ARQUIPÉLAGO SÃO PEDRO E SÃO PAULO, O BRASIL DESCONHECIDO

Por João Lara Mesquita

Arquipélago São Pedro e São Paulo: uma parte pouco conhecida do Brasil
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O tamanho não impressiona. Juntas, as ilhas não têm mais que dois campos de futebol (13 mil m2). O ponto culminante, apenas 18 metros. Já a distância da costa, impressiona. O arquipélago São Pedro e São Paulo fica a 520 milhas (1.100 Km) de Natal, RN; e 1.800 Km de Dacar, Senegal. O nome já foi “Rochedos” São Pedro e São Paulo. O mais famoso visitante, Charles Darwin, ali desembarcou na manhã de 16 de fevereiro de 1832. Ele estava na primeira parte de sua viagem ao redor do mundo, a bordo do “HMS Beagle”.

      O pequeno ponto vermelho é o local do arquipélago (Ilustração: Google)
       Formação do Arquipélago São Pedro e São Paulo

“É a única localidade oceânica até hoje conhecida em que ocorre a exposição in-situ do manto abissal acima do nível do mar. As rochas ultramáficas intensamente fraturadas sugerem a existência de um intenso movimento tectônico. Esse tectonismo está em continuação até o presente.”A formação geológica do Arquipélago São Pedro e São Paulo (ilustração: Folha de S. Paulo)
Geologia

“A geologia do arquipélago é outra peculiaridade que atrai cientistas. Ele tem uma constituição rochosa extremamente rara no mundo, resultado do afloramento direto do manto suboceânico vindo de profundidades abissais. Ou seja, as rochas ali são plutônicas (rochas plutônicas, ou intrusivas, são formadas devido à lenta cristalização de um magma em profundidade e não vulcânicas). Como se um dedo enorme saísse das profundezas e chegasse à superfície. Esse relevo permite:

-frequentes pequenos terremotos na região (é a única área brasileira onde a atividade sísmica é frequentemente observada);

– a existência de um paredão rochoso que, há poucos metros da ilha, já se afunda até os 4.000 m de profundidade;

– enriquecimento nutritivo das águas ao redor do Arquipélago, advindo das ressurgências existentes combinadas às constantes correntes oceânicas, fruto da proximidade da área à linha do Equador.

Arquipélago São Pedro e São Paulo (Foto: google)
Área mais oriental do território do Brasil

Embora pertença a Pernambuco, o arquipélago fica mais próximo do Rio Grande do Norte. É o único conjunto de ilhas oceânicas brasileiras acima da linha do Equador, portanto, no hemisfério Norte; é uma das joias da coroa do litoral brasileiro, ainda pouco protegido. Foi transformado em APA, Área de Proteção Ambiental, em junho de 1986. E, em Estação Científica (sob os cuidados da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar), em 25 de junho de 1998.
APAs são permissivas demais. Não protegem nada. É preciso que S. Pedro e S.Paulo se torne UC de proteção integral

As APAs são as mais permissivas Unidades de Conservação entre as 12 categorias do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação). Ambientalistas lutam para que seja recategorizado para uma unidade de proteção integral. São Pedro e São Paulo são derradeiros refúgios de espécies oceânicas que estamos à beira de deixar extinguir pela predação de frotas pesqueiras.

A pesca acontece no arquipélago pelo menos desde a primeira metade do século 19 quando Darwin lá esteve e registrou:

O menor rochedo dos mares tropicais, fundamentado pelo crescimento de inúmeras algas e animais complexos, suporta portanto um imenso número de peixes. Os tubarões e os pescadores nos barcos mantêm uma constante disputa para assegurar sua fatia da presa coletada pelas linhas de pesca.
A chegada da Marinha do Brasil, e mudança de nome

De acordo com o site da Marinha do Brasil, “a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), da que o Brasil é signatário, não reconhece (com parte da Zona Exclusiva Econômica) os “rochedos“. Por que? “Porque eles não se prestam à habitação humana ou à vida econômica, não tendo zona econômica exclusiva ou plataforma continental. Assim, no final dos anos 1990, o Brasil adotou providências em relação aos rochedos: mudou-lhes o nome para “arquipélago”. Construiu e instalou lá um farol, para substituir o que fora destruído por um sismo, em 1930. E construiu uma estação científica permanentemente guarnecida por um pequeno grupo de pesquisadores.”

A primeira Estação Científica construída no arquipélago foi inaugurada em 25 de junho de 1998, a partir do que o local permanece permanentemente habitado. O site da Marinha do Brasil confirma a pesca…


Interesse econômico – O ASPSP está situado na rota migratória de peixes com altíssimo valor comercial, revelando-se uma região bastante promissora para a atividade pesqueira nacional.

