BARBARA GANCIA SE IRRITA COM COMENTÁRIO DE EMICIDA NO RODA VIVA

     Emicida e Barbara Gancia
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Barbara Gancia chama Emicida de 'moleque' e 'bostinha' e pede respeito após ser citada no Roda Viva. Jornalista foi lembrada pelo rapper durante a entrevista desta segunda. Na entrevista, artista ainda fala sobre racismo, Datena e Bolsonaro

A jornalista Barbara Gancia, 62, reagiu na madrugada desta terça-feira (28) à citação de seu nome na entrevista do rapper Emicida, 34, ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Durante a entrevista, muito comentada nas redes sociais, Emicida criticou o texto “Cultura de bacilos”, publicado na Folha em 2007 com críticas de Gancia ao uso de verbas públicas para ensinar hip hop a jovens. No texto, ela vinculou o hip hop ao tráfico de drogas.

“Esse rapazinho deveria parar de ouvir apenas o som da própria voz. Essa viagem de achar que por ser defensor dos pobres e oprimidos ele tem o direito de sair por aí espinafrando os outros sem procurar se informar provavelmente vai lhe custar alguns dias no purgatório antes de sentar-se à direita de Deus Pai, como ele parece almejar”, reagiu a jornalista, no Twitter.

Ela disse que já explicou “um milhão de vezes”, inclusive para o próprio Emicida, que foi uma das pessoas de sua geração que não achava graça em ver alguém “pegar uma música de sucesso, gravar a própria voz em cima e sair dizendo que se tratava de uma composição sua”. Gancia criticou a própria postura nessa época.

“Era assim que a topeira aqui via o rap. Tirei um sarro disso na minha coluna da Folha algumas vezes. Daí tomei tanta porrada que resolvi tomar vergonha na cara e ir estudar a história do rap e do hip-hop para entender do que se tratava”, completou a jornalista, que disse que leu tudo o que podia e “se converteu ao rap.”

Barbara Gancia convidou as pessoas a visitarem o seu perfil no Spotify para conferir as playlists, verificar se há hip-hop e se é a “pessoa escrota que esse moleque está dizendo”. “Emicida não se deu ao trabalho de saber quem sou antes de me esculhambar”, reclamou.

“Mesmo estando cansado de saber o custo que um ataque desse tipo pode ter nas redes sociais justiceiras e magnânimas dos dias de hoje. Mostrou ser um nanico, um bostinha sem senso de humor, o mesmo que reagiu feito moleque chorão quando eu tirei sarro dele no Twitter”.

Gancia lembrou ainda que é colega de Emicida no canal GNT e tem idade para ser mãe dele.
“A nossa chefe já falou pra ele que ele estava errado em me julgar tão mal e, na real, eu acho o trabalho social que ele faz admirável”, completou.

A jornalista contou ainda que Emicida se recusou a trabalhar com ela na Copa da Rússia e a julga “sem nem sequer se questionar porque alguém que ele considera tão desprezível ocuparia espaços tão próximos a aqueles em que ele também está presente”. “Humildade é boa e mandou lembranças, sabichão”, ela encerrou.

Entrevista de Emicida

Durante a entrevista, ao ser questionado pela apresentadora Vera Magalhães sobre os preços das peças de roupas do Laboratório Fantasma, marca administrada pelo cantor, Emicida disse não ligar para as críticas e reafirmou seu compromisso para com seus empregados.

“Eu conheço a cadeia produtiva com a qual eu trabalho, eu sei quanto ganha uma costureira, por exemplo. Eu não vou vender uma camiseta a R$ 9,90 para colocar uma mulher ganhando um salário de miséria”, afirmou o rapper.

Emicida trouxe à tona o racismo presente nas críticas que recebe, e deu como exemplo quando recebeu o prêmio Men of The Year, da “GQ”. “Eu vou de terno numa festa de gala e os caras saem espalhando que o Emicida está usando um terno de R$ 15 mil. Aí todo mundo acha que isso é uma grande contradição, porque eu estou usando uma roupa chique, num evento chique. E ninguém nem consegue perceber o quão racista é dizer algo como isso”, desabafa.

Para ele, quem tem que ser questionado sobre os preços das coisas são as pessoas que conduzem a cadeia de produção de forma irresponsável, mantendo, inclusive, trabalhadores em sistemas de produção análogos a escravidão, o que não é o caso do Laboratório Fantasma. “A gente não se relaciona com isso, todas as pessoas que se vinculam ao Laboratório Fantasma, seja em qualquer função, elas usufruem dessa conquista. Por isso que no nosso desfile de moda, as costureiras estão na primeira fila, chorando emocionadas, porque elas nunca tinham experimentado costurar uma roupa e poder assistir aquilo ser lançado”, ressalta.

“Isso é uma conquista coletiva, isso é hip hop. Então essa crítica (de preços altos nas peças de roupas) não me ofende, porque é uma coisa tão pequena. Você está dizendo que uma pessoa preta e pobre, para ser verdadeira, tem que vender coisas ruins e baratas. E não, muito pelo contrário. A gente tem que trabalhar para que as pessoas se emancipem, inclusive economicamente, para que possam usufruir disso”, completa.

Datena

Um dos momentos mais marcantes da entrevista se deu quando Emicida expôs sua opinião sobre a relação do rap com o crime organizado. “Isso é uma análise bastante preconceituosa. Desde quando narrar uma determinada situação que está vinculada ao crime faz de você um apologista dessa situação? E se isso faz de você um apologista daquela situação, então você tem que começar a pegar o Datena, que faz isso todo dia na televisão, ilustrando crimes e empurrando isso goela abaixo na sociedade brasileira”, disparou o artista.

(continua após o vídeo)

Jair Bolsonaro

O jornalista Alexandre De Maio questionou Emicida sobre a organização política do movimento Hip Hop. “Quando o Lula ganhou as eleições em 2002 o Hip Hop estava super organizado e eu acompanhei o encontro do MV Bill, Racionais, vários rappers com o Lula. Você vê o Rap, o Hip Hop organizado dessa maneira? Você aceitaria um encontro com Bolsonaro e o que você falaria para ele?”, perguntou o repórter.

Emicida respondeu: “Se eu aceitaria encontrar com o Bolsonaro para conversar sobre o Hip Hop, obviamente que não. Obviamente porque os valores que o Bolsonaro defende são completamente contrários a tudo que acredito”.

O rapper resgatou seu último projeto, ‘AmarElo’, para explicar o que o distancia tanto de Bolsonaro. “A capa do disco AmarElo é uma foto da Claudia Andujar. É uma fotógrafa que tem uma história de vida incrível. Ela é uma sobrevivente do nazismo… Ela vem para o Brasil e na exposição da Claudia Andujar é deprimente, porque tem o vídeo em que Bolsonaro aparece no Congresso Nacional, nos anos 1980 dizendo que ele ia fazer tudo o que ele está tentando fazer nesse momento. Então a natureza de alguém com esse tipo de pensamento, não se conecta de maneira nenhuma aos valores humanísticos que o Hip Hop defende. O Hip Hop é a luta constante de melhoria para todo mundo”.

A ÍNTEGRA DO RODA VIVA COM EMICIDA:

GAZETA SANTA CÂNDIDA, JORNAL QUE TEM O QUE FALAR

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