USO DE COSMÉTICO PROVOCA CEGUEIRA TEMPORÁRIA EM 243 MULHERES NO RECIFE

Mulheres foram socorridas em urgências oftalmológicas com inchaço, lacrimejamento, fotofobia e cegueira temporária. A Anvisa divulgou um alerta informando que sete marcas de produtos tiveram suas licenças canceladas para fabricar e comercializar porque não atendem às normas sanitárias

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(Imagens: Reprodução)

Rosália Vasconcelos, Viver Bem

Cerca de 243 mulheres foram socorridas em urgências oftalmológicas no Recife após o uso de pomadas modeladoras para cabelo durante o fim de semana de prévias de carnaval. Todas apresentavam vermelhidão e muita dor nos olhos, inchaço, lacrimejamento, fotofobia e algumas até um quadro de cegueira temporária.

Os relatos de lesão córnea envolvendo esse tipo de produto para cabelo começaram a surgir desde as primeiras semanas de janeiro, quando tiveram início as prévias carnavalescas na capital pernambucana.

Só neste fim de semana, foram 72 atendimentos na UPA Ibura (SUS), 25 na UPA Paulista (SUS), 69 atendimentos na Fundação Altino Ventura (FAV, ligada ao SUS), 50 atendimentos na unidade de saúde particular Hope e 27 no Hospital de Olhos Santa Luzia (particular).

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) chegou a divulgar um alerta em meados de janeiro, informando que sete marcas de produtos para cabelo tiveram suas licenças canceladas para fabricar e comercializar porque não atendiam às normas sanitárias previstas.

Além da pomada fixadora, outros produtos do tipo ainda não listados pela Anvisa também estão provocando lesão na córnea. Em geral, são pomadas modeladoras para cabelos, utilizadas em tranças para evitar o frizz e deixar o penteado perfeito.

“Ainda não se sabe que tipo de agente químico está sendo o causador dessas lesões. Suspeita-se de algum tipo de álcool. Na Fundação, demos início a um estudo com os pacientes atendidos para identificar esses agentes e nos dar maiores detalhes do trauma químico. Estamos listando os produtos que os pacientes usaram para apresentar à Anvisa”, disse o vice-diretor da FAV e médico oftalmologista, Kayo Espósito.

Ele explica que, após o contato do produto com a córnea, a lesão é semelhante a uma queimadura por ácido.

O número de casos aumentou no Recife no último fim de semana devido às fortes chuvas que atingem a cidade desde o último sábado. Tanto a água da chuva quanto o suor provocado pelo calor derretem o produto do cabelo e os fazem escorrer pelo rosto até atingir os olhos.

Foi o que aconteceu com a engenheira de produção Thays Chen, 27 anos. “Contratei uma pessoa para fazer uma trança no meu cabelo e das minhas amigas para ir a um bloco no sábado (4). Ela disse que o produto não estava na lista da Anvisa. Mas quando começou a chover, logo meus olhos começaram a arder e o das minhas amigas também”, lembra Thays.

Após a ardência, ela conta que a sua visão começou a embaçar até ficar totalmente sem enxergar. “Quando entrei no pronto-socorro da festa, não via mais nada minha frente. A enfermeira já sabia o que era porque outras meninas estavam com o mesmo problema e ela começou a lavar meus olhos. Ainda voltei para a festa, mas meus olhos continuaram a doer e decidi ir embora para procurar um hospital”.

Thays Chen ficou mais de 24 horas sem enxergar e nesta segunda ainda apresenta algumas sequelas, como dor nos olhos e lacrimejamento. “Também perdi minhas lentes de contato que eu tinha acabado de comprar”, lamenta.

Segundo Kayo, a depender do tempo de exposição ao produto químico, a queimadura pode provocar complicações graves na córnea, como a cegueira definitiva. Mas até o momento não há relatos de danos irreversíveis à visão em nenhum dos casos no Recife.

A oftalmologista do Hope, Laura Sabino, lembra também que nem sempre o efeito é imediato. Os sintomas podem aparecer até no dia seguinte.

A estudante de odontologia Hellen Lyra, 21, contou que embora os primeiros sintomas tenham sido imediatos no olho direito, a gravidade do seu caso aconteceu no olho esquerdo. “Fiquei horas sem enxergar e precisei começar o tratamento com dois antibióticos e um lubrificante. No hospital, os médicos usaram também uma pomada oftalmológica e um tampão para melhorar minha condição”, disse Hellen.

Lista dos produtos com comercialização proibida divulgados pela Anvisa:

1. Pomada Modeladora para Tranças Anti-frizz Be Black (da empresa Cosmetic Group Indústria e Comércio de Cosméticos Eireli);

2. Pomada Black – Essenza Hair, e Pomada Modeladora para Tranças Boxbraids – fixa liss (ambas da Evolução Indústria de Cosméticos);

3. Pomada Braids Hair (da Galore Indústria e Comércio de Cosmético Eireli);

4. Pomada Cassu Braids Cassulinha Cabelos (da Microfarma Indústria e Comércio);

5. Pomada Braids Tranças Poderosas Esponja Magic (da Microfarma Indústria e Comércio);

6. Rosa Hair Pomada Modeladora Mega Fixação 150g, (da Morandini Indústria e Comércio de Cosméticos);

7. Pomada Modeladora Master Fix Black Ser Mulher, (da Supernova Indústria, Comércio e Serviços).


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