Assista o vídeo da pesca irregular no arquipélago:

Reportagem da Folha de S. Paulo de maio de 2017 registrou: “de noite, hora de pescar, os homens do Transmar 1 (barco que leva pesquisadores a partir de Natal) buscam, sobretudo, o atum, de alto valor comercial, mas os tubarões têm afugentado o alvo da pesca. Nos 16 dias que antecederam a entrevista, a tripulação havia capturado 28 atuns. Em outros tempos, lembra Ramiro Teixeira da Silva, já teriam passado de 200 os peixes apanhados àquela altura.

Duzentos atuns em 16 dias. Não à toa, hoje o pescador reclama que só fisgaram 28…e isso é pesca “recreativa” dos marinheiros que vão para lá levar pesquisadores. Imagine a pesca industrial que também atua (contra as normas) na região…

E para a ciência…


Interesse científico – O ASPSP sempre despertou elevado interesse científico. Trata-se de um caso raríssimo de formação de ilhas, cercadas de rica biodiversidade, que proporcionam condições únicas para a realização de pesquisas em diversos ramos da ciência.

Objetivos da Marinha do Brasil

O mesmo site informa:

O principal objetivo do PROARQUIPELAGO é garantir a habitabilidade permanente da remota região do arquipélago, o que propicia ao país o estabelecimento de uma Zona Econômica Exclusiva ao País de 450.000 Km2. Como a região incorpora elevado potencial para realização de pesquisas nos mais variados ramos da ciência, a habitação contínua é facultada a pesquisadores vinculados a projetos científicos previamente selecionados.

Os navios da Marinha vão a São Pedro e São Paulo quatro ou cinco vezes por ano para reparos nas instalações e farol, levar mantimentos, etc. Além da Marinha, 1.300 pesquisadores de 20 Universidades estiveram em São Pedro e São Paulo. Eles permanecem na estação de pesquisa, com capacidade para quatro pessoas, em média duas semanas.
A base (Foto: Folha de S. paulo)

As pesquisas científicas

“Para desenvolver os estudos em São Pedro e São Paulo os pesquisadores têm que se submeter a um edital do CNPq. Se aprovado, o projeto é enviado para uma equipe do Proarquipélago, que analisa as condições logísticas para levá-lo adiante. Cumpridas essas etapas, o pesquisador viaja em um pequeno barco por quatro dias para chegar a São Pedro e São Paulo.”

A pequena baía onde acontecem os desembarques (Foto: Folha de S. Paulo)

A vida marinha

“O oceanógrafo Jorge Eduardo Lins de Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que esteve várias vezes no local afirma que “o arquipélago é como um ‘pit-stop’, onde os peixes se abastecem. Fica numa região acima da linha do Equador onde passam os grandes pelágicos, como baleias, tubarões e golfinhos. Há uma formação rochosa em torno da qual se desenvolveu uma rica cadeia alimentar. Além disso, por conta do isolamento geográfico, existem na área seres vivos que não se distribuíram ao longo do tempo. Só são encontrados lá [endêmicos].”

Segundo o livro O Arquipélago São Pedro e São Paulo: 10 anos de Estação Científica, ” há no local 60 espécies de peixes que vivem em torno dos arrecifes. Desses, cinco só são encontrados no arquipélago, como o Stegastes sannctipauli, um tipo de peixe-donzela.”
O arquipélago São Pedro e São Paulo fica na rota de migração de peixes

“Devido à sua localização geográfica, o arquipélago está na rota de migração de grandes peixes, como o tubarão-baleia e os atuns, entre eles o da espécie albacoara-da-lage (Thunnus albacares), considerado o peixe mais valioso. Mamíferos como baleias e golfinhos também rodeiam as ilhas.Além de peixes, cientistas analisam espécies de esponjas, relevantes para a preservação do patrimônio genético brasileiro. As anêmonas-do-mar também são estudadas, já que têm toxinas, que podem ser aplicadas em medicamentos voltados para tratamento de dor crônica em pacientes, como a ziconotide.”

As ilhas que formam o arquipélago

Assista e vídeo e saiba mais sobre São Pedro e São Paulo
Fontes: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0370-44672009000300011; https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquip%C3%A9lago_de_S%C3%A3o_Pedro_e_S%C3%A3o_Paulo; https://www.youtube.com/watch?v=dddF_CEYkmw; http://www.navegar-es-preciso.com/news/penedos-de-san-pedro-y-san-pablo/; https://www.flickr.com/photos/wagnergumz/2343399809; http://www.luciamalla.com/blog/2008/03/no-arquipelago-de-sao-pedro-e-sao-paulo.html; https://www.mar.mil.br/secirm/portugues/arquipelago.html.

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