HOSPITAIS QUE TRATAM CORONAVÍRUS NA PB FORAM INVADIDO ANTES DA ORDEM DO PRESIDENTE

Antes da ordem de Jair Bolsonaro, hospitais da PB que tratam Covid-19 já eram invadidos por bolsonaristas. Invasões se multiplicaram após fala do presidente e Ministério Público deve investigar as ações criminosas


O deputado estadual Cabo Gilberto (PB), um dos invasores de hospitais de campanha que tratam pacientes de coronavírus (Reprodução/Instagram)

Apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido) passaram a invadir hospitais de campanha do coronavírus após o presidente estimular as ações em uma live no Facebook na última quinta-feira (11).

Na Paraíba, esses episódios aconteceram antes mesmo das últimas declarações de Bolsonaro. As informações são do portal Tribuna PB.

O site cita o deputado estadual Cabo Gilberto como um dos protagonistas das invasões criminosas. O parlamentar é conhecido no estado por propagar notícias falsas e é suspeito de integrar o chamado ‘gabinete do ódio’.

Ainda de acordo com o portal, Cabo Gilberto admitiu que furou a segurança do Hospital Solidário de Santa Rita (PB) e entrou no local sem autorização, acompanhado de assessores.

A invasão ocorreu no dia 3 de maio e o objetivo do deputado era mostrar que o estado não estava sendo devastado pela Covid-19. Na época, a Paraíba tinha 1.219 casos confirmados e 79 mortes por coronavírus. Neste domingo (14) são 28.013 casos e 633 óbitos.

A ocupação de leitos de UTI para adultos em toda a Paraíba é de 69%. Na região metropolitana de João Pessoa, 80% dos leitos de UTI para adultos estão ocupados.
Investigações

Ainda neste domingo, o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou que as unidades do Ministério Público nos estados apurem as invasões de hospitais que tratam pacientes de coronavírus.

No ofício aos estados, Aras não menciona a fala do presidente e também não informa se as declarações de Bolsonaro serão investigadas.

No documento, Aras afirma ter havido “em variados locais do país, episódios de ameaças e agressões a profissionais de saúde que atuam no combate à epidemia do vírus covid-19, além de danos ao patrimônio público e perturbações ao serviço público”.

No dia 4 de junho, deputados estaduais de São Paulo invadiram as instalações do hospital de campanha no Anhembi, causando tumulto e afirmando que fariam uma vistoria. A exemplo do que ocorreu na Paraíba, os parlamentares paulistas minimizavam a pandemia e afirmavam que o governo estadual estaria mentindo sobre os casos e óbitos.

No Rio de Janeiro, um grupo de seis pessoas entrou no Hospital municipal Ronaldo Gazolla, unidade de referência no tratamento da Covid-19. Eles invadiram alas restritas a médicos e pacientes, xingaram os profissionais de saúde e chegaram a quebrar equipamentos.

Os invasores gritavam que tinham o direito de verificar os leitos para ver se estavam mesmo ocupados. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo.
Discurso de Bolsonaro

Na transmissão ao vivo que inflamou seus seguidores, o presidente Bolsonaro sugeriu que a população filme o interior de hospitais públicos e de campanha para verificar a ocupação dos leitos de emergência.

“Se tem hospital de campanha perto de você, hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente está fazendo isso e mais gente tem que fazer para mostrar se os leitos estão ocupados ou não. Se os gastos são compatíveis ou não. Isso nos ajuda”, disse Bolsonaro.

A entrada nas unidades de saúde não é permitida sem autorização e pode expor as pessoas ao risco de contaminação pelo coronavírus. Para Gilmar Mendes, o Ministério Público Federal precisa agir imediatamente.

“Invadir hospitais é crime — estimular também. O Ministério Público (a PGR e os MPs Estaduais) devem atuar imediatamente. É vergonhoso — para não dizer ridículo — que agentes públicos se prestem a alimentar teorias da conspiração, colocando em risco a saúde pública”, afirmou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

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