TÃO ATRELADOS E DEPENDENTES DO CAPITALISMO MUNDIAL SÃO EUA E CHINA QUE ACABARÃO MORRENDO ABRAÇADOS

PARTE 01

   Dalton rosado

IMPASSE NA GUERRA COMERCIAL

No capitalismo é assim, uma eterna guerra de mercado entre contendores produtores de mercadorias, cada um dos quais buscando impor sua hegemonia. 

Mas há um limite previamente delimitado: a capacidade de consumo dos compradores. E aos vencedores de tal guerra se faculta a prosperidade, enquanto os vencidos amargam a penúria.

Entre os produtores no interior dos países ocorre o mesmo que com os países (embora estes não sejam efetivamente produtores, pois tal papel cabe às empresas privadas ou estatais neles atuantes): os trabalhadores, os verdadeiros produtores, são apenas a força de trabalho subjugada, qual inocentes úteis.

É que os países, organizados politica e juridicamente em Estados-nações, beneficiam-se dos impostos relativos a essa produção, podendo dar ares de proteção aos seus súditos-cidadãos no atendimento de demandas sociais que justifiquem sua estrutura social, opressora dos pretensos beneficiários.

Os governantes têm a missão estatal precípua de defesa do capital no interesse das empresas sediadas em seu território ou filiais estabelecidas em território alheio, mas capazes de fazer a remessa de lucros extraídos de suas atividades. 


O capital não é estatal, mas o Estado, na sua missão de proteção dos capitalistas nacionais, impõe mediante medidas protetivas fiscais e monetárias aos produtores dos Estados concorrentes, capitalistas produtores de mercadorias que, em busca do seu lucro vital, participam dessa guerra fratricida. 

Tudo em consonância com uma lógica insana, irracional, que a cada dia se mostra mais anacrônica, destrutiva da vida das pessoas e do meio ambiente, e, por fim, autodestrutiva. 

O espetáculo midiático do protecionismo mercadológico entre Estados Unidos e China, ambos capitalistas, explicita a contradição entre:
— o imperativo de crescimento constante e cada vez mais volumoso da produção de mercadorias e, consequentemente, de extração de mais-valia e massa de valor; e

— o limite do consumo do mercado, que, por mais que se inventem produtos novos para o consumo, não obedece à mesma ordem de necessidade de crescimento. 

Os EUA, antes maiores defensores do livre mercado, agora veem grande parte das mercadorias produzidas em seu território não manterem sua capacidade competitiva (uma contradição que força a redução de salários, conforme previu Marx). 

Então, abandonam a retórica anterior e passam a praticar a proteção de mercado, impondo barreiras alfandegárias ao produtos chineses, os quais são fabricados num país com renda per capita cinco vezes menor. 

O dragão asiático tende a vencer a guerra, mas ambos estão numa sinuca de bico.
 
Ninguém menos que Steven Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA, afirma que “a manipulação do câmbio da moeda chinesa vai prejudicar seriamente a ordem financeira internacional e provocar o caos nos mercados financeiros”. 

E continua, em tom de quase ameaça: 

"A China que não espere mais boa vontade dos Estados Unidos!". 
Ora, Mnuchin se preocupa com a solvência do sistema de crédito mundial, ao qual está atrelada a economia dos EUA e seus bancos.

Se, por um lado, ele se preocupa com a agressividade das exportações chinesas que invadem os Estados Unidos, por outro lado se aflige com a solvência da magnifica dívida pública e privada chinesa (que corresponde a pouco menos de 300% do seu Produto Interno Bruto anual, orçado em cerca de USS 18 trilhões), a qual somente se conservará solvente no principal e juros devidos correspondentes caso sejam mantidos os atuais níveis de crescimento. 

Trata-se de uma contradição implícita e explícita, pois os bancos internacionais e rentistas credores dessa dívida são, em grande parte, sediados nos EUA; então, a quebra da China levará de roldão tais credores, provocando um tsunami no sistema de crédito financeiro internacional imensamente maior que o da crise do sub-prime estadunidense em 2008/2009.


Mas, os Estados Unidos não podem ficar indefinidamente suprindo a sua balança comercial exterior deficitária com artificialismos monetários e crescimento de sua dívida. 


Diante do protecionismo estadunidense, o Banco Central Chinês, no tabloide oficial do Partido Comunista, adverte que “os Estados Unidos devem segurar as rédeas antes do precipício e voltar atrás”. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

____________________________________________________________________

(continuação deste post)

"...a perspectiva mais realista...

O analista Michel Every, do Robobank, avalia que “com as medidas do BC Chinês [referia-se à desvalorização do yuandaquele país, com relação ao dólar dos EUA, moeda internacional], vamos ter uma escalada rápida e grave”.

