Passados quase sete meses desde a posse, o presidente Jair Bolsonaro ainda não conseguiu fazer a economia deslanchar. Não fosse o empenho do Congresso para a aprovação da reforma da Previdência, que melhorou a expectativa do mercado, o fracasso seria geral. Não bastassem os entraves criados para a Previdência, com a falta de articulação política e as críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, a algumas modificações no texto do Executivo, o Palácio do Planalto dá sinais de que está disposto a travar um grande embate sobre reforma tributária com o Legislativo, que saiu na frente e tem várias propostas em tramitação. Para evitar mais incertezas no mercado, será necessária a construção de uma boa base de apoio em torno da proposta do Executivo, que ainda não foi apresentada.
Em outras palavras, Bolsonaro continua prestigiado apenas pela base eleitoral que se mantém fiel a ele. Os votos “antipetistas” captados no segundo turno das eleições, entretanto, não se mantiveram. E Bolsonaro não tem se empenhado em reconquistar essa fatia perdida do eleitorado. Nas últimas três semanas, reforçou uma aproximação com as bancadas evangélica e ruralista — fiéis a ele desde o segundo turno das eleições —, em um processo que, politicamente, se mostra incapaz de dar respostas à economia.
Na prática, o presidente continua pregando só para aliados. Prestigiou ruralistas na solenidade alusiva aos 200 dias de governo, na quinta-feira, e se mantém próximo dos evangélicos, a ponto de ter ido a um culto na sede internacional da Sara Nossa Terra, em Brasília, na sexta-feira (19/7). Movimentos que intensificam as costuras feitas com esses dois grupos em cafés da manhã no Planalto e fora da agenda oficial, além de um culto na Câmara, em julho.
O problema, alertam aliados de dentro e fora desses dois grupos, é que as amarrações políticas construídas por Bolsonaro não pacificam a relação com as lideranças partidárias. A costura do Executivo com ruralistas e evangélicos mapeia lideranças do Centrão — bloco político composto por PP, PRB e PL — para compor com a articulação governista. Mas, até o momento, tudo está no campo das conversas e nenhuma postura mais enfática foi adotada para dar poderes a novos interlocutores que possam fazer esse arranjo.
Sem diálogo
Ao não expandir os interlocutores e continuar ouvindo apenas os fiéis mais próximos, Bolsonaro mantém a articulação estagnada, como durante a votação da reforma da Previdência, conduzida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). E nada disso é positivo para a economia. A reforma tributária desenhada pela equipe econômica, por exemplo, sequer vem sendo discutida abertamente com as lideranças partidárias. “Nenhum líder foi convidado para conhecer a reforma do governo”, critica o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO).
Por ora, o governo sinaliza como prioridades, para estimular a economia, um modelo de saques anuais do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), pondo fim ao saque automático nas demissões sem justa causa. Ontem, Bolsonaro disse que os pequenos acertos dessa medida serão feitos nesta semana com a equipe econômica.
A reforma tributária é uma outra vertente, conduzida à revelia do Congresso. “Na última reunião de ministros, foi decidido que vamos mandar em agosto, onde trataremos (da unificação) dos tributos federais, apenas. Ao longo de meus 28 anos (no Parlamento), quando se quis fazer reforma tributária onde estaria União, estados e municípios, não deu certo. Serve para palanque, discurso, e não se chega a lugar nenhum. Nós vamos fazer nossa parte e os estados e municípios que, porventura, acharem que sua lei que trata desse assunto está equivocada, que o faça”, declarou Bolsonaro na sexta-feira.
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