ATAQUE DE CARRAPATO E BRIGA COM POLÍCIA: O QUE NÃO FOI EXIBIDO NA TELEVISÃO


Os repórteres Felipe Garraffa, da Band, e Vanessa Vitória, do SBT, trabalharam na cobertura do caso LázaroImagem: Divulgação

Felipe Pinheiro

Do UOL, em São Paulo


A caçada a Lázaro Barbosa, que teve um desfecho há quase duas semanas com a morte do criminoso, fez a população parar em frente à TV. Veículos de imprensa de todo Brasil deslocaram equipes para as regiões de Goiás e do Distrito Federal para acompanhar a operação que mobilizou mais de 200 policiais.

O que se viu foi uma cobertura extensa de 20 dias e que abasteceu programas jornalísticos de todas as emissoras. Nos bastidores, muitos foram os perrengues da cobertura. No "Brasil Urgente", da Band, o repórter Felipe Garraffa fazia entradas ao vivo para conversar com José Luiz Datena.

O principal desafio foi contar essa história sem aumentá-la porque ela já era grave por si só. Não havia necessidade de criar um fato novo. Estávamos falando de um assassino acusado de mais de 30 crimes.

  Imagem: Reprodução
Lázaro Barbosa, cuja busca mobilizou 
centenas de agentes

O medo da população, a pressão da polícia, a falta de sinal de internet e a dificuldade de locomoção na estrada de terra batida foram situações desafiadoras para jornalistas envolvidos na cobertura. Com o clima de tensão, Garraffa se lembra de uma briga com uma autoridade policial.

"Tiveram alguns momentos mais delicados, inclusive de um policial fechar a porta na nossa cara e nos mandar embora de forma ríspida. Discutimos com ele. Em uma dessas discussões, saí com o carro rapidamente e o meu celular caiu no meio da mata. Acabei perdendo", conta ele.

Foi também depois de um bate-boca com outro policial que o repórter conseguiu um aliado: "Discutimos fortemente e depois ele se tornou a minha principal fonte, passando informações preciosas. Era uma linha tênue, mas compressível essa pressão da polícia".

Felipe Garraffa e o cinegrafista Marcelo Clayton, da BandImagem: Divulgação/Band


56 picadas de carrapato
Imagem: Reprodução/Instagram
Vanessa Vitória trabalha no SBT como 
repórter há mais de um ano

Vanessa Vitória trabalhou no caso Lázaro para o SBT. A repórter precisou deixar a cobertura após ser mordida por um pitbull, mas antes disso enfrentou outros perrengues. Um dos mais complicados foi um ataque de carrapatos. Os jornalistas precisavam se deslocar por áreas rurais e entravam em matas.

"Esse tipo de carrapato se chama micuim [filhos do carrapato-estrela] e me pegou em áreas quentes do corpo, picando toda a minha barriga, costas e axilas. Eles entravam na minha roupa. Levei no mínimo 56 picadas pelo que consegui contar", se recorda ela.

As reações às mordidas dos parasitas foram inflamação, coceira e uma secreção que saía das feridas. Vanessa teve de ir ao hospital e recebeu um dia de licença médica. Depois, para evitar mais dores de cabeça com os carrapatos, passou a usar um repelente mais forte no corpo todo.

Encontro com fazendeiro que ajudou Lázaro

Vanessa Vitória cobriu o caso Lázaro para o SBT; o sinal da internet era um desafio do trabalho de reportagemImagem: Reprodução/Instagram

As informações chegavam de toda parte — dos moradores, dos policiais, do governo —, e muitas vezes era difícil filtrar o que era uma pista quente. Em uma das experiências mais marcantes, Vanessa diz que chegou a ficar cara a cara com o fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, que chegou a ser preso por ajudar Lázaro a se esconder.

Eu estava em Girassol, em uma base da polícia, e ele passou xingando. Ele falou que era uma palhaçada, que era para todo mundo ir trabalhar. Bem nervoso. Pedi para ele falar comigo, mas ele não quis e saiu arrancando o carro. Depois ele foi preso. Uma pessoa que eu tive contato, que xingou a operação e que tinha envolvimento porque estava acobertando o fugitivo.

Adrenalina e cena de filme

Correr atrás das viaturas da polícia em busca da notícia fazia parte da rotina dos jornalistas. Também era comum testemunhar trocas de tiros.

Estávamos em uma caçada e logo quando chegamos presenciamos uma troca de tiros numa posição privilegiada do ponto de vista jornalístico. Eram três helicópteros sobrevoando, policial saindo da mata cansado e aquele depoimento de momento, trazendo a emoção do que estava acontecendo. Uma cena impressionante — Felipe Garraffa.

Teve um dia que eu entrei ao vivo e falei: estamos dando o sangue para informar vocês. Era a sensação que eu tinha. Às vezes, o jornalismo faz a gente até se esquecer de quem a gente é. Fiquei horas sem fazer xixi. Muitas vezes, a gente não comia e não tomava água de tão envolvidos com aquela adrenalina — Vanessa Vitória.

Dava medo?

A jornalista do SBT diz que não havia tempo para sentir medo durante a cobertura, mas em poucos momentos batia uma preocupação:

"Já pensou estar voltando na estrada à noite e o pneu do carro fura? Eu tinha medo de me encontrar com ele. No momento do calor da operação, você está muito jornalista e não pensa nos riscos".

Felipe Garraffa ficou 13 dias in loco na cobertura do caso LázaroImagem: Divulgação/Band

Reação à vacina e tombo de árvore

O governo de Goiás liberou a vacinação contra a covid-19 para os profissionais de imprensa envolvidos na cobertura do caso Lázaro. Garraffa teve reações à vacina e teve de lidar com alguns sufocos por isso.

"Fiquei com intestino solto e não tinha banheiro. Dava para seguir, mas era um perrengue no meio do mato".

Outro obstáculo diário era o terreno irregular da região. O repórter conta que eram tombos atrás de tombos da equipe. Teve até uma vez ele despencou de uma árvore:

Fui me pendurar numa árvore para mostrar a gruta onde o Lázaro poderia ter passado e tomei um capote. Caí de bumbum no chão. Não estamos acostumados a andar naquele local e tive que comprar um tênis porque o meu rasgou e fiquei com dedão para fora.


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