ESQUEMA DE CORRUPÇÃO NO EXÉRCITO BANCOU FESTA COM PROSTITUTAS EM MOTEL

(Imagem: Félix Zucco / Agencia RBS)

O "suicídio" do tenente que sabia demais e o esquema de corrupção que bancava orgia com prostitutas: os dois casos servem como lembrete de que as Forças Armadas têm a corrupção como companheira desagradável. Embora discreta, graças ao corporativismo e ao apreço pelo sigilo inerentes ao mundo militar

Um esquema de corrupção que envolveu um conluio entre oficiais do Exército e empresários em fraude de compra de alimentos para a caserna, ocorrido entre 2005 e 2006, começa a ser punido agora.

A Justiça Militar condenou recentemente 26 acusados, sendo onze oficiais: dois coronéis, um tenente-coronel, um tenente, um subtenente, um major e cinco capitães. Foram condenados ainda oito militares de baixa patente e sete empresários da área de alimentos.

Os militares e civis foram condenados pelo juiz federal substituto da Justiça Militar Alexandre Quintas a penas que chegam a 16 anos, no caso de um coronel.

Na sentença, o juiz relata que a proximidade entre dois capitães e um empresário era tamanha que “este último contratou prostitutas e promoveu uma festa em um motel de Manaus para os referidos oficiai…

“Suicídio” do tenente

O esquema de corrupção nas Forças Armadas julgado agora traz à baila o caso do primeiro tenente Arthur Felipe, de 26 anos, encontrado morto em abril de 2006 no banheiro com um tiro na testa. Ao lado do corpo estavam a pistola calibre 9 milímetros que o oficial usava em serviço e um bilhete de despedida.

“O inquérito policial militar instaurado para investigar o fato concluiu que foi suicídio, porém a função exercida pelo tenente levantou a hipótese de assassinato. Arthur de Carvalho era tesoureiro do batalhão e teria informações a respeito de irregularidades financeiras e administrativas”, conta o repórter Marcos Sacramento, do DCM.

Em março de 2007, a revista Istoé publicou uma matéria sobre a morte de Arthur Felipe. 

Confira trechos:

“O caso mais importante envolve uma dívida milionária do batalhão com o Hospital Santa Mônica, situado num bairro vizinho. Há quase 20 anos o hospital presta serviços ao quartel. Mas, a partir de 2005, o atendimento passou a ser feito sem licitação nem contrato entre as partes. Mesmo assim, o hospital cobrava do Exército uma fatura de R$ 2,2 milhões. O tenente Arthur se negava a fazer o pagamento e sofria pressões para fazê-lo.

Religioso, 25 dias antes de morrer, durante uma aula de crisma na Igreja Católica que frequentava, ele anotou no caderno: “Tô tenso! Dívida com o Hosp. Santa Mônica no valor de R$ 2.200.000,00 não tem como pagar (…) O comandante tá obrigando a pagar.” A anotação é corroborada por depoimentos.

“[O tenente] sentia-se pressionado pelo Comando do Batalhão e pelo setor financeiro do Hospital Santa Mônica para realizar o pagamento que não estava de acordo e não seguia a legislação vigente”, diz uma testemunha. Outro depoente relata uma conversa que teve com o próprio Arthur sobre seu drama, um dia depois de uma reunião na casa do comandante: “A ordem é pagar tudo, e eu, tenente Arthur Carvalho, não pago! Não pago! Não pago!”

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