PF ENCONTRA CONTRATO DE REFORMA DE R$ 900 MIL EM CASA DE BOLSONARO DECLARADA POR R$ 98 MIL

R$ 900 mil para reformar a casa? Documento foi identificado em uma pasta na mesa do ex-presidente durante operação de busca e apreensão na investigação que apura a tentativa de golpe de Estado

Jair Bolsonara e o antes e depois da sua casa de Angra dos Reis


Sarah Teófilo, O Globo

A Polícia Federal encontrou um contrato de R$ 900 mil para a reforma da casa de Jair Bolsonaro em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio. O documento foi identificado em uma pasta na mesa do ex-presidente no escritório do PL, em Brasília, durante uma operação de busca e apreensão na investigação que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022. O material foi juntado ao inquérito em que o ex-mandatário foi indiciado por tentar reverter o resultado das eleições.

Ao analisar o contrato de reforma da casa de Bolsonaro, a PF destacou em um relatório que “chama a atenção o fato de a reforma estar orçada na vultuosa quantia de R$ 900 mil, ao passo que, na declaração de bens de Bolsonaro, nas eleições de 2022, a residência estava avaliada em R$ 98.500”, em referência à informação prestada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na tentativa de reeleição. “O montante da reforma corresponde, portanto, a quase dez vezes o suposto valor do imóvel declarado”, destacou o agente da PF que assina o relatório datado de 18 de novembro deste ano.

Os valores de imóveis declarados ao TSE costumam estar abaixo dos preços praticados no mercado, porque a lei não exige que sejam atualizados ao longo do tempo. Consultada pelo Globo, uma corretora que atua na região estimou que a casa esteja avaliada em cerca de R$ 2,5 milhões, em função da localização, tamanho e por características como a proximidade da praia.

O contrato da reforma analisado pela PF é datado em 11 de outubro de 2023 e não está assinado nem por Bolsonaro nem pela empresa de engenharia responsável pelo serviço. Procurada, a defesa do ex-presidente não se manifestou. Nesta quinta-feira, após a publicação da reportagem, Bolsonaro se manifestou em vídeo nas redes sociais.

“Fiz a reforma, sim, de R$ 900 mil e paguei em pix. Tudo declarado no imposto de renda, inclusive o valor da reforma. Essa casa eu adquiri, ou melhor, a construí nos anos 90, sem problema nenhum. Não tem nada de ilegal. Paguei com pix”, afirmou.

O contrato analisado pela PF informa que o valor de R$ 900 mil inclui mão de obra e material. O documento diz que seria efetuada uma entrada de 30% do contrato (R$ 270 mil). O restante seria pago em quatro parcelas de R$ 135 mil durante a reforma, e um quinto pagamento, de R$ 90 mil, seria feito com o serviço finalizado. O prazo de conclusão estabelecido era de cem dias úteis.

Não há informações no contrato sobre quais foram as melhorias feitas na casa de Bolsonaro em Angra dos Reis. Em vídeos divulgados pelo ex-presidente e seus apoiadores, é possível notar que, além da pintura de toda a edificação, as janelas de madeira foram substituídas por outras de blindex. Os pisos e portões também foram trocados. Parte de um dos muros foi refeito. Também foi construída uma nova área de churrasqueira.

Em março deste ano, o colunista Lauro Jardim, do Globo, mostrou que a reforma da casa foi acelerada depois que o ex-presidente decidiu finalizar as obras antes de sofrer com uma eventual decisão de bloqueio de bens nos inquéritos em que ele é investigado.

Pago via Pix

Meio escolhido por Bolsonaro para pagar os R$ 900 mil pela reforma, as transferências via Pix na conta do ex-presidente chamaram a atenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão vinculado ao Banco Central.

Um relatório do Coaf de julho de 2023 mostrou que uma conta bancária do ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões por meio de transações de Pix entre janeiro até aquele mês.

O documento do Coaf, órgão de combate à lavagem de dinheiro, dizia que os valores eram “atípicos” e se referiam “provavelmente” à campanha de arrecadação feita por Bolsonaro para pagar as multas que recebeu durante o seu governo, como a de circular na rua sem máscaras durante a pandemia de Covid-19, e arcar com custos judiciais. Na época que o relatório foi revelado, a defesa do ex-presidente afirmou que o dinheiro tinha origem lícita e que ele seria utilizado para pagar as multas.

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