na capital federal deve demorar ainda mais, com a morte de Abdallah. Um interlocutor afirmou não ver perspectiva de quando isso poderá acontecer.

Dali Dagan era, até meados de 2024, embaixador de Israel na Colômbia. Deixou o país após o governo israelense romper relações com o presidente colombiano Gustavo Petro.

Em fevereiro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou as mortes de palestinos na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial. Três meses antes, o grupo terrorista palestino Hamas atacou Israel e sequestrou cidadãos israelenses de várias idades, incluindo crianças.

Como represália, autoridades israelenses levaram o no Museu do Holocausto, em Jerusalém, o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer. Além de repreender publicamente o embaixador brasileiro em um local totalmente fora dos padrões, o governo de Israel decidiu declarar Lula como persona non grata.

Por determinação de Lula, o chanceler Mauro Vieira chamou Meyer de volta ao Brasil e convocou o chefe da representação de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, para uma reunião no Palácio do Itamaraty, no Rio. As duas medidas, na linguagem diplomática, tinham por objetivo demonstrar a insatisfação do governo brasileiro com as autoridades israelenses.

Desde então, o governo brasileiro não enviou um substituto de Meyer a Tel Aviv, embora não tenha rompido as relações com Israel. O Brasil mantém sua posição crítica à postura do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e, na última terça-feira, deplorou, em uma nota, os novos ataques à Faixa de Gaza.

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