NOMOFOBIA, OS SINTOMAS E AS CONSEQUÊNCIAS DO USO DESTA TECNOLOGIA

O desespero de ficar sem o o seu telefone celular ou não poder usar por ausência de sinal, a bateria chegando à carga mínima ou término de crédito do plano contratado. Nomofobia, não está relacionada ao tempo em que a pessoa fica no aparelho, mas aos prejuízos que o uso acarreta em sua vida. 

 A preocupação com as curtidas e compartilhamentos de uma imagem, deixar de ter contato com pessoas próximas, sentir-se mais feliz na vida virtual que no mundo real, deixar de dar valor e aproveitar os momentos da vida para postar uma selfie, ansiedade ‘daquele’ contato que não dá retorno da mensagem, são alguns dos sinais que você está saindo do limite. 


Segundo Dora Goes, psicóloga do Programa de Transtornos do impulso, do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), o uso abusivo do celular pode desencadear nomofobia (do inglês “no mobile phobia’’) que pode desencadear depressão. Atualmente podemos ‘assistir’ pessoas que ficam em pânico, se sente impotente, o sentimento de angustia quando não pode se comunicar sem seu aparelho de celular. Quando não se consegue se concentrar em outras atividades por estar atento no que está acontecendo no aparelho, eis aí, um grande problema. A psicologa ainda explica que o transtorno é percebido quando o uso do celular passa a ter prejuízos na vida da pessoa. 

NÚMEROS NO BRASIL

São 71 milhões de brasileiros acessam a internet somente pelo celular. Esse grupo representa 56% do total de 126,9 milhões de usuários de internet no Brasil (pessoas que acessaram a web pelo menos uma vez nos últimos três meses). Outros 51 milhões (40% dos internautas) se conectam tanto pelo celular quanto pelo computador. Os dados fazem parte da nova edição anual da pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br),Nic.br e GGl.br, a partir de entrevista em 23.508 domícilios de 350 municípios entre outubro de 2018 e março de 2019. O pesquisador do Instituto Delete, empresa dedicada a orientar e informar à sociedade sobre o uso consciente das tecnologias, Eduardo Guedes afirma que a principal causa para o abuso no uso do celular é a ansiedade. 

Muitas pessoas usam o celular como muleta, porque se sentem sozinhas, e veem o celular como companhia. São ansiosas, têm pânico, e o celular faz o contato com o mundo. Para o pesquisador, o principal problema é a substituição da vida social pelas relações virtuais, e isso se torna um círculo vicioso, que se agrava cada vez mais. 

Tivemos uma paciente extremamente ansiosa que trocou o vício do cigarro pela tecnologia. Ela teve problemas pulmonares por causa do cigarro e trocou o vício. Ela começou a jogar a fazendinha do Facebook, mas o grau de dependência era tanto, que se ela tivesse problemas de conexão com a internet, ela ia para a LAN house mais próxima à casa dela para fazer a colheita na hora certa. 

De acordo com a psicóloga, os mais jovens, entre 13 e 25 anos, são os mais propensos a desenvolver o vício, idade na qual a opinião dos outros ainda é muito influente. 

Guedes ainda afirma que o uso abusivo das redes sociais acontece porque falar de si mesmo gera prazer. Segundo ele, em uma conversa normal, falamos de nós mesmos 30% do tempo. Nas redes sociais, falamos de nós cerca de 90% do tempo. E isso é alimentado pelas curtidas e comentários dos outros usuários. 

Na visão da psicologa da USP, além do prejuízo social, das relações interpessoais, outra consequência negativa é a alteração do padrão do sono. 

As pessoas simplesmente não desligam o celular. Tem gente que dorme com o celular debaixo do travesseiro pra ver as mensagens durante a noite. Por isso, a alteração do padrão do sono também se caracteriza como sintoma, e mais do que isso, como consequência, porque isso afeta todas as demais atividades que a pessoa faz. 

Consequentemente, tudo se torna uma cadeia de prejuízos, explica Dora. Já que, além de dormir mal, a pessoa acaba produzindo menos, seja no trabalho ou na escola, porque não teve um sono reparador. Falando em outras atividades, um dos maiores perigos é o trânsito, não só pelo fato de poder acabar dormindo ao volante, mas também pelo fato de não parar de ver mensagens enquanto dirige. 

Além do vício e do padrão do sono, a psiquiatra explica que outras consequências da nomofobia podem ser a falta de concentração, problemas de visão (por causa da exposição à tela), sedentarismo, tendinite, problemas na coluna por causa da postura, e até na alimentação. 

O vício em tecnologia pode mascarar a depressão. Normalmente, a pessoa se sente mal por algum motivo externo e começa a se esconder nas redes sociais. O problema é que isso acaba virando um círculo, porque ela se isola ainda mais e se sente mais sozinha, e isso continua. 

“Mostrar é mais importante do que o viver’’ Dora acredita que as pessoas desaprenderam a viver. Para a psicologa, muitos viraram reféns de curtidas e compartilhamentos. 

Ao invés de serem felizes, elas querem mostrar que são. O mostrar passou a ser mais importante do que o viver ou fazer. Isso faz com que a pessoa tenha menos prazer em viver a vida. 

A especialista dá o nome de sociedade do espetáculo para este fenômeno. Para ela, as pessoas se sentem mal com a vida que têm, e precisam mostrar o que estão fazendo para agregar valor ao que fazem. 

Para mim, há uma deturpação do que agrega valor à vida ou não. Mas isso é retroalimentado, porque, quanto mais eu mostro, mais os outros querem ver. As pessoas deixaram de desfrutar do momento para postar. E fica um buraco, uma falta de sentido, e os likes e comentários preenchem esse vazio. Aí, quando vem o vazio de novo, eu posto outra vez. A pessoa se torna extremamente dependente da opinião dos outros. A noção de felicidade é instantânea. 

Dora Goes ainda ressalta que quem convive com a pessoa que exagera no uso do celular percebe melhor a dependência. 

A pessoa até sabe que usa muito, mas normalmente perde o senso crítico de que está exagerando. Por isso, quem está convivendo com a pessoa percebe melhor e deve procurar ajudar. 

Segundo Guedes, a questão é que, normalmente, se percebe quando o vício já está no último estágio, do conflito com pessoas mais próximas. 

Por isso que é importante o trabalho de conscientização para a prevenção. Porque o uso do celular ainda é socialmente aceito. Se você está no trânsito e vê alguém bebendo enquanto dirige, você se incomoda, mas se você vê a pessoa no celular ou digitando uma mensagem, ainda não é visto como um problema.

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