POLÍCIA PRENDE SUSPEITO DE ENVOLVIMENTO NO DESAPARECIMENTO DE DOM PHILLIPS E BRUNO PEREIRA

Homem preso na Amazônia tem histórico de ameaças contra indígenas. Ao comentar o desaparecimento da dupla pela primeira vez, presidente Jair Bolsonaro criticou o que chamou de “aventura não recomendável” de Dom Phillips e Bruno Pereira

Amauri “Pelado”

A Polícia Civil do Amazonas identificou um suspeito de participação no desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na região do Vale do Javari, no extremo oeste do Estado. Ele prestou depoimento aos policiais na noite de ontem. Trata-se de um homem chamado Amauri, conhecido pelo apelido de “Pelado”.

O suspeito vive na comunidade de São Rafael, onde há forte influência de garimpeiros, caçadores, pescadores e traficantes de drogas. A localidade é usada como base para invasões de terras indígenas do Javari. Até agora, a polícia já ouviu cinco pessoas – as outras quatro na condição de testemunhas. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, ninguém foi preso ainda. Até a noite de ontem, não havia informações oficiais sobre o paradeiro de Pereira e de Phillips.


Um bilhete apócrifo com ameaças dirigidas a Pereira, que é servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e a líderes indígenas foi deixado no escritório de advocacia que representa a organização para a qual o indigenista vinha trabalhando voluntariamente, em Tabatinga (AM). Pereira e Phillips, colaborador do The Guardian, desapareceram no domingo, quando faziam uma viagem a trabalho no Vale do Javari.

“Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas”, diz o bilhete, com a grafia corrigida, endereçado ao advogado Eliesio Marubo. “Sei que quem é contra nós é o Beto Índio, e o Bruno da Funai é quem manda os índios irem prender nossos motores e tomar os nossos peixes. (…) Se querem dar prejuízo, melhor se aprontarem. Está avisado.”

Pereira foi visto pela última vez há três dias, quando voltava da Comunidade São Rafael em direção a Atalaia do Norte, na companhia de Phillips. O Comando Militar da Amazônia e a Marinha enviaram ontem dois helicópteros à região para reforçar as buscas.

O percurso da dupla pelo rio deveria demorar não mais do que duas horas e Pereira é um exímio conhecedor do trajeto. “Temos muita esperança de que tenha sido algum acidente com o barco e que eles estejam à espera de socorro”, disse a mulher de Pereira, Beatriz Matos. “Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm de ser encontrados”, afirmou Alessandra Sampaio, casada com Phillips.

“Aventura”

Pouco depois de o Itamaraty divulgar nota, ontem, para dizer que o governo havia tomado conhecimento do assunto “com grande preocupação”, o presidente Jair Bolsonaro criticou o que chamou de “aventura” da dupla.

“O que nós sabemos é que, no meio do caminho, (eles) teriam se encontrado com duas pessoas, que já estão detidas, estão sendo investigadas (…) Duas pessoas apenas num barco, numa região daquela, é uma aventura que não é recomendável. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus para que sejam encontrados brevemente”, afirmou Bolsonaro ao SBT News.

Pereira estava licenciado de suas atividades na Funai para coordenar um projeto sobre vigilância de terras indígenas na União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja). O advogado Eliesio Marubo, que recebeu o bilhete anônimo há cerca de um mês e meio, é nativo do Vale do Javari. Ele deixou o território aos 16 anos e se tornou um importante ativista nos tribunais. Marubo e Beto, citado no bilhete, são líderes da Univaja.

“Não tenho dúvida (de que o sumiço de Pereira está relacionado à ameaça). Era uma questão de tempo para acontecer. Infelizmente, é dessa maneira, até finalizarem o que têm de fazer. Onde o Estado não está o crime está”, disse Marubo.


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