VÍDEO MOSTRA PRF DIZENDO A BOLSONARISTAS QUE NÃO IRÁ MULTÁ-LOS POR BLOQUEIO DE RODOVIA

Imagens e falas mostram postura inadequada de policiais rodoviários federais

Por Rubens Valente

Um vídeo que circula em aplicativos de telefone celular mostra um policial rodoviário federal dizendo a bolsonaristas que bloquearam a rodovia BR-470 na região entre Blumenau (SC) e Rio do Sul (SC) que não iria multá-los. Ele chamou os manifestantes de “nossos patrões, enquanto servidores públicos”. Os manifestantes comemoraram a informação com aplausos e assovios.

Em um segundo vídeo, um outro policial rodoviário federal diz a um grupo de manifestantes: “O que eu tenho a dizer nesse momento é [que] a única ordem que nós temos é para estar aqui com vocês, só isso”. Os bolsonaristas também vibraram com palmas e gritos.


Desde a noite deste domingo (30), em algumas rodovias no país, grupos de bolsonaristas bloquearam o trânsito sob a alegação de não aceitar o resultado das eleições presidenciais vencidas pelo candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste domingo (30). Em grupos de aplicativos, bolsonaristas pedem uma “intervenção” das Forças Armadas, que na verdade é um eufemismo para um golpe de Estado ilegal e inconstitucional.

O Código de Trânsito Brasileiro prevê, no seu artigo 253-A, que bloquear circulação em via pública sem autorização do órgão de trânsito constitui uma infração gravíssima, prevista na lei 13.281, de 2016. Além da pontuação, o infrator sofre a suspensão do direito de dirigir por 12 meses. A multa deve ser calculada em 20 vezes sobre o valor, ou seja, cada motorista que bloqueia uma rodovia, como no caso de Blumenau, está sujeito a uma multa de R$ 5.869, conforme policiais rodoviários consultados pela Agência Pública.

Para quem organiza o protesto do gênero, a multa é ainda mais elevada, cerca de R$ 17.608. A infração está prevista no parágrafo 1º do mesmo artigo: “Aplica-se a multa agravada em 60 vezes aos organizadores da conduta prevista no caput”.

No vídeo de Blumenau que, segundo a Pública apurou, foi gravado na manhã desta segunda-feira (31), o policial rodoviário diz ao microfone numa caixa de som para um grupo de pessoas vestidas com camisas verde-amarelas ou segurando bandeiras do Brasil: “Outro compromisso que faço com vocês aqui, nenhum veículo que está aqui na manifestação será alvo de qualquer notificação. Eu não vou fazer multa nenhuma”.

A notícia é recebida com aplausos e assovios. “Por isso que eu peço a colaboração de vocês para que a gente entre nessa sintonia e não saia nenhuma das partes… ou nenhuma das partes com desgaste de parte a parte.”

O policial disse que estava fazendo esse compromisso “como policial rodoviário federal de serviço hoje”. “O que vai estar de serviço amanhã, não sei. O que esteve de serviço ontem, também não sei. Nós somos dois, estamos de serviço hoje, e estamos com essa missão. Vamos conversar sempre para que a gente saia do outro lado, todo mundo dentro das suas convicções e com o dever cumprido. Obrigado, gente.”

O policial também disse aos manifestantes para “não se preocuparem” pois a polícia iria “tirar algumas fotos”. Essas fotos seriam enviadas à chefia para ela saber “como está a manifestação, mais para mostrar como está pacífica, mais para mostrar a dimensão do movimento”.

“A manifestação vai continuar com vocês e nós, os dois servidores que estamos aqui, vamos monitorar e informar às nossas chefias que é a nossa missão. Mas, em nenhum momento, já assumi o compromisso aqui e reitero para todos vocês, nos chegaremos para atentar ou chegaremos para enfrentar qualquer dos senhores que são patrões nossos enquanto servidores públicos”, disse o policial ao microfone.

A Pública solicitou explicações à Superintendência da PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Santa Catarina. Assim que houver uma resposta, este texto será atualizado. 

Em outro vídeo gravado no mesmo ato, um homem vestido com uma camiseta verde e amarela, que aparenta ser um dos organizadores do bloqueio, diz aos manifestantes, sobre os policiais, que “eles votaram em Bolsonaro, são gente boa como nós. Só que eles têm o emprego deles, eles são servidores públicos”. A “apresentação” foi feita instantes antes das declarações do policial no mesmo microfone.


A Pública solicitou explicações à Superintendência da PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Santa Catarina. Assim que houver uma resposta, este texto será atualizado.



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