O BC chinês, por sua vez, afirma que “a culpa pelas medidas tomadas recai sobre o unilateralismo dos Estados Unidos em tomar medidas de protecionismos comerciais e a imposição de tarifas ampliadas [de 10% para 25%] sobre os produtos chineses”. 

A China vem lentamente perdendo força no crescimento do seu PIB, o qual, embora continue sendo elevado relativamente ao dos países grandes produtores, já não é mais tão vigoroso, necessitando manter os níveis de crescimento (o que é matematicamente impossível), sob pena de se tornar insolvente e provocar a falência do sistema de crédito mundial). 

Teria, ainda, de evitar o aumento do nível de desemprego, pois seria catastrófica a volta aostatus quo ante grande parte de sua imensa população ter-se urbanizado, beneficiada pelo processo de desenvolvimento industrial capitalista promovido desde que Deng Xiaoping assumiu a liderança suprema do país em 1978. 

Os acordos solenes que EUA e China celebraram são unilateralmente revogados diante do impasse causado pelo fato de que a lógica de reprodução da valor em seu limite interno de expansão não permite comportamento suasório. 


...é a de que morram abraçados"
E isto se dá porque a essência da dinâmica do capitalismo é a guerra na qual cada mercadoria tenta se impor perante as outras com menor valor (e preço, que é categoria diferente de valor), e isto somente se consegue num processo autofágico, socialmente destrutivo e autodestrutivo de sua própria forma.

Se a China começa a sofrer com o limite expansionista do capitalismo que adotou, baseado em endividamento de sua produção para uma urbanização industrial acelerada (o que a torna vulnerável aos juros dessa dívida e dependente do crescimento do consumo internacional de mercadorias, pouco provável), os Estados Unidos também passam a ver-se às voltas com os efeitos deletérios de uma economia mundial em recessão.

Eles estão de tal forma atrelados e dependentes do capitalismo mundial que a perspectiva mais realista é a de que morram abraçados. 

Paul Krugman, neste consistente artigo sobre a era Trump, denuncia o fracasso iminente das políticas do presidente destrumpelhado.

Diz ele que a política costuma ser desmentida pela economia. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (o Banco Central dos EUA), baixou as taxas de juros, sabedor que é das nuvens tenebrosas a ameaçarem a economia dos Estados Unidos aparentemente saudáveis aos olhos do público externo, e, implicitamente, detona o discurso triunfalista de Donald Trump.

Fanfarrão empedernido, o presidente dos Estados Unidos, diante da repercussão negativa decorrente de qualquer asneira anti-civilizacional por ele cometida (tal qual o seu discípulo submisso e incondicional do Brasil), logo saca sua arma predileta: o crescimento da economia estadunidense, uma das últimas ainda existentes no mundo. Mas os dados econômicos denunciam que ela não está tão sólida assim. 

O fanfarrão e seu discípulo submisso: igualados nas asneiras

Segundo Krugman: 

— a redução dos impostos não conseguiu alavancar o crescimento da economia estadunidense nos níveis prometidos e desejados, ao mesmo tempo em que fez aumentar expressivamente os níveis de sua dívida pública;
— o protecionismo direcionado para a China (do qual falamos acima) não reanimou a economia interna, vez que a importação de mercadorias, que tanto prejudica sua balança comercial, apenas mudou para outros fornecedores, indo para países como Vietnã e Índia; 
— a incerteza da política estadunidense, a partir de impulsos arrogantes e imprudentes (tais quais as do seu similar brasileiro), apenas gerou incertezas políticas incompatíveis com a confiabilidade que gostam de ter os investimentos industriais; 
— a proibição de importação de determinados produtos elevou os custos de produção internos de mercadorias, gerando um efeito inverso na balança comercial (as importações aumentaram) e pressão inflacionária.


A notícia mais recente desses mecanismos de reserva de mercado é a reedição para a América Latina da Doutrina Monroe [Lembram? Aquele da América para os americanos...], visando o combate ao comércio bilateral com a China que vem aumentando na região. Não é por menos que políticos alinhados aos Estados Unidos recebem apoios eleitoral, comercial e militar explícitos. A guerra de mercado nunca foi tão mundial como o é agora. 

De volta à Doutrina Monroe?!

A conclusão inevitável é a de que a grande nau do capitalismo mundial faz água e está a clamar por outro modo de produção, uma vez que matar gente para alavancar o crescimento (como ocorreu na 2ª Guerra Mundial) não é mais medida tão factível assim, num momento em que muitos países têm capacidade destrutiva de aniquilamento total da humanidade, o que desequilibra a balança da imposição da vontade do mais forte militarmente.


Não seria melhor assumirmos a necessidade de discussão de um pacto emancipacionista, que nos permitisse viver civilizadamente? (por Dalton Rosado)

BLOG NÁUGRAGO DA UTOPIA

Postar um comentário

0 Comentários