ATORES E ATRIZES INFILTRADOS? VERSÃO BOLSONARISTA DO 8 DE JANEIRO É MITO QUE NÃO PARA EM PÉ

Foram mais de 2 mil golpistas identificados e presos pelos ataques de 8 de janeiro e ficou comprovado que todos eles são apoiadores de Jair Bolsonaro. Na prisão, receberam visita e solidariedade de parlamentares bolsonaristas. Os mesmos deputados que agora pretendem dizer que essas pessoas eram 'infiltradas'. A CPMI será apenas mais um forte instrumento para espalhar fake news e servirá de palco para cortes de vídeos com falas lacradoras

Bolsonaristas detidos no 8 de janeiro

Matheus Pichonelli, TAB


“Como assim o Claudinho?”, perguntou um antigo chefe do mecânico Antônio Cláudio Alves Ferreira ao vê-lo na TV. Claudinho, para os íntimos, era um dos muitos invasores das sedes dos Três Poderes flagrado por imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.

Com uma camisa escura onde se via o rosto estilizado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é ele o responsável por lançar ao chão o relógio de Dom João 6º — uma peça única de Balthazar Marinot que chegou ao Brasil em 1808 como um presente da corte francesa.

As imagens revelam que ele abriu caminho para acessar os andares superiores do edifício com a ajuda de extintores de incêndio. Preso desde 23 de janeiro por agentes da Polícia Federal de Goiás, Alves Ferreira era descrito por vizinhos como um “bolsonarista ferrenho”, desses que chegava a brigar por causa do ex-presidente.

Logo após a invasão, ele voltou para sua casa em Catalão (GO), pegou o que conseguia levar e sumiu por um tempo. Deixou para trás uma bandeira do Brasil, um adesivo com a foto, o nome e o número de campanha de Bolsonaro colado em um portão, segundo o jornal O Estado de Minas. Deixou também um boné com o nome do ex-presidente.

O investigado costumava mandar mensagens com vídeos em apoio a Bolsonaro e também registros de sua participação em acampamentos golpistas na frente do QG do Exército.

Antes de ser detido, ele mantinha em seu perfil do WhatsApp a imagem de um ET segurando uma faixa com a seguinte mensagem: “Intervenção militar com Bolsonaro no poder.”

Com uma reunião razoável de evidências, é possível dizer que o investigado tinha cara, corpo e alma de militante bolsonarista.

Para a tropa de apoiadores que querem contar a sua versão dos fatos na CPMI do 8 de Janeiro, porém, Claudinho e outros agentes do caos eram, na verdade, atores de primeira prateleira.

Pela excelência da performance, já podem disputar o Oscar de 2024. O prêmio é o mínimo por terem assimilado, em seus personagens perturbados, o fanatismo pelo capitão por tanto tempo.

É o caso também de Maria de Fátima Mendonça Jacinto de Souza, que chocou a vizinhança em Tubarão (SC) com seu vaivém pelo quartel do Exército do município com a camisa do Brasil e a bandeira verde-amarela. Aparentemente, era tudo um disfarce.

Da última vez, ela seguiu com os amigos até Brasília e foi flagrada não pelas câmeras de segurança, mas por amigos golpistas que a registraram “quebrando tudo” após usar um banheiro do Supremo Tribunal Federal. “Vamos para a guerra, vou pegar o Xandão agora!”, disse a aposentada, antes de ser pega pela Polícia Federal, em 27 de janeiro.

Mal sabiam os agentes que ela era apenas uma atriz em um processo de imersão no papel de golpista. A ponto de brigar com uma vizinha ao dizer que não aceitaria um país governado por um ex-presidiário — justo ela, que já foi presa e condenada por tráfico.

A turma que viu na presença do chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Lula na cena do crime, após o crime, perdido sem conseguir fazer nada diante dos golpistas, um indício de que tudo não passou de uma armação do governo para incriminar o ex-presidente terá trabalho para mostrar como pessoas como Claudinho e Fátima de Tubarão foram parar no centro dos atos golpistas.

Até o momento, cem grandes atores estão próximos de serem transformados em réus por decisão do STF (Foram 2.151 presos em flagrante).

A eles pode se somar uma equipe de sete militares do GSI identificados pelas câmeras do Planalto e que atuaram na segurança de Jair Bolsonaro em viagens presidenciais e atos de campanha. Um deles, o capitão José Eduardo Natale, que aparece oferecendo água aos golpistas, chegou a acompanhar o então presidente durante o lançamento de sua candidatura à reeleição, em Juiz de Fora (MG), segundo o jornal O Estado de S.Paulo. Ele integrava também a comitiva de Bolsonaro na viagem para a Rússia, onde se encontrou com Vladimir Putin.

Todos, de acordo com a tropa bolsonarista da futura CPMI, vestiam a camisa de Lula por baixo do paletó. Fingiam tão completamente que fingiram que eram leais aos invasores golpistas apenas para deixar o ídolo da turma em maus lençóis.

Antes que a comissão inicie seus trabalhos, convém lembrar como funciona a fábrica de alucinações da turma. Ela já estava acionada em 8 de janeiro, quando apoiadores de Bolsonaro divulgaram que um publicitário que abraçou Lula em uma visita a Araraquara (SP), naquele dia, era um infiltrado disfarçado de golpista ferido pela polícia na mesma data e hora da invasão, a mais de 180 quilômetros dali.

A mesma máquina de mentiras botou em campo a história de que o homem responsável por derrubar o relógio de Dom Pedro era um militante do MST. A lorota durou pouco. Foi desmentida por agências de checagem. (Dá para entender por que Bolsonaro e companhia têm aversão ao trabalho dos profissionais da imprensa: eles são uma pedra na mediação entre o mito e os seguidores.)

As leis da física serviram para desmentir a notícia fake, uma das muitas criadas para tentar, em vão, tirar a intentona golpista do colo. dos bolsonaristas. Resta saber o que podem fazer as leis da física, da lógica e das evidências para quem acredita em ETs e vacinas que transformam humanos em jacarés. 

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