GRANDE PARTE DAS SERINGAS QUE IMUNIZARÃO O BRASIL VIRÁ DE CURITIBA

Fábrica de seringas da CIC vai ter papel essencial para o País (Foto: Franklin de Freitas)


Rodolfo Luis Kowalski


Dois mil e vinte e um, espera-se, será o ano da vacina. O ano em que a população brasileira – ou ao menos uma parcela significativa dela – será imunizada contra o novo coronavírus, dando ‘início ao fim’ da pandemia. E para que isso aconteça, Curitiba deverá ter um papel fundamental. Isso porque a capital paranaense é sede da maior fábrica de seringas e de agulhas do país, da BD (Becton, Dickinson and Company), localizada no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Além da BD, existem mais duas fábricas que produzem seringas no Brasil, das empresas SR e Injex. A capacidade de produção instalada no país é de 1,5 bilhão de seringas por ano, em tamanhos diferentes (1ml, 3ml, 5ml, 10ml e 20ml), sendo a de 3ml a que mais se produz e também a que se consome para os casos de Covid-19.


Considerando que o Brasil (governo federal e o estado de São Paulo) deve adquirir em torno de 400 milhões de seringas para a vacinação contra o coronavírus, a capacidade instalada seria mais que suficiente para dar conta da demanda, correto? Não exatamente.

Diretor de Assuntos Corporativos da BD, Walban Souza explica que o mercado tradicional já consome uma parcela considerável da capacidade instalada de produção. São hospitais, clínicas médicas e até mesmo UTIs que recebem pacientes com Covid-19 e não podem ser desabastecidos.

“Temos que ter razoabilidade e responsabilidade para não deixar faltar no mercado tradicional. Paciente com Covid, quem está no hospital, precisa de seringa. E paciente Covid precisa de seringa hoje, a vacina é uma promessa de futuro”, afirma Souza. “Tudo que estamos fazendo de esforço e oferta vem de uma capacidade adicional de produção, considerando o abastecimento dos serviços contratados. Não vamos competir por licitação, venda, sem ter certeza que todos os compromissos que já temos serão cumpridos”.


Ainda segundo ele, a demanda que agora está surgindo por conta da vacinação contra a Covid-19 é algo “tão inédito quanto o próprio evento da Covid, um volume muito grande”. Para dar conta do recado, então, a fábrica curitibana estuda ampliar a capacidade de produção, contratando novos colaboradores e ampliando a jornada de trabalho, por exemplo. Essas possibilidades, contudo, só se concretizarão a partir do momento em que houver a certeza de que o governo federal irá adquirir os insumos.

“É a seringa paranaense ajudando o Brasil. Havendo planejamento, que é o que pedimos há muito tempo, não vamos ter problema de seringa e passamos a aguardar a vacina, porque essa história de seringa é como um casamento, a vacinação é como um casamento: a noiva é a vacina e a seringa, o noivo”, explica Walban Souza. “Nossa área fabril está estudando [como ampliar a produção], mas a decisão só será tomada a partir do momento em que vencermos a licitação. Mas tudo está na mesa para avaliação”, finaliza.


‘Vamos passar o ano de 2021 e quiçá 2022 vacinando’, diz diretor de empresa

Ainda segundo Walban Souza, diretor de Assuntos Corporativos da BD, o que as fábricas têm pedido aos estados e ao governo federal é que a aquisição dos produtos seja feita de forma escalonada, de forma a facilitar e racionar a entrega, até mesmo tendo em vista a capacidade de produção instalada e a demanda tradicional por seringas e agulhas, que não pode ser desprezada. Ele também aponta que, quando se olha o processo produtivo da vacina e a produção em escala, não se imagina a perspectiva de um volume tão grande de imunizantes num curto prazo.

“A gente não vê, no curto espaço de tempo, a perspectiva de ter um volume tão grande de vacinas como esse que está sendo adquirido de seringas. Eu gostaria, torço para que seja uma realidade. Mas não vejo isso. As melhores perspectivas nos sinalizam que vamos passar o ano de 2021 vacinando e quiçá 2022 também para chegar no maior número de habitantes com a vacina, porque tudo depende da escala da produção da própria vacina e está todo o mundo concorrendo”, explica ele, destacando ainda que, na questão da seringa, o Brasil se encontra em posição privilegiada. “Poucas nações têm três fábricas em seu território.”


Fabricantes alertam desde maio a necessidade de planejamento

Desde maio, quando começou a se discutir a possibilidade de uma vacina contra o coronavírus para breve, as fabricantes de seringas e agulhas alertam o governo federal sobre a necessidade de se planejar a aquisição dos insumos. Só recentemente, contudo, o Ministério da Saúde começou a dar a devida atenção ao assunto.

Na semana passada, porém, fracassou a primeira tentativa de aquisição dos produtos para a campanha de imunização. Das 331 milhões de unidades que a pasta deseja comprar, só 7,9 milhões foram garantidas no pregão eletrônico. No começo desta semana, então, foi anunciado que seriam feitos novos pregões, mas ontem o governo federal, por meio do presidente Jair Bolsonaro, declarou que a aquisição do material estaria suspensa “até que os preços voltem à normalidade”.

Ainda assim, o governo garante que já estariam disponíveis cerca de 60 milhões de seringas e agulhas, número suficiente para iniciar a vacinação da população ainda em janeiro, segundo o ministro Eduardo Pazuello. O governo do Paraná também diz que tem estoque suficientes de seringas e que já está em processo de aquisição de mais um grande lote.


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