ELEITOR DE BOLSONARO ESPANCA PESQUISADOR DATAFOLHA COM SOCOS E CHUTES

As pernas e os braços que chutaram e socaram um pesquisador do Datafolha em São Paulo foram de Rafael Bianchini e do seu filho. Mas quem incitou o crime mora no Palácio do Alvorada, em Brasília

Rafael Bianchini


Leonardo Sakamoto

As pernas e os braços que chutaram e socaram um pesquisador do Datafolha, nesta terça (20), no interior de São Paulo, foram de Rafael Bianchini, um bolsonarista violento. Mas quem incitou o crime mora no Palácio do Alvorada, em Brasília. Sim, a agressão está, politicamente, na conta de Jair.

Após finalizar a entrevista com um morador na cidade de Ariranha, o pesquisador foi atingido pelas costas e teve seu tablet derrubado. Ao reagir à agressão, passou a ser atacado também pelo filho de Bianchini, precisando ser salvo por outros moradores que testemunharam a cena. Então, o bolsonarista foi buscar uma peixeira em casa, sendo contido pelo filho.


A cena me remeteu imediatamente à outra, com outro Rafael, também bolsonarista, que após esfaquear 15 vezes o seu colega de trabalho petista após uma briga que começou por desavença eleitoral, foi até um barracão e pegou um machado para cortar fora a cabeça da vítima.

Benedito dos Santos foi morto por Rafael de Oliveira, em Confresa (MT), horas após Bolsonaro defender, em comício na praia de Copacabana no 7 de Setembro, que era necessário “extirpar da vida pública” adversários políticos da esquerda. Foi a segunda morte de um petista por um bolsonarista em briga política na eleição.

É necessária muita má fé ou muito cinismo para afirmar que não há relação alguma entre os reiterados ataques aos institutos de pesquisa proferidos pelo presidente da República e seus aliados e o clima de insegurança que paira sobre esses trabalhadores nas ruas. E o Datafolha registra uma escalada de hostilidades, como nunca se viu.

Jair tenta convencer os seus seguidores que os institutos mentem e distorcem os fatos porque os resultados das pesquisas, que mostram ele atrás de Lula na disputa presidencial, não os agradam.

A sobreposição dos discursos de lideranças políticas, religiosas e sociais ao longo do tempo, fomentando ódio contra institutos de pesquisa, políticos, magistrados, jornalistas, entre outros, distorce a visão de mundo de seus seguidores e torna a agressão “necessária” para tirar o país do caos e extirpar o “mal”, alimentando a violência.

Muitos seguidores fanáticos encaram um ataque a um trabalhador de um instituto de pesquisa como uma missão quase divina em nome do “mito”, não um crime contra um trabalhador. Segundo o Datafolha, há 21% dos brasileiros que acreditam em tudo o que ele diz, sendo alimentados pelas mentiras do presidente.

A máquina de campanha do presidente vem inundando as redes sociais e aplicativos de mensagens com ataques aos institutos de pesquisa, principalmente o Datafolha, contando com a ignorância de parte dos brasileiros sobre matemática. Apresentam enquetes sem nenhum lastro científico como iguais a pesquisas que operam dentro das regras da estatística.

Uma conhecida tática adotada para manipular o eleitorado tem sido usar imagens de aglomerações a fim de tentar convencer que o apoio ao presidente é bem maior do que realmente é. Partem de um fato concreto (o candidato é realmente uma pessoa popular capaz de atrair muita gente, como levou no 7 de setembro) para vender uma extrapolação falsa (essas multidões demonstram que a maioria dos brasileiros está com o candidato).

Percebem a diferença? Muita gente não, e o bolsonarismo surfa na ignorância.

Um caso de violência como esse era uma infelicidade esperando apenas para acontecer. E se Bolsonaro e sua trupe não mudarem imediatamente o seu modo de agir, desumanizando os institutos de pesquisa e os associando ao mal, a infelicidade pode virar tragédia ou desgraça.

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